Patrick Dickie foi o escolhido pela tutela para ser consultor artístico do Teatro Nacional de São Carlos (TNSC). Juntamente com a maestrina Joana Carneiro, delineou a nova temporada, apresentada esta quinta-feira. Entre os destaques está a ópera “Madama Butterfly”, de Giacomo Puccini, e o bailado “A Bela Adormecida”, de Tchaikovski, com Marcelino Sambé, do Royal Ballet de Londres, como bailarino convidado.

Produtor britânico residente em Londres, Patrick Dickie é consultor da English National Opera, com a qual começou a colaborar com 23 anos. Atualmente com 46, é também consultor do projeto Aldeburgh Music. Enquanto produtor do Festival Almeida Opera, organizado pelo teatro londrino com o mesmo nome, trabalhou em mais de 40 novas produções de ópera e musicais, incluindo 16 estreias mundiais.

O novo consultor passou o mês de julho a viajar com frequência para Lisboa, por causa da colaboração com o São Carlos, e o contrato é válido por um ano, disse ao Observador, por e-mail. Substitui o italiano Paolo Pinamonti, que em 2014 foi escolhido por Barreto Xavier para o cargo. O contrato com Pinamonti era de três anos, mas problemas com a relação contratual e incompatibilidade com o Teatro de la Zarzuela obrigaram o musicólogo a demitir-se, em dezembro. Daqui resultou mais uma demissão, a de José António Falcão, que Barreto Xavier decidiu substituir por José de Monterroso Teixeira.

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“É preciso escolher um diretor artístico em permanência para fazer as temporadas com tempo, conhecendo mais profundamente aquilo que é o TNSC”, disse Joana Carneiro. ©Sebastião Almeida/Observador

“A relação com Patrick Dickie na construção desta temporada correu muito bem”, disse Joana Carneiro ao Observador. Mas a também consultora artística lembra que esta não é a solução ideal para o único teatro de ópera em Portugal. “É preciso escolher um diretor artístico em permanência para fazer as temporadas com tempo, conhecendo mais profundamente aquilo que é o Teatro Nacional de São Carlos”. O que poderá acontecer muito em breve. O Gabinete do Secretário de Estado da Cultura acaba de informar que vai abrir, em agosto, um concurso internacional para escolher um diretor artístico. No entanto, “a decisão de nomeação da Direção Artística do TNSC será tomada pelo próximo Governo, podendo ela ser diversa das recomendações apresentadas”, pode ler-se no comunicado.

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Cinco óperas e dois bailados na nova temporada do São Carlos

O orçamento para a temporada de 2015/2016 foi de 1,850 milhões de euros. Mais 150 mil euros do que no ano passado. A ópera que inaugura a temporada lírica do teatro é “Madama Butterfly”, tragédia japonesa de Giacomo Puccini, aqui com produção da britânica Opera North em dois atos. A coreana Hey Youn Lee dará corpo e voz a Madama Butterfly. Com direção musical de Domenico Longo e encenação de Tim Albery, vai poder ser vista entre 20 de outubro e 1 de novembro.

MADAMA BUTTERFLY - Puccini Opera North Leeds Grand Theatre 070913 Cio-Cio-San - Anne Sophie Duprels ** Suzuki - Ann Taylor Lieutenant Pinkerton - Rafael Rojas Goro - Alasdair Elliott Sharpless - Peter Savidge Imperial Commissioner - Stephen Dowson Official Registrar - A Galloway Bell The Bonze- Jonathan May Prince Yamadori - Paul Gibson Sorrow - Sydney Wade Kate Pinkerton - Amanda Echalaz Butterfly's Mother - Shirley Thomas Aunt - Vivienne Bailey Uncle Yakuside - Stephen Briggs Cousin - Cordelia Fish Servants, Friends &  Relations of Cio-Cio-SanChorus of Opera North Conductor - Wyn Davies Director - Tim Albery Set Designer - Hildegard Bechtler Costume Designer - Ana Jebens Lighting Designer - Peter Mumford Movement Director - Maxine Braham

“Madama Butterfly”, com produção da Opera North, abre a temporada lírica em outubro. ©Clive Barda / Opera North

