O capitão de abril Vasco Lourenço afirmou este sábado que, se PSD e CDS-PP estiverem “satisfeitos com a porcaria que têm feito”, devem continuar juntos, acrescentando não perceber se os dois partidos do Governo acreditam numa “votação maioritária” nas legislativas.
A reação de Vasco Lourenço surge depois de o PSD e o CDS-PP terem anunciado que vão, este sábado, fazer uma declaração conjunta ao país sobre a coligação. O presidente da Associação 25 de abril descia a avenida da Liberdade, onde decorre a tradicional marcha do 25 de abril, que junta, mais uma vez, milhares de pessoas. No arranque do desfile a partir do Marquês de Pombal, por volta das 15h30, cantou-se o “Grândola Vila Morena”, junto à chaimite que seguia na frente do desfile.
“Problema deles. Se eles acharem que estão satisfeitos com a porcaria que têm feito ao longo destes anos no Governo, então que continuem juntos e que continuem a fazer asneiras”, disse Vasco Lourenço. “É um problema da sociedade portuguesa, é um problema português, mas infelizmente é o que temos. Não percebo como é que, depois de tantas asneiras que fizeram ao longo destes quatro anos no Governo, ainda digam que têm hipótese de ter uma votação maioritária. Mas deixem-nos sonhar, o sonho é livre.”
Já quanto ao dia escolhido para fazer a comunicação conjunta, quando se cumprem os 41 anos da Revolução dos Cravos, Vasco Lourenço disse apenas que “há muita gente que tenta explorar o 25 de abril de muitas maneiras, até aqueles que são na prática e no dia-a-dia contra o 25 de abril”, sublinhando, porém, que “a liberdade em Portugal existe” e, por isso, “são livres de o fazer”.
Vasco Lourenço entende que, atualmente, há “muito mais desencanto”, porque, em 1974, “as pessoas acreditaram” e “a sociedade portuguesa avançou extraordinariamente no seu desenvolvimento” e “agora [as pessoas] estão desiludidas com estas políticas”.
“Quem está no poder dá a sensação que está a comportar-se como os herdeiros dos que foram vencidos no 25 de abril, está numa senda vingativa a tentar destruir tudo o que tem que ver com o 25 de abril.”
O capitão de abril foi também questionado sobre a proposta avançada pelo PSD/CDS e pelo PS com regras para a cobertura noticiosa em período eleitoral, considerando que “é incompreensível como no Portugal de Abril, passados 41 anos, haja ideias desse tipo”. “Pôr essa hipótese é absolutamente incompreensível. Ainda por cima, parece que foi uma deputada do PS. Deve estar tudo louco! Sou totalmente contra essa hipótese, independentemente de muitas vezes estar em desacordo com a atuação dos órgãos de comunicação social. Agora liberdades… por amor de Deus.”
Jerónimo de Sousa: Abril está a cumprir, a política de direita é que não
O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, também se juntou ao desfile defendendo que os valores de Abril “perspetivaram outro caminho, um caminho de confiança e de esperança” e concluiu que “Abril está atual, os seus valores atuais e [que] é preciso recuperá-los”.
“Abril está a cumprir, a política de direita é que não. Nestes 41 anos de avanços, de conquistas, de recuos e de derrotas, o que a vida demonstra, tendo em conta a situação do país e a situação de milhões de portugueses empobrecidos, explorados e desempregados, é que é preciso trazer para a ordem do dia os valores de Abril.”
Sobre o anúncio da coligação PSD/CDS que será feito este sábado às 20 horas, o comunista disse que não vai comentar “um facto que ainda não existiu”, remetendo para domingo um comentário sobre este assunto, afirmando apenas que “a direita vai fazer todos os esforços para se salvar de uma previsível derrota pesada, que vai acontecer nas legislativas”.
Catarina Martins: povo contesta destruição das conquistas do 25 de abril
No desfile estava também Catarina Martins, porta-voz do Bloco de Esquerda, onde afirmou que quem celebra o 25 de abril “protesta também pela destruição feita às conquistas” de 1974, considerando que Portugal está a comemorar a “capacidade para fazer tudo outra vez”.
A deputada bloquista disse que este “é um dia para celebrar a capacidade que este povo tem para, nos momentos mais difíceis, fazer o que é preciso para defender a dignidade” e que, “40 anos depois, quem celebra o 25 de abril é certo que protesta também pela destruição feita às conquistas do 25 de Abril”, destacando o Serviço Nacional de Saúde, a Escola Pública e a Segurança Social.
“Agora que Portugal está a viver momentos tão difíceis, com tanta desigualdade, que está a perder gente a cada dia, com tão poucas respostas, sabemos que este é também o ano de termos essa força de, com convicção e clareza das propostas políticas, reconstruirmos tanto do que foi destruído e de reinventarmos a democracia, porque este é um país onde queremos viver, de pé e de cabeça erguida”, afirmou ainda Catarina Martins.