Alguma vez tinha reparado naquele pedaço de terra mesmo ao lado de Madagáscar? É a ilha Reunião, onde foram encontrados destroços do avião da Malaysia Airlines que desapareceu em 2014. Tímida em tamanho – a ilha cabe quase 37 vezes dentro de Portugal -, mas não em património natural: tem montanhas, praias, lagos, vulcões e paisagens exóticas, que transformam este pequeno território francês no Oceano Índico num paraíso na Terra.

Police officers inspect metallic debris found on a beach in Saint-Denis on the French Reunion Island in the Indian Ocean on August 2, 2015, close to where a Boeing 777 wing part believed to belong to missing flight MH370 washed up last week. A piece of metal was found on La Reunion island, where a Boeing 777 wing part believed to belong to missing flight MH370 washed up last week, said a source close to the investigation. Investigators on the Indian Ocean island took the debris into evidence as part of their probe into the fate of Malaysia Airlines flight MH370, however nothing indicated the piece of metal came from an airplane, the source said. AFP PHOTO / RICHARD BOUHET (Photo credit should read RICHARD BOUHET/AFP/Getty Images)

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A policeman and a gendarme stand next to a piece of debris from an unidentified aircraft found in the coastal area of Saint-Andre de la Reunion, in the east of the French Indian Ocean island of La Reunion, on July 29, 2015. The two-metre-long debris, which appears to be a piece of a wing, was found by employees of an association cleaning the area and handed over to the air transport brigade of the French gendarmerie (BGTA), who have opened an investigation. An air safety expert did not exclude it could be a part of the Malaysia Airlines flight MH370, which went missing in the Indian Ocean on March 8, 2014. AFP PHOTO / YANNICK PITOU (Photo credit should read YANNICK PITOU/AFP/Getty Images)

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A Natureza em Reunião

Não sabe se prefere umas férias em praias de areia amarela ou uma aventura pelas montanhas? Reunião é o seu destino. A norte há atividades desportivas para a família, a sul estão lagos e jardins perfeitos para piqueniques, a este a lava de um dos vulcões mais ativos do mundo (já lá vamos) encontra-se com o mar e a oeste mais lagos e uma reserva natural que é protegida pela UNESCO desde 2010.

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Vulcão

Tudo começou no fundo do mar, há 3 milhões de anos. Foi esse o berço da ilha Reunião. O complexo vulcânico chama-se Piton de la Fournaise – que se traduz para Pico da Fornalha – e é (ainda) um dos vulcões mais ativos do mundo. Em todo o território de aspeto lunar coberto por resíduos castanhos da ilha é possível encontrar crateras e fluxos de lava fluida que escorrem até ao oceano. Mas só no lado este da ilha é que a areia é negra, fina e quente. De resto, são 30 quilómetros de areal amarelo.

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A última erupção aconteceu este ano, a 4 de fevereiro, numa cratera com 9 quilómetros de largura e 13 quilómetros de comprimento em forma de ferradura. Primeiro vieram os sismos, depois a lava. Foi preciso tomar medidas de segurança, com os percursos turísticos a serem encerrados por alguns dias. Em média, o vulcão entra em erupção de nove em nove meses, mas a 21 de junho de 2014 acordou de um sono longo de quatro anos. Mas nem só de lava se faz este vulcão: quando o magma vindo do manto terrestre enche o reservatório, surgem fissuras no solo e a temperatura do material expelido é tão quente – chega aos 1000 ºC – que pode ser sentido por vários meses.

Praia

É o sol que domina a ilha, que tem um clima tropical durante todo o ano. Mas é debaixo de água que estão algumas das suas maravilhas: os peixes de várias espécies que nadam entre os corais podem ser vistos sem sequer ser necessário mergulhar, graças às águas cristalinas do Índico nesta costa. Mas se gostar de se aventurar dentro de água, pode praticar mergulho com recurso à experiência de um treinador e ao auxílio do material especializado. Há peixes palhaço, anémonas, moreias e tartarugas.

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Demasiado banal? Então talvez se possa encontrar com as baleias que passam por ali entre junho e outubro e que podem ser vistas com os pés assentes na areia. Golfinhos não faltam o ano inteiro. Outra atração da ilha são as lagunas, ao longo de 22 quilómetros, cobertas de corais, mas onde é possível praticar caiaque e snorkeling.