Para o encerramento, em junho de 2016, subirá ao palco “Nabucco“, de Giuseppe Verdi, com a soprano portuguesa Elisabete Matos no principal papel. Apesar de para o início e o fim da temporada terem sido escolhidas duas obras clássicas, Patrick Dickie e Joana Carneiro estão em sintonia no que toca ao “equilíbrio entre aquilo que é a tradição e a inovação”, explicou a maestrina. “Estou muito entusiasmado com a tradição italiana do São Carlos”, disse o novo consultor, acrescentando que entre a continuidade e a mudança, esta última ganhou ligeira vantagem. “O público vai poder ver mais novas produções que envolvem talento criativo de toda a arte contemporânea, com ligações ao teatro e às artes visuais. Há um sotaque francês nesta temporada, mas estamos ambos cientes de que o repertório alemão precisa de ser explorado em breve”.

Nas produções próprias, o São Carlos apresenta, entre 3 e 7 de fevereiro de 2016, “Dialogues des Carmélites“, ópera em três atos e 12 cenas de Francis Poulenc, aqui encenada por Luís Miguel Cintra e dirigida por João Paulo Santos. Segue-se, em março, “Iphigénie en Tauride“, tragédia em quatro atos de Christoph Willibald Gluck. Patrick Dickie destaca a estreia da soprano franco-canadiana Alexandra Deshorties no papel principal. “Ela é uma performer fascinante e eu mal posso esperar para vê-la na nossa nova produção, dirigida pela jovem equipa do encenador norte-americano James Darah e do diretor musical britânico David Peter Bates”, disse.

Entre 6 e 8 de abril, o São Carlos leva a ópera “A Flowering Tree“, de John Adams, ao Centro Cultural de Belém (CCB), numa coprodução entre a Chicago Opera Theater, Göteborg Opera e Teatro Comunale di Bolzano. Joana Carneiro, que foi assistente de John Adams, volta assim a dirigir esta ópera, como fez em 2008, em Chicago. “Fico muito contente por termos cá, no papel de Kumudha, a Jessica Rivera, porque foi para ela que o papel foi escrito, há 10 anos”, contou a maestrina.

Para os dias que antecedem o Natal ficou reservado o bailado “A Bela Adormecida“, de Tchaikovsky, com coreografia de Marius Petipa e aqui com música da Orquestra Sinfónica Portuguesa (OSP), dirigida por Pedro Carneiro. Aos artistas da Companhia Nacional de Bailado vai juntar-se Marcelino Sambé, o bailarino português de 21 anos do Royal Ballet de Londres. Para ver entre 3 e 20 de dezembro, no São Carlos. O segundo bailado no programa é “Carnaval“, uma fantasia a partir de O Carnaval dos Animais”, composto pelo francês Camille Saint-Saëns, e que terá estreia mundial no dia 15 de julho, no Teatro Camões.

Marcelino Sambé

O português Marcelino Sambé foi escolhido pelo The Independent como uma das 10 pessoas a seguir em 2015. ©Andrej Uspenski / The Royal Ballet

Mas a temporada começa oficialmente em meados de setembro, com o concerto de abertura do Coro e da OSP, dirigida pela maestrina titular Joana Carneiro. Os pormenores, incluindo a data, “ainda estão por definir”, informou ao Observador o TNSC. No dia 27 de setembro, no Grande Auditório do CCB, a OSP vai tocar a Sinfonia nº7 em Mi menor, de Gustav Mahler.

Um dos grandes destaques acontece a 3 de janeiro do próximo ano, com a soprano Elisabete Matos. O concerto de 14 de fevereiro, no CCB, também merece atenção, com a estreia absoluta de uma peça (ainda sem título) encomendada pelo TNSC ao compositor português Pedro Faria Lopes. Seguem-se “Romeu e Julieta”, de Tchaikovsky e o Concerto nº 1 em Mi bemol maior para violoncelo e orquestra, de Shostakovich. No violoncelo da OSP estará Johannes Moser.

A 25 de junho, a OSP vai estar com o pianista Artur Pizarro no Porto, na Casa da Música, com um programa que inclui peças de Luís Tinoco, Maurice Ravel e Bela Bartok.