Ponto de encontro com Gregório Duvivier e Ian SBF, do Porta dos Fundos: o mesmo hotel lisboeta onde o Observador entrevistou Fábio Porchat, Marcos Veras e Rafael Infante em julho do ano passado, ainda o Brasil acreditava que podia ganhar o Mundial de futebol e os humoristas se questionavam como seria a estreia televisiva na Fox. O momento da verdade chega na terça-feira, 17 de fevereiro, dia de Carnaval, com a estreia do grupo brasileiro na TV portuguesa.

Tanto Gregório Duvivier como o realizador Ian SBF não poupam elogios ao canal que os fez quebrar a promessa de nunca ir para a televisão, mas admitem que se sentem vingados. Em primeiro lugar porque antes de se apresentarem como Porta dos Fundos na Internet, os fundadores do grupo tentaram entrar na TV. Em segundo lugar porque foi precisamente a Fox quem os recusou. “Ficou caro, né Greg?”, perguntou Ian a sorrir. “É”, respondeu Gregório, um dos fundadores do grupo. “É muito comum apresentar-se uma coisa à TV no começo e depois ela compra muito mais caro”. Por isso, “um conselho para você, jovem executivo de televisão: comprem logo antes que fique caro!“.

Para além de terem conseguido a proeza de ser a primeira vez que a Fox aposta num conteúdo em português, o melhor de tudo é que Ian garante que não houve qualquer censura na passagem para a TV, nem sequer autocensura. “Todos os vídeos que já fizemos vão passar na Fox. Só podíamos ir para a TV se não houvesse censura”, disse. E acrescentou que fizeram pior. “As costuras que o Gabriel Esteves escreveu são piores, eu tenho até vergonha às vezes do que estamos a fazer na Fox, nem sei como é que isto vai para o ar, juro“. Ian e Gregório não sabiam o que é “bolinha vermelha” na televisão mas, quando o Observador explicou, concordaram que talvez fosse boa ideia. A Fox ainda vai averiguar se, por questões legais, algumas das cenas e da linguagem usada pelo Porta dos Fundos requerem o aviso para maiores de 18 anos.

A receção no Brasil, em outubro, não convenceu imediatamente. Para Ian, o que aconteceu foi que “as pessoas estavam à espera de uma série original, nova. Não entenderam que o nosso primeiro projeto era colocar os vídeos do Youtube na Fox. Mas acho que agora já entenderam e gostam de ver de novo. O programa está a correr super bem”. E como qualquer grupo que começou com meios próprios numa plataforma livre, como a Internet, logo vieram as acusações de que o grupo se estava a vender à máquina. “Quem diz isso não deixa de estar certo porque nós vendemos o nosso conteúdo para a televisão”, disse um divertido Ian. Bem diferente de “se descaracterizar”, completou Gregório.

Ao todo, os fãs portugueses vão poder ver 26 episódios, cada um com cerca de meia hora. Cada episódio contém sketches que o grupo fez para a Internet, mas com uma novidade: a fazer a passagem entre eles estará Gabriel Totoro, com textos escritos propositadamente para a Fox. Depois da estreia no dia de Carnaval, os episódios irão sempre para o ar às segundas-feiras, às 23h10.

Atualmente com quase 50 pessoas, a empresa Porta dos Fundos cada vez se afirma mais como produtora de conteúdos, seja para Internet, cinema, teatro ou televisão, dizem. Não é a plataforma que interessa, é o conteúdo. “Fazemos humor para sermos engraçados”, explicaram. Ainda este ano vão lançar uma série original na Fox e um filme, que António Tabet referiu no passado poder ser uma espécie de Game of Thrones brasileiro, mas sobre o qual não quiseram adiantar mais nada (e sem que haja qualquer garantia de que Tabet estivesse a falar a sério). “Eu acho que a surpresa é um dos ingredientes do Porta”, disse Gregório Duvivier ao Observador. Para 2016 têm planeada uma série de animação para o mesmo canal.

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