A DeGiro, a corretora holandesa que pretende expandir-se para toda a União Europeia, abre nesta sexta-feira os seus serviços aos investidores portugueses com um promessa: reduzir drasticamente os custos de bolsa. As comissões de negociação são até 94% mais baratas do que as cobradas pela concorrência, mostra o seu portal.

Gijs Nagel, diretor da DeGiro, estima que os intermediários financeiros portugueses não aguentarão a pressão, tal como a maioria dos corretores europeus, por serem “dinossauros” em termos de eficiência. Ele estima que, dentro de cinco anos, haverá apenas cinco corretoras de escala europeia. “Dificilmente alguma será portuguesa, mas dependerá da reação” à entrada da DeGiro. Uma reação esperada pelo diretor é a fusão de intermediários financeiros. Nagel conta entre as corretoras potencialmente sobreviventes na Europa a norte-americana Interactive Brokers e o dinamarquês Saxo Bank, além da DeGiro.

Embora indiretamente, muitos investidores portugueses já são próximos do Saxo Bank, porque a sua plataforma é a usada pelos clientes do Banco Best, do Banco Carregosa, da Dif Broker e da Orey Financial. Estes são simultaneamente os intermediários financeiros portugueses mais económicos, segundo a última análise da Proteste Investe, a publicação financeira ligada à Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor.

Comissões em versão mini

Gijs Nagel explica que a DeGiro cobra as comissões que normalmente são aplicadas aos grandes investidores, como os gestores de ativos. “A pergunta não deve ser como nós conseguimos pagar tão pouco, mas porque cobram os outros tanto”, salienta. Ele explica que um negócio na Euronext Lisbon de dez mil euros custa à DeGiro um euro e que ela cobra 4,5 euros aos clientes. “É uma boa margem de lucro!”, exclama Nagel. E acrescenta: “Não sei como há quem cobre 50 euros”, apontando para a portuense Golden Broker.

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As comissões cobradas pela DeGiro são iguais para todos os seus clientes nos nove países onde já está presente, exceto nas operações nas bolsas locais. Em Portugal, nas operações até 50 mil euros, a comissão é de 50 cêntimos acrescidos de 0,04% do valor do negócio. A soma tem um valor máximo de cinco euros.

A estrutura de comissões significa que uma compra cinco mil euros na bolsa alfacinha custa 2,5 euros, o mesmo valor que a comissão mais baixa praticada até agora em Portugal. O Banco Carregosa, através do preçário GoBulling Web, aplica uma comissão mínima de 2,5 euros às ações lisboetas. Contudo, se a ordem for executada em mais do que um negócio, este custo aumenta, colocando a DeGiro em vantagem. Para comparação, a Caixa Geral de Depósitos, o maior banco português, cobra uma comissão fixa de 10,61 euros numa ordem de cinco mil euros na bolsa nacional colocada através da Internet.

Gijs Nagel, diretor da DeGiro.

Gijs Nagel, diretor da DeGiro: “Queremos os 10% de investidores responsáveis por 90% das transações.” Imagem: André Correia.

Grandes descontos lá fora

É nos negócios fora da Europa que se notam as maiores diferenças. O Millennium bcp, o segundo maior banco nacional, cobra 20 euros nas operações via Internet até dez mil euros nas bolsas norte-americanas. (A Caixa Geral de Depósitos não oferece o acesso a estas bolsas através da Internet.) A DeGiro calcula que a compra de dez mil euros em ações da Google custem 0,58 euros aos seus clientes.

Gijs Nagel revela que os clientes dos grandes bancos não são o primeiro alvo de captação da DeGiro. “Queremos os 10% de investidores responsáveis por 90% das transações”, avisa o diretor. Ele estima que são entre 50 e 90 mil portugueses que são clientes dos intermediários nacionais mais baratos.

Embora seja holandesa, a DeGiro está registada na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a supervisora nacional do mercado de capitais, para exercer a atividade de intermediação financeira em regime de livre prestação de serviços.

O objetivo da DeGiro é alcançar uma quota de mercado em Portugal de 25% nos próximos anos. Embora seja superior à maior quota de mercado atualmente (o Banco BPI recebeu 22,3% do valor das ordens online nos primeiros oito meses do ano, segundo a CMVM), Nagel diz que não é um objetivo demasiado ambicioso, porque nunca foram apresentadas comissões tão baixas por cá.

Os mercados acessíveis a partir da plataforma web da DeGiro (que, antes do final do ano, terá uma versão móvel) são muitos – desde Lisboa até Sidney, passando por Istambul e Tóquio – e está em expansão. Até 2015 entrar, a corretora adicionará acesso direto a bolsas até agora remotas, como as localizadas na Coreia do Sul, Egito, Índia, Malásia, Nigéria, Nova Zelândia e Vietname.

Não há conta à ordem

O processo de abertura de conta é “o mais simples possível”, explica Gijs Nagel, que estima que dez minutos na Internet são suficientes. Depois de preencher um formulário, basta uma transferência de um banco português para a conta ficar ativa. Não é preciso enviar cópias de cartões de identidade nem comprovativos de morada ou de residência, porque a identificação que acompanha a transferência bancária é suficiente. A única limitação, segundo o diretor, é quando se quer repatriar os capitais investidos: apenas podem ir para a conta que fez a transferência original.

Embora seja a DeGiro a executar as ordens de investimento, é a Stichting DeGiro, um veículo de custódia, que guarda os ativos através de contas em dois grandes bancos, um holandês e outro norte-americano. O veículo, criado ao abrigo de legislação especial dos Países Baixos, aproxima-se da estrutura de uma fundação em Portugal. A Stichting DeGiro permite separar os ativos dos clientes dos ativos da corretora. Em caso de falência da DeGiro, “a fundação assegura que os ativos dos clientes estão seguros”, explica Gijs Nagel.

O dinheiro que não é imediatamente aplicado em instrumento financeiros não ficam numa conta à ordem: são direcionados automaticamente para um fundo de baixo risco. Este fundo garante um rendimento equivalente à Eonia, a taxa interbancária da zona euro para aplicações de um dia, deduzida de 0,25%. Atualmente, esta fórmula resulta num valor negativo, mas Gijs Nagel garante que, nestas situações, o rendimento é nulo.

O diretor da DeGiro afirma que este esquema é mais seguro do que deixar o dinheiro à ordem no banco, porque a participação dos investidores no fundo de baixo risco também é adquirida através da Stichting DeGiro.

Embora a participação no fundo seja detida pelo veículo de custódia, o risco é dos investidores. Segundo o prospeto, o fundo, na sua versão em euros, investe em obrigações de estados e de empresas de rating elevado e em depósitos bancários. Porém, mesmo que o fundo apresente perdas, a entidade gestora, a HiQ Invest, que, tal como a DeGiro, pertence ao grupo LPE Capital, cobre os prejuízos para os investidores não serem prejudicados, garante Gijs Nagel. O diretor da DeGiro, que também dirige a LPE Capital e a HiQ Invest, garante outra coisa: o fundo que elimina a necessidade de ter contas à ordem não é alvo de qualquer tipo de comissão.