O Montepio Geral está a concluir um aumento de capital de 300 milhões de euros que é subscrito pela acionista, a associação mutualista com o mesmo nome. Esta é a segunda operação de reforço de capitais em menos de um ano depois de a associação ter subscrito unidades de participação no ano passado, no valor de 200 milhões de euros.

Esta operação, que ficou concluída em julho do ano passado, foi realizada através do Fundo de Participação da CEMG (Caixa Económica Montepio Geral). As unidades foram admitidas cotação na bolsa de Lisboa e vão entrar no índice PSI 20. Este fundo de participação foi criado em 2013 e as primeiras unidades foram alienadas nos balcões do Montepio, permitindo nesse ano também um reforço de capitais.

O novo reforço de capitais é realizado depois de mais um ano de prejuízos da caixa económica. O Montepio apresentou resultados negativos de 243,4 milhões de euros em 2015, valor que compara com prejuízo de 186,9 milhões de euros em 2014. No entanto, o banco fechou ano com um reforço da posição de capital, com o rácio core Tier 1 de 8,81%. Ou seja, mesmo sem o aumento de capital agora realizado, a caixa económica cumpria os rácios exigidos, sublinhou ao Observador, o presidente executivo do Montepio.

Proposta foi do conselho de administração

José Félix Morgado assegura que o reforço de capitais estatutários não resultou de qualquer indicação dada pelo Banco de Portugal nesse sentido. Refere que foi uma proposta do conselho de administração do banco que foi aprovada no conselho geral da associação mutualista que tem poderes para o fazer. Este órgão é liderado pelo presidente da associação, António Tomás Correia, que liderou o Montepio Geral até ao verão do ano passado, quando foi substituído por José Félix Morgado, na sequência do modelo de governação do banco que reforçou a independência dos administradores executivos.

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O aumento de capital, acrescenta, pretende reposicionar o banco para o plano de desenvolvimento e assegurar que o Montepio tem os rácios de capital ao nível dos bancos concorrentes mais sólidos. Depois deste reforço de fundos próprios, a caixa económica ficará com um rácio de capital de 10,9%, considerando o balanço do final de 2015.

Quanto aos prejuízos do ano passado, o presidente executivo realça que a comparação é feita com um ano, 2014, em que o Montepio obteve mais-valias na venda de títulos da dívida pública que não se repetiram em 201.5 E destaca até uma redução substancial das imparidades por perdas no crédito de 44%, o que corresponde a menos 285 milhões de euros. Os prejuízos refletem ainda uma queda da margem financeira, que tem afetado os resultados do setor e que não foi totalmente compensada que diminuição dos custos operacionais.

Ainda em relação ao ano passado, o gestor destaca o reforço da liquidez, que resultou da melhoria da qualidade dos ativos e do crescimento dos depósitos de 3,3%, no último trimestre do ano. Em termos anuais, os depósitos recuaram cerca de 9% face a 2014.

Perspetiva “positiva, mas prudente”

E o pior já passou? O presidente do Montepio assinala que houve já “um grande esforço de absorção de imparidades”. A perspetiva diz, “é positiva, mas prudente”. Apesar de uma redução significativa dos créditos que estão a entrar em incumprimento sentida no ano passado, a retoma da economia e das empresas ainda não é total, reconheceu José Félix Morgado.

José Félix Morgado assegura que ainda que banco está apostado em aumentar o produto bancário, mas via crescimento orgânico e reforço da sua posição no mercado. O gestor sublinha a refocagem estratégica no segmento dos particulares, empresários em nome individual e PME (pequenas e médias empresas) e economia social.

O Montepio tem em curso um plano estratégico com várias componentes para conseguir regressar à rentabilidade mas o gestor ainda não avança com previsões de quando isso pode acontecer. Entre as medidas já implementadas está uma redução do número de efetivos, através de um programa de pré-reformas que permitiu a saída por acordo de 200 quadros já este ano. E este processo ainda não está concluído.

Está também em curso um plano de redefinição da ocupação de espaços, que resultou já no redimensionamento da rede, com o encerramento de 40 balcões, que, sublinha, não compromete a cobertura geográfica. Está igualmente a correr um plano de desalavancagem via venda de ativos, sobretudo de património imobiliário associado ao crédito à habitação. O Montepio vendeu no final do ano passado a sua participação na seguradora Lusitânia à associação mutualista.

Estes são os primeiros resultados anuais apresentados pela gestão de José Félix Morgado que fez questão de os explicar em várias conversas individuais com representantes dos órgãos de comunicação social.