Há um exército de gatos no Museu Nacional do Hermitage, em São Petersburgo — os animais rivalizam em popularidade com pintores tão conhecidos como Rembrandt, Velázquez, Degas, Cézanne ou Da Vinci. São 70 felinos e a sua missão é caçar os ratos que ameaçam as famosas pinturas. Há postais e dias dedicados a estes gatos e até retratos onde aparecem com os trajes dos antigos criados dos czares.
Localizado no Palácio de Inverno, antiga residência da corte imperial russa, e situado na margem do rio Neva, o museu exibe coleções que são consideradas tesouros da história da arte. O Hermitage serve também de abrigo a estes gatos, que funcionam como uma parte importante do staff: a maioria foi entregue por pessoas que já não podiam tomar conta dos animais.
Em 2013, esta brigada especial foi imortalizada em seis retratos digitais publicados na Hermitage Magazine. Os animais, pintados por Eldar Zakirov (cujo site pode visitar aqui), assumem o papel de empregados da corte imperial russa e foram escolhidos pela curadora do museu, Maria Haltunen, que é co-autora, com Mary Ann Allin, de um livro infantil intitulado Anna e os Gatos do Hermitage. A história foi transformada num musical para crianças com o nome “Os Gatos do Hermitage Salvam o Dia”.
Veja aqui as pinturas do gatos do Hermitage por Eldar Zakirov:
Os felinos foram os primeiros inquilinos do Palácio de Inverno, ainda antes de o edifício se transformar num museu e abrir ao público. Foi a Imperatriz Isabel da Rússia, a segunda filha do czar Pedro, o Grande, quem, em 1745, emitiu um decreto que pedia para serem encontrados “os maiores e melhores gatos para caçar ratos” e assim livrarem o palácio de roedores. Quando Catarina, a Grande, tomou posse, em 1762, já os felinos eram residentes oficiais das instalações reais e até eram designados por “Gatos do Palácio de Inverno”.
Os animais sobreviveram a várias guerras, só não escaparam aos terríveis anos entre 1941 e 1944, quando o exército nazi tomou a cidade russa e os habitantes esfomeados não tinham outra hipótese que não alimentarem-se dos animais domésticos.
Diz a lenda que os gatos voltaram ao palácio assim que a Segunda Guerra Mundial terminou. Na década de 60, eram tantos os felinos no Hermitage que as autoridades decidiram que estes tinham de abandonar o edifício. Os gatos partiram, mas não demoraram a regressar. Quando o palácio se encheu novamente de ratos, os felinos foram convidados a regressar. No entanto, as regras mudaram: foi-lhes vedada a entrada nas cerca de mil salas que compõe o museu e que albergam mais de 60 mil obras de arte. Mas os roedores desapareceram.
Foi por esta altura que os gatos se transformaram em estrelas do Hermitage. Os três milhões de turistas que visitam o edifício não levam apenas reproduções dos quadros ali expostos, mas também postais e outras lembranças com imagens dos felinos que guardam os tesouros do museu. Existe também um site, chamado “Hermitage Cats”, a convidar os habitantes de São Petersburgo a adotar um gato e foi instituído um feriado anual em honra dos pequenos habitantes do palácio.
Veja nesta fotogaleria onze obras de valor incalculável que os gatos ajudam a proteger:
Em Portugal, os morcegos protegem livros
Não são gatos, mas também são animais que protegem os livros de duas das bibliotecas mais antigas de Portugal: a biblioteca da Universidade de Coimbra e a do Palácio Nacional de Mafra. Centenas de morcegos — exímios em capturar insetos que danificam os livros — protegem milhares de exemplares nestes dois locais.
As duas bibliotecas funcionam como abrigos para estes animais noturnos, conhecidos pela sua preferência por edifícios antigos. Em Coimbra, existem documentos com cerca de 200 anos que comprovam a compra, nesse tempo, de peles semelhantes às que ainda hoje a Biblioteca Joanina utiliza para cobrir as mesas antigas de forma a protegê-las dos excrementos dos morcegos.
A Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, considerada uma das mais bonitas do mundo, acolhe 500 morcegos que durante o dia são guardados em caixas e libertados à noite para se alimentarem dos insetos que poderiam destruir o valioso espólio.