Em dia de balanço do primeiro ano do Programa Ativar Portugal Startups, houve casa cheia na sede da Microsoft Portugal, no Parque das Nações, em Lisboa. Antes da abertura da sessão, ainda em tempo de cafés e de montagem de stands, um burburinho no ar antecipava já o que iria ser este momento de trocas, encontros, prémios e testemunhos em torno de um ecossistema que é cada vez mais português: o das startups de base tecnológica.
Impressoras 3d, mesas sensíveis ao toque, objetos wireless e máquinas produtoras de hologramas podiam ser vistas lado a lado com incubadoras oriundas de vários pontos do país. A língua oficial era o inglês que, aliás, só não foi falada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que encontrou espaço na agenda para entregar os prémios Microsoft de «melhor startup do ano» e de empresa com «melhor contribuição para o ecossistema».
O fervilhar da zona de showroom da Microsoft, hoje designado Startup Expo Area, manteve a tónica ao longo de todo o dia, tendo como ponto alto a hora do almoço e o início da tarde, com as sessões de speed-date. Aqui estiveram presentes as startups beneficiárias do programa Ativar Portugal e puderam apresentar os seus produtos com todo o pormenor, enquanto iam descobrindo o que faziam os seus pares. Mas também aqui estiveram incubadoras, investidores e potenciais clientes, em suma, todo o ecossistema empreendedor português que dá corpo ao que João Vasconcelos, Secretário de Estado da Indústria, lembrou ser a quarta revolução industrial.
A sessão de abertura esteve a cargo do anfitrião João Couto, Diretor Geral da Microsoft Portugal, que fez o balanço do primeiro ano do Ativar Portugal. «Somos uma empresa americana», começou por sublinhar, e «queremos medir tudo em números». E o que dizem os números? «Falam da criação de 37 mil novas empresas, e 10 mil empregos por ano, sendo elas companhias com uma escala global a rondar os 67% da sua atividade, ou seja, onde o principal foco é a exportação.
Estamos a falar de 166 milhões de euros de investimento atraído!». Posto isto, garante João Couto, «estamos no bom caminho». Mas esta é apenas uma vertente do programa Ativar Portugal, pois, o lado qualitativo também está a ganhar força no mercado nacional. E o que é lado qualitativo? «A Microsoft contribui com muito mais do que tecnologia. O que as startups verdadeiramente agradecem e reconhecem à Microsoft é a sua capacidade de contribuição para a criação de um novo ecossistema nacional».
Esta é uma opinião partilhada por João Vasconcelos, que lembra que este ecossistema é um «modo alternativo ao tradicional crédito bancário, pois reúne os business angels (empresas que investem no início dos projetos das startup), as empresas de investimento em capitas de risco e as aceleradoras (que investem no momento de desenvolvimento e expansão das startups)».
O governante garante que o Estado vai co-investir com estas empresas: «Falo de várias centenas de milhões de euros, oriundos de fundos europeus e de comparticipação nacional». O Secretário de Estado da Indústria defendeu ainda que Portugal tem os argumento específicos necessários para atrair esta nova vaga de atores económicos: «Portugal é onde a Europa acaba e o mundo começa. Sabemos quem somos, temos uma grande história e relações com muitas culturas, e isto é muito importante, pois está no dna das startups terem equipas globais».
Uma grande oportunidade para o país apresenta-se hoje a todos nós, é a convicção do governante que fala da Indústria 4.0: «A digitalização da economia é uma nova revolução. Há quem lhe chame a quarta revolução industrial». Ao contrário das anteriores viragens económicas, esta pode ser agarrada pelo país, garante João Vasconcelos: «Esta é a primeira revolução industrial em que o país não é periférico e onde a qualificação das nossas novas gerações faz de Portugal um dos países líderes a nível mundial».
Houve depois tempo para uma mesa redonda em que o editor da Wired Magazine, David Rowan, animou o diálogo com Miguel Santo Amaro, da Uniplaces; André Cardote, da Veniam; Pedro Rocha Vieira, da Beta-i e Rui Bento, da Uber. O jornalista americano quis saber por que motivo as startups começaram a sediar-se em Portugal, como já acontece com São Francisco, Berlim ou Londres. Mas o primeiro a responder foi o próprio: «Conheço empresas que se estão a mudar de São Francisco para Portugal, de Berlim para Lisboa, devido aos altos níveis de educação». E prosseguiu o seu questionamento: «Como levar as companhias de Lisboa e Porto para o mundo»?
As respostas foram partilhadas pelos diversos interlocutores, que destacaram sobretudo a necessidade de uma maior flexibilização e aceleração no que diz respeito à regulamentação das novas atividades económicas com base em tecnologias digitais. O apelo fez eco junto dos governantes presentes, pois o consenso recaiu sobre o programa Ativar Portugal Startups, e sobre a sua mais-valia: a criação sustentada de um ecossistema que permite fazer brotar, crescer e desenvolver as startups com a parceria importante de um playmaker com a dimensão da Microsoft.
