Acabar com os estigmas associados ao cancro da mama e desafiar a capacidade de nos tornarmos mais fortes e focados face à doença. Estes foram apenas dois dos fatores que motivaram o documentarista Koen Suidgeest a deixar a câmara de filmar de lado e a fotografar cerca de 200 mulheres que vivem com cancro da mama. “Não é muito diferente de um documentário”, disse o artista holandês ao Observador. 28 fotografias de 27 dessas mulheres mostram-se a partir desta quinta-feira, no Lisboa Story Centre, com entrada livre.

Não é fácil ver expostos corpos que sofreram com um tipo de cancro que, segundo a Liga Portuguesa Contra o Cancro, mata 1.500 pessoas por ano em Portugal. Mas, ao contrário do que se possa pensar, Koen Suidgeest não teve dificuldade em convencer 200 mulheres a mostrarem as marcas de tal provação. “Não foi difícil. No geral, as pessoas foram muito recetivas, quer fossem pacientes ou familiares”, disse. Durante as sessões, “algumas até disseram que era uma experiência libertadora, como uma parte do processo de aceitação da sua própria realidade”.

Mas admite que estava muito nervoso quando tirou as primeiras fotografias, na capital espanhola, onde morava. Nunca tinha fotografado nus, nem sequer tinha feito nenhuma exposição de fotografia na vida. Tudo o que sabia era que, por elas terem sido tão generosas ao emprestarem a sua imagem para uma fotografia, tinha de levar o projeto a bom porto. Após algumas exposições em Espanha, “Costuras à flor da pele” tem a sua primeira internacionalização em Lisboa.

“Ainda há tabus a quebrar”, diz. “O cancro é um assunto sensível e difícil de falar, mas está presente em todas as famílias”. Esteve presente na do próprio fotógrafo quando ainda era criança, o que o tornou especialmente atento ao tema. E ao facto de que, apesar da força interior dos pacientes que estão a batalhar para voltarem a ser saudáveis, todo o processo está rodeado de tabus.

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“As cicatrizes são um tabu, sobretudo no corpo feminino. O cancro em si é muitas vezes um tema difícil de falar entre amigos e família. Estes são alguns dos elementos que eu gostava de discutir e de quebrar com estas imagens”.

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©Koen Suidgeest

Até agora, a reação de quem viu as fotografias foi “extremamente positiva”, afirmou o agora fotógrafo. “A maior parte dos comentários que recebo são sobre o fitar, a atitude, a forma de olhar de alguma destas mulheres. Isso deixa-me muito feliz porque o projeto é sobre isso. Eu não quero mostrar cicatrizes, mas sim a força perante as cicatrizes”, explicou. Mais familiarizado com o documentário, o holandês vê semelhanças entre os dois projetos.

“As imagens também são para observar, são diretas, sem decorações nem elementos artificiais, e contam certamente uma história. Uma história social. Todos os meus projetos têm isso em comum”.

Às vezes, a melhor imagem era captada depois de a sessão acabar. Foi o caso de Paloma, que Koen fotografou mas que no final sentiu que ainda não tinha captado a sua verdadeira essência Até que ela se começou a vestir. “E subitamente visualizei a fotografia. Pedi-lhe para parar e tirei-lhe mais duas ou três fotografias”. Uma delas tornou-se muito especial para o fotógrafo. Essa e outras vão poder ser vistas a partir desta quinta-feira, às 17h00, no espaço situado no Terreiro do Paço. “Costuras à flor da pele” pode ser visitada até dia 20 de novembro, todos os dias entre as 10h00 e as 20h00. A entrada é gratuita e, por cada pessoa que entrar, a empresa patrocinadora Sanofi vai doar um euro à Liga Portuguesa Contra o Cancro.