O ciclo celebrativo dos 250 anos do Órgão da igreja de S. Vicente de Fora, em Lisboa, encerra no sábado com um concerto pelo seu organista titular, João Vaz, e o cornetista Tiago Simas Freire.

O concerto, às 17h00, intitula-se “Corneto e órgão: A diminuição na Europa meridional seiscentista”, e inclui peças de Bartolomeu Trosilho e de frei Diogo da Conceição, entre outros.

Em declarações à Lusa, João Vaz salientou a “forte ligação entre o corneto e o órgão” que “historicamente existe na Europa meridional”.

“Nos séculos XVI e XVII, o corneto era o instrumento que tradicionalmente duplicava (ou substituía) a voz superior nas obras polifónicas, enquanto o órgão podia duplicar todas as vozes”, explicou o músico, acrescentando que, “tradicionalmente, os instrumentos não executavam simplesmente as linhas melódicas cantadas, mas enriqueciam-nas com ornamentos (diminuições) que as tornavam muito mais brilhantes”.

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“É o caso, neste concerto, do motete ‘Circundederunt me’, de Bartolomeu Trosilho, onde o corneto executa o soprano numa versão ornamentada, enquanto o órgão se ocupa das restantes vozes”, explicou.

“Por outro lado – prosseguiu João Vaz -, o órgão tentou desde cedo imitar o corneto, sendo a corneta um registo sempre presente nos órgãos do sul da Europa, a partir do século XVII”, e detalhando afirmou: “O meio registo de 2.º tom de Frei Diogo da Conceição, sendo uma peça puramente organística, não deixa de imitar um solo de corneto”.

“O caráter solístico da participação do corneto no seio de uma estrutura polifónica, patente nas danças de Claude Gervaise ou de Salomone Rossi, mantém-se de forma ainda mais evidente nas obras posteriores com baixo contínuo, como as ‘canzone’ de Frescobaldi ou Gabrieli”, afirmou.

O órgão da igreja de S. Vicente de Fora, em Lisboa, foi construído em 1765 por João Fontanes, e “tem a vantagem de se encontrar em estado quase original”, disse João Vaz.

O programa dos festejos iniciou-se em abril, com João Vaz e Isabel Albergaria, a que se seguiram a organista francesa Sylvie Perez, em maio, António Esteireiro, acompanhado pelo Coro do Instituto Gregoriano de Lisboa, em junho, o espanhol José Luis González Uriol, em julho, Rafael Reis, em agosto, e, em setembro, realizou-se um concerto “non-stop” com vários organistas. Em outubro atuou o italiano Manuel Tomadin e, em novembro, o belga Jan Vermeire.

Segundo João Vaz, este é “um dos mais importantes e representativos instrumentos barrocos portugueses”.

Como explicou, o órgão, de tipologia ibérica, “possui duas secções independentes, órgão principal e órgão de eco, a que correspondem dois teclados manuais de 47 teclas”.

O órgão de S. Vicente de Fora teve “uma intervenção de restauro de pouca monta em finais do século XIX e, novamente, no século seguinte”, em 1956/57, depois, em 1977.

A última intervenção, mais profunda, foi concluída em 1994, por Claudio e Christine Rainolter, e repôs materiais originais.

O ciclo de concertos, segundo fonte da organização, contou até novembro, com cerca de 800 espetadores.