Numa altura em que a economia portuguesa está ainda a lamber as suas feridas, o aumento do salário mínimo, como se prepara para fazer o Governo socialista, pode ser “problemático” para a competitividade do país. Esta é a convicção de Paul Krugman, o prémio Nobel da Economia em 2008, que esta segunda-feira participa numa conferência de homenagem ao ex-ministro das Finanças José Silva Lopes, na sede do Banco de Portugal.

Em resposta a uma interpelação de Braga de Macedo, economista e ex-conselheiro de Pedro Passos Coelho, o norte-americano foi obrigado a reconhecer que o aumento do salário mínimo pode ser prejudicial para economia portuguesa. É necessário, de resto, ter “muito cuidado” com medidas que possam colocar em causa competitividade da economia portuguesa, sublinhou Krugman.

O norte-americano é um confesso defensor do aumento do salário mínimo nos Estados Unidos, onde os salários são comparativamente mais baixos aos praticados na Europa, como fez questão de lembrar. Além disso, os norte-americanos têm “moeda própria”, pelo que podem compensar os efeitos do aumento do custo de vida. Na Europa, em especial em Portugal, o cenário é completamente diferente.

“É problemático (…) Eu sou um grande defensor do aumento do salário mínimo nos Estados Unidos, mas lá o salário é muito baixo e nós temos uma moeda própria”, o que pode ajudar a compensar o aumento de preços, afirmou o economista.

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A intervenção de Krugman está a ter repercussões na imprensa nacional. Além do Jornal de Negócios e do Diário Económico, também a TSF dá destaque às palavras do Nobel da Economia. E por falar em moeda própria, o norte-americano considera que se os grandes fundadores do projeto europeu soubessem o que sabem hoje, não teriam lançado as bases para a moeda única. No entanto, reconhece, voltar às moedas nacionais não é solução. “Seria um pesadelo”, rematou.

Nem tampouco é solução atirar os países em dificuldade para fora do Euro. O único caminho – o possível – é tentar resolver dentro de casa os problemas familiares da União.

Uma família que teve (ou tem) em Portugal e na Grécia dois casos bicudos de resolver. E se a capacidade de Portugal de “fazer parte da Europa” ser “um caso de sucesso”, a verdade é que ainda há muito por fazer, admitiu o economista. “Vocês têm ainda uma taxa de desemprego muito grande e seria muito maior se as pessoas não estivessem a abandonar o país. [O país tem ainda] uma “economia fraca”.

Mas como na mesma família, não existem dois irmãos iguais, também não na União não existem países iguais. Por isso mesmo, Krugman fez questão de separar o caso português do grego. “Por muito más que as coisas tenham sido por aqui, não tiveram minimamente a escala do que se passou lá”. Lá, em Atenas. Com humor, o norte-americano sugeriu: por cá, o slogan político deveria ser: “Não somos tão maus como a Grécia”.