A atriz francesa Catherine Deneuve e o produtor português Paulo Branco recordaram Manoel de Oliveira como um homem “muito especial” e “o grande cineasta nacional”, em declarações ao jornal francês Libération.

“Por vezes de uma dureza incrível, os seus filmes tinham uma personalidade muito particular”, afirmou Catherine Deneuve.

A atriz francesa destacou a marca do cineasta português, ao recordar as filmagens de “O Convento” (1995), no qual contracenou com o ator John Malkovich.

“Manoel de Oliveira era muito especial, por vezes sedutor e autoritário, muitas vezes encantador. Acima de tudo, ele tinha algo de artista, ele trabalhava sem parar nos seus filmes, impunha a sua visão na criação completa”, descreveu.

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A atriz recordou também o entusiamo do realizador português: “Ele rejubilava quando tinha uma ideia. Era preciso obedecer-lhe e fazer o que ele queria. Vi-o interromper as filmagens porque faltava um acessório para uma cena. Durante várias horas esperámos que o objeto chegasse, para que a sua visão ficasse completa. Não há muitos cineastas que se possam dar ao luxo de trabalhar assim”.

Paulo Branco, produtor de vários filmes de Manoel de Oliveira, incluindo “Francisca” e “Vale Abraão” é também citado no artigo do Libération, publicado na respetiva edição online.

“Para mim, ele era o nosso grande cineasta nacional, que começou nos anos 30, com “Douro” (1931), um filme sublime”, afirmou Paulo Branco.

“Devo-lhe tudo. Cada filme era uma aventura em si mesmo”, acrescentou.

Paulo Branco afirmou também que o reconhecimento do cineasta “foi mais internacional”.

“Em Portugal, as pessoas nem sempre gostam de se identificar com o seu cinema, que estava muito ligado à cultura portuguesa; ele compreendia o país de uma forma incrível, mas não o transgredia com a mediocridade, ele era contra o que se fazia na produção atual. Há uma frase de João César Monteiro resume tudo: “A obra de Manoel de Oliveira é demasiado grande para Portugal ou o país é muito pequeno para a sua obra”, acrescentou.

Também ouvido pelo Libération, o diretor português João Pedro Rodrigues disse ter sido “muito influenciado por seu trabalho”, apesar de nunca ter tido uma relação pessoal com Manoel de Oliveira.

“Foi um dos maiores cineastas do mundo. (…) Ele fez muito pelo nosso cinema”, afirmou.

João Pedro Rodrigues sublinhou que o cineasta português nem sempre foi aclamado pela crítica. “Durante algum tempo, ele não conseguiu fazer filmes, os produtores não o apoiavam. Foi preciso esperar pela fama mundial para que Portugal finalmente o reconhecesse como um gigante. É escandaloso, mas é assim. É preciso que os génios ultrapassem fronteiras para que as pessoas os reconheçam”.

O Libération recolheu ainda o depoimento do ator francês Michael Lonsdale, que participou no filme “O Gebo e a Sombra” (2012). “Estou muito triste. Eu sonhei trabalhar com ele durante muitos anos, e fiquei realmente feliz quando isso finalmente aconteceu”.

Manoel Cândido Pinto de Oliveira, nascido a 11 de dezembro de 1908, no Porto, era o mais velho realizador do mundo em atividade e faleceu na quinta-feira, em sua casa, no Porto.

O último filme do cineasta foi a curta-metragem “O velho do Restelo”, “uma reflexão sobre a Humanidade”, estreada em dezembro passado, por ocasião do 106.º aniversário do cineasta.

O funeral de Manoel de Oliveira realiza-se sexta-feira, às 15h00, na igreja de Cristo Rei, no Porto, estando o corpo a partir de hoje, às 18h00, no salão do Convento dos Padres Dominicanos.