A agência de rating DBRS não deverá cortar a notação de risco de Portugal na sexta-feira, mas é possível que seja sinalizada uma descida futura através da anexação de uma perspetiva negativa. Tipicamente, uma perspetiva negativa sinaliza uma maior probabilidade de um corte algum tempo depois. Mas, apesar disso, os analistas do Société Générale manifestam confiança de que o único rating acima de lixo não deverá cair, o que poderia ter consequências graves para Portugal.
A DBRS tem, atualmente, um outlook “estável” para o seu rating BBB-. Esta notação é crucial para Portugal porque não só qualifica o país para as compras de dívida pelo BCE – que estão a conter a subida dos juros da dívida – mas porque permite o financiamento dos bancos nacionais no BCE sem que sejam necessários quaisquer regimes de exceção como o que tinha a Grécia.
“O último relatório da DBRS dá-nos uma vaga ideia sobre o que pode fazer subir ou descer o rating. Na nossa opinião, as condições para um corte pela DBRS não estão a verificar-se”, confia a equipa de estratégia do Société Générale em nota a que o Observador teve acesso. “Contudo, é possível que seja anexado um outlook negativo“, avisa o banco francês.
Em entrevista ao Observador, há duas semanas, Adriana Alvarado, a analista que segue Portugal disse que “a perspetiva estável parte de um pressuposto de que a prudência orçamental será mantida”. Se esse pressuposto for demasiado otimista, ficou claro, nada impede que a DBRS venha a cortar o rating de Portugal mesmo que não sinalize isso, previamente, com uma passagem para perspetiva negativa.
“Nós olhamos para as tendências a longo prazo e avaliamos o empenho político” em relação ao equilíbrio das contas públicas, diz Adriana Alvarado. Para já, a DBRS diz que “há que aguardar pela apresentação do programa económico” do possível governo liderado por António Costa e apoiado nos partidos de esquerda.
O Société Générale diz que a DBRS procurará fazer uma análise de antecipação para vários anos e não “reagir a riscos políticos de curto prazo”. Contudo, o banco francês diz que “é verdade que Portugal não está sob um programa de assistência como Chipre e Grécia. Mas está a ser monitorizado” pelas avaliações semestrais pós-programa.
Isso torna o país mais vulnerável a que o BCE possa, ao abrigo das suas regras, limitar o acesso dos bancos portugueses ao banco central, como aconteceu na Grécia em fevereiro. Prevendo que a situação política não se agrave mais, o Société Générale ironiza, contudo, e diz que “o BCE define as suas próprias regras – estamos seguros de que o BCE vai encontrar uma interpretação das regras” que permita a continuação do financiamento a Portugal.