O novo livro de José Luís Peixoto chama-se Galveias, em homenagem à localidade alentejana onde o escritor nasceu há 40 anos, e pretende defender “a realidade do interior de Portugal, onde há problemas bastante graves”.

Em declarações à agência Lusa, o escritor, que celebrou na quinta-feira o 40º aniversário, falou pela primeira sobre o novo livro, que deverá ser lançado no mercado a 10 de outubro com chancela da Quetzal, do Grupo Bertrand Círculo.”Galveias é bastante especial para mim porque é a vila onde nasci, passei a minha infância e adolescência. Já tinha escrito alguns textos com esse título, mas agora trata-se de um romance” passado na vila alentejana do concelho de Ponte de Sor, distrito de Portalegre.

José Luís Peixoto, cujo último romance data de 2010, Livro, distinguido em 2013 em Itália com o Prémio Libro d’ Europa, sublinhou que, embora exista uma referência pessoal muito forte pela ligação que tem à vila, não se trata de uma obra autobiográfica. “Possui muitos elementos autobiográficos porque a maioria da ação se passa em Galveias, localidade das minhas memórias e experiências de infância, mas é um lugar multidimensional e é nesse aspeto que gostaria que fosse entendido”, apontou.

Para o escritor, que não quis para já avançar o enredo, o mais importante do livro “é sublinhar o valor da ruralidade para a identidade da cultura de um país”. “Tenho dois filhos, um com 17 anos e outro com dez, e concluo que tive uma infância totalmente diferente da deles: vivi numa pequena localidade, que me proporcionou experiências especiais, pela proximidade da natureza e de privar com pessoas mais velhas. Isso foi uma vantagem e uma riqueza que eu quis celebrar neste livro”, salientou.

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O escritor quis prestar homenagem à vila e aos seus habitantes e, ao mesmo tempo, descrever “uma realidade que contém elementos importantíssimos da portugalidade que deve ser lembrada, afirmada e defendida”. “O interior do país sofre de problemas bastante graves, aos quais temos de prestar atenção e tentar reverter. Os habitantes dessas localidades mais pequenas, que enfrentam o desemprego e o envelhecimento da população, não têm instrumentos para o fazer sozinhos”, sustentou o autor, que se estreou com o romance Morreste-me, em 2000.

Sobre esta localidade alentejana em particular, apontou que, em 40 anos, perdeu metade dos habitantes, passando de dois mil para os atuais mil. Em Galveias, cuja ação decorre em 1984, José Luís Peixoto procura “fazer o retrato humano da vida de uma pequena vila, com uma teia de relações que formam o coletivo”.

Questionado pela Lusa sobre se os habitantes poderão rever-se nos personagens do livro, o escritor disse que a obra “tem pessoas simbólicas e evoca uma realidade que se encontra um pouco por todo o país”. “Espero que as pessoas de Galveias sintam o livro como uma homenagem ao lugar, que tem o tamanho de um romance”, considerou o autor de Nenhum Olhar.

Escritor, dramaturgo e poeta, José Luís Peixoto publicou, em 2012, Dentro do Segredo – Uma viagem na Coreia do Norte, na sequência de uma viagem àquele país asiático.