Depois da frase “o problema não és tu, sou eu”, a expressão “podemos ser amigos” deve ser a segunda mais ouvida aquando do fim de um relacionamento. Embora muitas vezes essa afirmação possa ser sincera, há outras em que possivelmente é apenas uma forma de não causar mais dor.

Por mais nobel que seja a intenção, a verdade é que são raros os casais que mantêm uma relação de amizade quando o namoro acaba. Segundo um inquérito aos consumidores feito pela Google, 42,4 por cento das pessoas raramente ficam amigas de um ex-parceiro ou parceira. Já um inquérito feito em 2004 pela NBC tinha mostrado que apenas 48 por cento das pessoas tinham conseguido manter uma relação de amizade depois do fim do namoro.

O que pode contrariar os números? Um estudo recente mostrou que as relações que têm mais potencial para evoluir para uma amizade quando chegam ao fim são aquelas em que havia um maior compromisso de parte a parte. Quando as pessoas lutam para manter uma relação e o romance acaba por se perder, isso não significa que as pessoas tenham de cortar relações por completo. E é o compromisso que leva a uma aproximação das duas partes quando a relação termina.

O estudo, publicado no Journal of Social and Personal Relationships, incidiu sobre um grupo de heterossexuais com idades compreendidas entre os 18 e os 30 anos — 49 por cento não mantinham relações sérias, 46 por cento mantinham relações sérias e cinco por cento estavam noivos. Todos foram entrevistados de quatro em quatro meses ao longo de um ano, e foram avaliados consoante a qualidade das relações. Os itens tidos em conta foram: satisfação, investimento, compromisso e alternativas disponíveis.

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Os participantes que aquando da segunda entrevista já tinham acabado as respetivas relações, continuaram a ser acompanhados pelos autores do estudo, para que assim pudessem saber quantas vezes os membros do ex-casal comunicavam e que sentimentos positivos ou negativos nutriam um pelo outro.

Após um ano, os indivíduos com maior probabilidade de continuarem em contacto com os antigos parceiros foram aqueles que foram avaliados como tendo um grande nível de investimento na relação, uma maior satisfação e poucas alternativas disponíveis mas, acima de tudo, aqueles com um nível mais elevado de compromisso.

Kenneth Tan, da Universidade de Purdue e um dos co-autores do estudo, disse à Mic que “comprometer-se com o seu parceiro significa ser íntimo e apegado e desejar que a relação se mantenha no futuro”, acrescentando que “quando o romance acaba, os sentimentos de compromisso não se limitam a desaparecer. Parceiros que acabaram por depender um do outro sentir-se-ão relutantes em perder tanto as ligações tangíveis (amigos em comum), como as intangíveis (elos de ligação emocionais) que foram construindo no decorrer da relação.”

O investigador diz que “estudos anteriores mostraram que as amizades após o fim de um relacionamento têm mais hipóteses de vingar caso o casal já tivesse uma relação de amizade antes de começar a namorar”, sublinhando que “uma vez que a amizade é uma componente importante numa relação amorosa, acreditamos que se tiverem sido amigos antes do fim do namoro, o mais provável é que continuem a ser”.

O objetivo passa por comprometer-se com a pessoa em si e não com o rótulo de namorado ou namorada. Só assim não vai querer perder essa pessoa mesmo quando o relacionamento acabar. Se acabar uma relação e pretender iniciar ou dar continuidade a uma amizade, o melhor que tem a fazer é esperar que ambos ponham as ideias em ordem — assim evitam que acabem por se magoar ainda mais.