A palavra foi então tomada por oradores experientes na matéria, ou seja, grandes empresas inovadoras que possuem um nome e uma marca reconhecida em Portugal e no mundo. Alexandre Barbosa, CEO da Faber Ventures, sublinhou que Portugal «ocupa um lugar central na Europa» e aposta num futuro risonho: «Creio que seremos uma porta aberta entre a Europa e o mundo, pois temos as condições ideias: o nosso sistema já está pronto, temos os anjos, as incubadoras, as aceleradoras e, sobretudo, o talento».
Refletindo sobre o que motiva a escolha de Lisboa em detrimento de outras cidades europeias, Alexandre Barbosa foi claro: «Já não é pelo baixo custo de vida, mas sim por existir um ambiente ideal para uma equipa de trabalho começar a conquistar um mercado mundial». Todas as razões apontam hoje, prossegue, para «uma empresa estar sediada em Lisboa e atuar, por exemplo, no mercado dos Estados Unidos». E indica a receita do sucesso: «Passa pela nossa atitude: clareza de propósitos, foco, relevância e velocidade.
A velocidade é a principal diferenciadora das companhias. Há que mover e executar depressa». Por sua vez, Paulo Pereira da Silva, CEO da Renova, começou por lembrar que «a Renova é uma startup e que está sediada em Torres Novas, não em Lisboa». Garantindo que «sim, isto é possível: recebemos pessoas do mundo inteiro, e vêm trabalhar para Torres Novas, isto é mesmo assim».
Depois da visão otimista veio a mensagem de apelo a uma maior concentração e foco numa só marca, para evitar dispersar tempo e recursos: «Portugal tem uma baixa produtividade porque não tem uma marca global. É muito importante criar marcas. Com uma única marca podemos ter diferentes produtos». O CEO da Renova partilhou depois o seu ponto de vista sobre o mercado globalizado contemporâneo: «Hoje, o mundo é uma sobreposição de redes. A geografia já não é a mesma. Portugal está em pleno nesta nova economia em que só existem redes e não mais fronteiras. Estamos a passar por um tsunami tecnológico, com uma velocidade enorme e temos de adaptar os nossos negócios a este tsunami.» Em suma, fica a resenha: temos de criar marcas e ser velozes.
O momento seguinte foi o da entrega dos dois prémios Microsoft. Na categoria de «melhor contribuição para o ecossistema», venceu a Caixa Capital, enquanto a categoria de «melhor Startup do ano» foi para a TalkDesk.
A entrega dos prémios esteve a cargo de Marcelo Rebelo de Sousa, que iniciou o discurso, com algum humor, a lembrar que, na qualidade de Presidente da República, iria falar em português. O Presidente começou por dar os parabéns à Microsoft e garantiu estar alinhado com o Governo de Portugal na questão do apoio à nova economia digital. Garantiu depois que existe um sonho realizável para o país: «em 2020 terá de haver 200 startups a nascer em cada dia.
É um sonho realizável, que envolve juventude e diferentes áreas da atividade económica e financeira». Sublinhou ainda o prémio atribuído à Caixa Capital, relembrando que a instituição fez 140 anos na mesma semana: «temos velhinhos renovados a trabalhar em conjunto com os mais novos e isto é a economia nacional». Deixou ainda a sua visão quanto aos desafios das startups: 1º) criatividade, 2º) realismo, 3º) financiamento, 4º) permutabilidade e 5º), sempre com uma visão internacional e sem fronteiras, ou seja, «estar ao mesmo tempo em todo o mundo».
Marcelo Rebelo de Sousa concluiu com uma referência à mais-valia do entrosamento com empresas da dimensão da Microsoft. Classificando os tempos económicos que vivemos com a expressão «revolução silenciosa», definiu-a como «algo mais profundo do que a espuma dos dias» e indicou quais os seus principais atores: «Os protagonistas da vida portuguesa não aparecem nos telejornais, os verdadeiros protagonistas são os jovens que criam riqueza todos os dias e que contribuem para um futuro melhor para Portugal».
Do evento ficou no ar, como numa nuvem, uma mensagem conjunta por todos partilhada, que pode ser sintetizada nas palavras de João Couto, Diretor Geral da Microsoft Portugal: «Há um novo posicionamento em curso para Portugal no mundo, e o ponto de vista qualitativo é ainda mais importante do que o quantitativo. Estarmos a atrair investidores e talentos para o país é muito significativo, pois dá-nos uma grande projeção internacional em termos de hub de inovação, o que posiciona Lisboa e Portugal ao nível de Londres, Berlim, Telavive ou da Silicon Valley».
A importância do programa Ativar Portugal foi sublinhada por todos, mas foi com especial afeto que João Vasconcelos, Secretário de Estado da Indústria, lembrou que «a Microsoft fez 40 anos, dia 4 de abril, e é graças a programas como o Ativar Portugal que sabemos que esta empresa perdurará pelo menos mais 40 anos, que é a minha idade», concluiu com um sorriso.