Se há uma certeza no universo das startups é a de que nada se faz sozinho. Para ser inovadora, uma ideia precisa de estar ancorada num modelo de negócio que inclua uma proposta de valor clara, a definição dos públicos-alvo, uma estratégia de financiamento, um plano de distribuição e comunicação, bem como outras vertentes essenciais para a transformação dessa ideia num negócio sustentável.
Consciente dessa certeza, a Microsoft promove, desde 2015, o programa Ativar Portugal Startups, destinado a apoiar todas as fases de uma startup, do primeiro degrau ao grande passo rumo à internacionalização. No último ano, 120 startups, das quais 31 integraram, recentemente, o programa, já beneficiaram do know-how e apoio de vários investidores estratégicos em cada vertente das suas vidas – e não apenas da financeira.
Não basta bater à porta
A família e os amigos podem ajudar, mas lançar um projeto de base tecnológica exige, por vezes, financiamento que transcende a capacidade destes primeiros “investidores”. Um segundo round de financiamento deve passar pelas várias estruturas existentes no ecossistema – que não se esgotam no clássico empréstimo bancário – até como forma de testar o potencial da ideia.
O acesso a capital de risco, sob a forma de venture capital (investimento em startups) ou private equity (investimento em empresas maduras) é uma opção. No entanto, não basta bater à porta. O que esperam os investidores de uma startup? “Ideias que contribuam para resolver um problema real, que sejam inovadoras em relação ao existente”, afirma a equipa da Portugal Ventures (que preferiu responder no coletivo), um dos investidores parceiros do programa Ativar Portugal Startups 2016.
Resultado da fusão da AICEP Capital, Inov Capital e Turismo Capital, a Portugal Ventures já apoiou mais de cem empresas associadas a 450 milhões de fundos sob gestão. Além do fator-chave da inovação, este investidor privilegia numa startup “uma equipa complementar, mercado de destino em crescimento e de dimensão relevante, conhecimento da área de negócio e, acima de tudo, capacidade de execução para o desenvolvimento eficaz e eficiente”.
Uma boa equipa é, por sua vez, um dos fatores críticos de sucesso para Alexandre Barbosa, managing partner da Faber Ventures, outra parceira da iniciativa, focada no investimento em empresas na fase inicial (pré-semente e semente) e cujo core-business sejam as tecnologias.
O investidor espera que essa equipa “seja capaz de identificar um problema claro e grande que queira endereçar, desenhar uma solução, que culmine num produto ‘best-in-class’ para resolver o problema identificado, e a capacidade de rapidamente desenvolver a solução para chegar ao mercado”, explica Alexandre Barbosa, salientando também a importância de um modelo de negócio “altamente escalável, privilegiando canais de distribuição digitais, para ganhar rapidamente dimensão com o mínimo capital possível”.
Não se trata só de capital
O acesso a capital não é o único apoio de que as startups beneficiam. O financiamento chega sob a forma de “smart money”, expressão usada pela Portugal Ventures para designar “capital aditivado com aconselhamento ao nível estratégico e de mercado e ‘network’ internacional”.
Também Alexandre Barbosa, managing partner da Faber Ventures, afirma que o apoio estratégico é “tão ou mais importante” que o financeiro e passa por abrir a sua rede de contactos, apoiar a startup nas subsequentes rondas de financiamento e ao nível operacional. “A capacidade de apoiar no recrutamento ou mesmo trabalhar ao lado dos empreendedores no produto para acelerar o ‘time to market’ pode fazer toda a diferença”, justifica.
O balanço até agora parece ser positivo. Após uma primeira vaga de empreendedorismo exposto a ecossistemas mais maduros, “há uma clara validação de ‘founders’ portugueses no cenário global”, afirma Alexandre Barbosa, que vê com satisfação uma série de empresas nacionais a conseguir fechar rondas de investimento A ou subsequentes com investidores “top tier” internacionais. Para o managing partner da Faber Ventures, EUA, Londres e Berlim continuam a ser as referências geográficas de investimento em projetos de tecnologia, em particular nas rondas de capital após as fases iniciais, onde o apoio português é mais limitado.
O grande salto que falta ao ecossistema português é “ter massa crítica de startups de grande sucesso que permitam o reinvestimento de mais-valias pelos empreendedores e primeiros investidores no ecossistema, gerando efeitos de um ciclo virtuoso”, defende a equipa da Portugal Ventures. No entanto, embora o caminho seja longo, só há, para
este investidor, uma forma de o fazer: “arriscar, investir, errar por vezes, e acertar”.