O líder da claque “Super Dragões”, Fernando Madureira, é um dos 87 arguidos acusados do crime de participação em rixa ocorrida antes do início de um jogo do Porto com o Sporting, no Estádio do Dragão. Entre os arguidos, que segundo a acusação alguns integram claques dos dois clubes desportivos e que vieram de vários pontos do País, há um soldado da GNR. Não houve provas suficientes para acusar os arguidos de crimes de dano e ofensas à integridade física.
Segundo o despacho de acusação, a que o Observador teve acesso, a investigação foi feita pela Divisão de Investigação Criminal da PSP do Porto. A polícia estava no local, naquele dia 27 de outubro de 2013, quando adeptos do Porto e do Sporting entraram em confrontos provocando o caos e o “alarme social”.
Ainda não tinha começado o jogo para a Liga Zon Sagres, marcado para as 19h45, e os confrontos já faziam vítimas: elementos da PSP e alguns adeptos ficaram feridos e tiveram que ser assistidos no hospital.
A PSP monitoriza todas as deslocações de grupos organizados de claques. E o jogo em causa era considerado de risco elevado. Naquele dia sabia que várias viaturas particulares partiriam de Lisboa, da Margem Sul e da estação de serviço de Santarém rumo ao ponto de encontro: um restaurante em Vila Nova de Gaia. Eram todos adeptos do Sporting, alguns ligados aos Casual – um grupo de adeptos que a polícia tem referenciado como violentos. Estão ligados a grupos de “extrema-direita” e terão origem no grupo 1143, também ele de extrema-direita.
“Estes sub-grupos não integram os grupos organizados de adeptos com vista a subtrair-se à vigilância policial e deste modo podem atuar de forma violenta nos recintos desportivos (…), sendo que o conjunto de elementos quando se dirigem aos jogos não é inferior a cerca de 100 pessoas”, refere a acusação.
Eram 17h00 quando os apoiantes do Sporting estacionaram as viaturas em Paranhos, a cerca de 20 minutos a pé do Estádio do Dragão. Todos eles “vestindo roupa escuras e sem quaisquer sinais clubísticos, percorreram apeados diversas artérias” rumo ao local do jogo.
“Esta concentração do elevado número de pessoas que trajavam roupas escuras e sem sinais distintivos (…) provocou receio nas pessoas que residem nas zonas percorridas pelo grupo que alarmadas e com receio, cerca das 17h30, comunicaram a situação à PSP”.
Por razões de segurança as claques de um e outro clube tinham portas de acesso ao estádio em locais completamente opostos. Na porta 21, destinadas aos verdes, concentraram-se cerca de 100 pessoas, entre elas os adeptos trajados de negro. Todos entoavam cânticos do Sporting quando começaram a acelerar o passo e a correr em direção ao perímetro de segurança. O grupo ainda tentou quebrar o cordão policial, mas foi obrigado a recuar.
Um outro grupo de mais de 20 adeptos do Porto, entre eles o líder dos Dragões, estava nas proximidades. E foi por esta altura que adeptos e uma e outra cor começaram a trocar insultos. Houve confrontos verbais e físicos.
Os arguidos “em força e por arrastão dirigem-se para a Porta 25, situada ao lado direito, tendo derrubado as barreiras metálicas, situadas a cerca de dez metros do controlo e tentaram forçar a entrada no estádio e impedir o controlo dos bilhetes e a revista”.
Por esta altura, os apoiantes do Porto arremessaram garrafas de vidro e pedras contra os adeptos do SCP tendo atingido dois agentes da PSP. Outros elementos da PSP que acompanharam o “arrastão” conseguiram dominar os adeptos, impedi-los de entrar no estádio e agrupar e identificar todos os envolvidos. Foram mais de 100 pessoas identificadas. Só depois da investigação a Polícia percebeu que cerca de metade dos adeptos do Sporting não tinham sequer bilhete de ingresso.
Ainda assim, pouco depois, um grupo de adeptos do Porto entrou num centro comercial nas proximidades na tentativa de “perseguirem adeptos do Sporting”. Geraram o “pânico”, diz a acusação. Na sequência deste episódio, 15 arguidos sofreram lesões corporais. A PSP não conseguiu determinar a autoria das agressões.
Os arguidos, todos acusados de um crime de participação em rixa na deslocação para espetáculo desportivo, quiseram “envolver-se em agressões físicas e verbais criando um grande alarme social”.
Na acusação admite-se que alguns adeptos tenham, no meio da confusão, entrado no estádio e provocado mais atos de violência. Houve oito queixas que acabaram arquivadas por falta de prova.
Entre as queixas está a do advogado do próprio Futebol Clube do Porto, que acabou arquivada na parte referente ao “dano”. Isto porque não foram referidos valores dos danos em causa nem se apurou quem seriam os autores desses danos.
Também a própria família de Fernando Madureira, o líder dos Dragões arguido no processo, que explora um espaço de venda ambulante no estádio apresentou queixa. A PSP não considerou a queixa verosímil porque os depoimentos apenas falavam de adeptos do Sporting.
Os arguidos encontram-se todos em liberdade à espera de julgamento. O Ministério Público já requereu que fossem impedidos de entrar em recintos desportivos.