A crise financeira de 2008, com epicentro na falência do banco de investimento Lehman Brothers, depressa se estendeu à economia real. Quase oito anos depois, o termo “recuperação” já entra nos discursos políticos e, timidamente, no bolso de alguns europeus. Mas se calhar é melhor moderar as expectativas. Segundo Peter Temin, economista e historiador do Massachusetts Institute of Technology (MIT), é provável que estes efeitos positivos da economia nunca cheguem a atingir a maioria das pessoas, conta o espanhol El Confidencial.

No estudo que realizou para o Institute of New Economic Thinking, escreveu que a sociedade vive imersa numa economia dual, na qual 30% da população – aquela que trabalha em finanças, tecnologia e eletrónica – pode perspetivar muitas opções de vida – e os restantes 70% ficam limitados a uma economia de sobrevivência, caracterizada por salários mais baixos. E se acha que hoje já não existe uma classe média como aquela que era conhecida, então prepare-se – parece que essa já não vai voltar.

Na base do estudo de Peter Temin, está o método teórico que foi inventado pelo Prémio Nobel da Economia Arthur Lewis, pensado para descrever a economia dos países em desenvolvimento, assente, por um lado, em atividades ligadas à subsistência, como a agricultura, e por outro, em atividades urbanas e capitalistas. A diferença é que Temin acrescentou-lhe uma dimensão: a tecnológica. Com uma diferença – as novas atividades tecnológicas e financeiras não serão capazes de reproduzir os empregos que destroem. Muito pelo contrário – por causa das inovações na área da inteligência artificial ou da robótica, é provável, segundo o economista, que o número de novos postos de trabalho diminua, acentuando as desigualdades.

Numa entrevista publicada no blogue do Institute for New Economic Thinking, o economista explica que enquanto as camadas superiores dos setores tecnológicos e financeiros “se sentem cidadãos do mundo”, capazes de “sobreviver a qualquer coisa”, aqueles que estão nas franjas destas atividades têm as mesmas preocupações que o resto da população. Receiam que a globalização os obrigue a descer a funções com salários mais baixos.

O economista afirma que estas tensões estão a refletir-se na política, com vários lideres a quererem opor-se a medidas económicas que promovam mais desigualdade. “A tendência para a economia dual nasceu há uma geração e está bastante enraizada”, afirmou.

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