Montanha

Há três zonas montanhosas muito importantes na ilha Reunião: Cirques de Cilaos, Salazie e Mafate. São 900 quilómetros de percursos abertos, entre florestas densas, descampados áridos e costa marítima. São 400 mil os visitantes que sobem as montanhas da ilha Reunião todos os anos. O ponto mais alto da ilha tem 2632 metros de altura.

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Há três percursos fundamentais para os montanhistas, todos traçados pela Fédération Française de Randonnée Pédestre. O primeiro passa mesmo ao lado das crateras Piton dês Neiges, Salazie, Mafate e Cilaos. O segundo permite atravessar a ilha de uma ponta à outra, desde a praia até ao ponto mais alto do vulcão. O terceiroa passa pelos locais que não estão habitados, incluídos no Parque Natural.

Cultura em Reunião

A principal língua é o crioulo. Nasceu da necessidade dos vários povos que a colonizaram terem de comunicar entre elas. O crioulo é ensinado nas escolas até ao ensino superior e que está presente na cultura local, principalmente na poesia. No mundo da música, existem dois estilos: o Maloya – que nasceu com os escravos africanos e que se assemelha ao blues – e o Séga – de inspiração mais europeia e ritmada.

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No prato também há sinais do contacto da ilha Reunião com o mundo. Há toques franceses, sabores indianos, costumes chineses e tradições africanas. Uma mistura exótica presente nas carnes picantes, bem condimentadas. A gastronomia de Reunião é conhecida pelas propriedades anti-inflamatórias e anti-oxidantes dos pratos principais e pela doçura com travo de baunilha nas sobremesas, que costumam apostar no rum e no ananás. E depois há o café, que foi desde muito cedo uma grande fonte de rendimentos. E por falar nisso…

História de Reunião

Primeiro vamos às informações gerais: a ilha Reunião fica a 800 quilómetros da costa este de Madagáscar. Pertence ao arquipélago das Mascarenhas, um território com 1200 quilómetros de extensão onde também se encontram a Maurícia e a Rodrigues, por exemplo. Recebeu este nome porque, em 1513, o administrador de colónias Pedro Mascarenhas passou por estas ilhas a caminho da Índia, onde foi o 6.º vice-rei. A capital é Saint-Denis, mas a ilha de Reunião tem várias dependências espalhadas pelo Oceano.

Só no século XVII é que os europeus olharam para o potencial da ilha Reunião. Até essa altura, os marinheiros europeus, polinésios e árabes costumavam atracar naquelas terras, mas nunca por lá ficaram. Até que, a 25 de junho de 1638, a ilha foi reclamada pela Companhia Francesa das Índias Orientais e passou a ser habitada por franceses e escravos africanos. Pouco mais de cem anos depois, era oficialmente um território de França.

Entre 1671 e 1686 (emuma diferença de quinze anos), a população de Reunião quase que triplicou e chegou às 216 pessoas. Oito anos mais tarde já havia triplicado de novo e em 1744 eram 2.500 os habitantes. As plantações de café e cana de açúcar marcaram a economia de Reunião, que se tornou numa das mais importantes do Índico na altura da colonização.

Em meados do século XVIII a ilha já estava repleta de gente. Em 1768 havia 45 mil escravos e apenas 26 mil habitantes livres. Durante o século XIX, já depois de a França ter abolido a escravatura na sequência da Revolução e da Declaração dos Direitos do Homem, a ilha Reunião passou por uma grave crise, uma vez que ficara sem mão de obra, já que era proibido que alguém trabalhasse forçosamente. A situação foi de tal modo angustiante que os franceses levaram mão de obra hindu para aqueles territórios, o que veio alterar a demografia.

Mas a ilha recuperou: havia novos cidadãos, uma cultura renovada com traços hindus, crioulos e europeus e uma taxa de exportação importante: Reunião era um ponto de passagem obrigatório para o mercado internacional.

Ainda hoje é assim, mas há sempre um grande senão para os navegadores: a meteorologia. Ao longo dos anos Reunião tem sido ameaçada várias vezes por furacões e ciclones: o último, o ciclone Dina, passou ao largo da ilha Reunião em 2002.

Texto editado por Filomena Martins