A incerteza política não irá acabar tão cedo“, conclui o banco holandês ING após uma análise à situação portuguesa e às opções de Cavaco Silva nas próximas semanas. Anthony Baert, economista que segue Portugal a partir de Bruxelas, já notou alguma fraqueza nos números do PIB saídos na semana passada e, por não antever uma solução rápida ou simples para o impasse, decidiu cortar as projeções de crescimento em Portugal para este ano e para o próximo.

O Produto Interno Bruto (PIB) deverá expandir-se em 1,4% em 2015 (o ING previa, antes, 1,6%) e crescer apenas 1% em 2016, dois terços da taxa de crescimento de 1,5% prevista anteriormente. 

O ING mostra-se, assim, muito mais pessimista do que a Comissão Europeia. Bruxelas baixou na semana passada a projeção de crescimento no próximo ano em Portugal para 1,7% (era 1,8%), depois de um aumento também de 1,7% em 2015 (era 1,6%). 

“As perspetivas de crescimento de curto prazo devem deteriorar-se mais à medida que as famílias e as empresas se sentem inibidas no consumo e no investimento perante esta ausência de governo”, escreve Anthony Baert em nota de análise a que o Observador teve acesso. O economista repete o que já tinha dito na semana passada, após os números do INE para o terceiro trimestre: “ainda é cedo para proclamar uma nova recessão técnica, mas é um risco“.

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Governo PS. “Alternativas podem criar ainda mais instabilidade”

O ING diz que “não há qualquer garantia de que um governo [liderado pelo PS, apoiado à esquerda] consiga obter um equilíbrio perfeito entre as medidas que pretendem tomar e as obrigações orçamentais“. Sobretudo “tendo em conta as opiniões controversas dos três partidos mais pequenos” (BE, PCP e PEV).

Mas “as opções alternativas parecem ser impraticáveis ou capazes de criar ainda mais instabilidade“, afirma Anthony Baert, referindo-se a hipóteses como um governo de gestão ou um governo tecnocrata para gerir o país até eleições antecipadas. Fora de questão estará, também, a sugestão de Passos Coelho de fazer uma revisão constitucional extraordinária para permitir eleições já: “é muito improvável que os partidos de esquerda aceitem participar na maioria de dois terços que seria necessária”, escreve o economista do ING.

É por estas razões que Anthony Baert diz aos clientes do ING que “são frágeis os argumentos para defender que não se deve nomear um primeiro-ministro que aspira a formar uma maioria parlamentar [António Costa], depois de ter dado uma hipótese ao governo minoritário”. O economista alerta, contudo, que o nervosismo dos investidores antes da decisão da agência de rating DBRS, na semana passada, “serve para lembrar que não é preciso muito para provocar uma nova vaga de instabilidade financeira“.