“O Marketing não é a arte de vender o que faz, mas saber o que fazer”, afirma o americano Philip Kotler, considerado mundialmente um dos maiores especialistas na área do marketing. Embora vá fazer 85 anos a 27 de maio, continua visionário e as expressões “marketing social” ou “demarketing” saíram da sua boca.
As seis startups que se seguem parecem ter retirado o melhor das 30 obras deste especialista. A capacidade de visão alocada ao desenvolvimento de soluções para estas áreas colocaram-nas diretamente na lista de 31 startups recentemente integradas na iniciativa Ativar Portugal Startups 2016, promovida pela Microsoft Portugal.
“O mais importante é prever para onde os clientes estão a ir”
Esta citação de Kotler parece assentar que nem uma luva à Attentive, que soube perceber o que os departamentos comerciais das empresas realmente precisavam: um software desenhado para as equipas de vendas ou CRM (gestão de relação com o cliente) que as ajuda com informação de contexto sobre os seus clientes.
Na prática, pode ser qualquer coisa como uma mensagem a avisar o gestor de um cliente específico de que este acabou de fechar um grande negócio internacional e que, portanto, vale a pena telefonar-lhe. Integrado em ferramentas bem conhecidas das vendas, como a Salesforce ou a Microsoft Dynamics CRM, este software é o assistente pessoal perfeito, sempre pronto para alertar em tempo real a equipa quando um novo produto é lançado, um diretor é substituído ou de que clube desportivo é o próximo cliente.
Preferências futebolísticas à parte, qual é o ROI (retorno do investimento) desta informação? Maior envolvimento com os clientes, mais negócios fechados. E para a Attentive? Depois de ter vencido, em 2015, o programa de aceleração da Beta-i, Lisbon Challenge, que lhes garantiu 100 mil euros da Caixa Capital, esta startup bracarense quer terminar o ano de 2016 com 400 contas fechadas. Bom balanço, portanto.
“Se criarmos uma relação de amor com o cliente, ele fará publicidade por nós”
Se é bem certa esta afirmação de Kotler, também é verdade que hoje as solicitações de atenção durante o dia são inúmeras – desde que pegamos no smartphone para ler as primeiras notícias do dia a todo um rol de atrações, desde que pomos o pé fora de casa. Esta abundância exige que as técnicas publicitárias sejam cada vez mais sofisticadas e inovadoras – em função do nosso perfil e comportamento.
A Wondeotec, uma spin off da Adclick, assume-se como um e-marketplace que coloca anúncios nativos baseados no comportamento dos consumidores nas redes na plataforma digital mais adequada. E percebeu que há um ambiente digital incontornável no nosso índice de atenção: o e-mail. Só em cerca de oito horas de um dia útil há um número tão complicado como 160 mil milhões de e-mails a circular entre mais de três mil milhões de utilizadores de Internet no mundo.
Por isso mesmo, as soluções nativas que a Wondeotec oferece exploram o canal de e-mail, quer para desktop quer para mobile, mas estão já também a estender a sua visão a outros ambientes digitais de troca de mensagens. Plataformas como o Viber, WhatsApp ou Messenger são hoje tão usadas como era o telefone fixo no apogeu dos Abba.
Também focada no desenvolvimento da publicidade digital e situada na cidade invicta, encontramos a ShiftForward. Trata qualquer plataforma de publicidade online (DSPs, SSPs, Ad servers, etc.), gestores de Yield, CMSs centrados em browsers ou recomendadores de produtos de larga escala por tu e desenvolve consultoria estratégica e tecnológica especializada em arquitetura e desenvolvimento de software para a indústria de publicidade online.
O produto desta startup que já converteu meio mundo em Portugal e na Europa chama-se AdStax e ajuda os utilizadores a gerir de forma mais eficiente grandes quantidades de informação, segmentando-a e enriquecendo-a. No entanto, todos os olhares estão virados agora para a mais recente plataforma – AdForecaster – que permite prever as impressões dos anúncios de uma campanha em segundos e, assim, perceber o seu potencial.
“É mais importante adotar a estratégia correta do que perseguir o lucro imediato”
No início dos tempos modernos digitais, ter uma loja online significava possuir um bilhete VIP para o País das Maravilhas do Lucro Imediato. Mas como Philip Kotler afirma, a estratégia é tudo. De que vale ter uma montra online se ninguém lhe bate à porta? A tarefa fica ainda mais árdua quando o aventureiro não sabe sequer o que significa a palavra “e-commerce” ou como alojar um site. Aqui, a escolha do canal é tudo e a Facestore percebeu isso há exatamente um ano.
A Facestore é uma plataforma de e-commerce – comércio online para quem não sabe – muito simples e intuitiva, que permite a qualquer pessoa criar uma loja online na sua própria página de Facebook ou Pinterest, otimizada para todas as resoluções de ecrã e em apenas poucos minutos.
Desta forma, os fãs ou seguidores serão potencialmente os primeiros clientes. A plataforma está cheia de funcionalidades apelativas: descontos para os melhores fãs, ofertas especiais e múltiplos métodos de pagamentos, do Paypal ao cartão de crédito e à transferência bancária. Por outro lado, o lojista consegue gerir facilmente uma ou mais lojas num único gestor de conteúdos. Para a loja ficar o mais atrativa possível, é possível customizar os produtos e o layout. E o apoio ao cliente começa logo no site da Facestore com chat em tempo real.
Em Abril de 2016, o Facebook tinha mais de 1,5 mil milhões de utilizadores em todo o mundo; o Pinterest mais de 100 milhões. Todos potenciais fãs dos mais de 15 mil clientes desta startup do Porto.
Ainda na esfera do e-commerce, a conversa está lançada com a SPEAK, uma plataforma que junta quem quer ensinar línguas e quem quer aprendê-las. Se não sabe o que significa “Sprechen Sie Deustch?”, mas quer passar uma temporada na Alemanha, ou alguém acabou de lhe pedir indicações na rua em inglês e não percebeu nada, então é melhor começar a pensar nisto.
O caráter inovador desta startup, com escritórios em Lisboa e em Leiria, não é naturalmente o ensino das línguas, mas a forma como tudo acontece – de forma rápida, simples e extremamente enriquecedora. Qualquer pessoa se pode inscrever como alun@ Speak e frequentar um curso de línguas, constituído por 12 aulas de 90 minutos cada. Ao mesmo tempo, qualquer pessoa pode voluntariar-se para ensinar uma língua ou cultura, incluindo a do país onde reside.
Do russo ao neeerlandês, do mandarim ao italiano, trocam-se experiências de línguas, mas também de culturas, promovendo redes de suporte entre migrantes ou refugiados e locais. Os cursos são pagos, mas esta startup acredita que, mais do que o lucro, este projeto contribui para resolver o problema da exclusão social de migrantes e da sua integração nas cidades. Uma verdadeira estratégia para o mundo multicultural. Capisce?
“O pensamento do marketing está a mudar, de forma a maximizar o lucro mútuo obtido entre cada relação”
Acabamos esta viagem pelo mundo das startups dedicadas ao marketing, publicidade e e-commerce com um exemplo que engloba tudo isto: a Arbor Media Broadcast & Conference Applications. Uma das melhores formas de envolver o público-alvo é levar os conteúdos de que necessitam até si, mesmo quando se trata de conferências e outros eventos nos quais nem todos podem participar fisicamente.
A Arbor Media fornece soluções de software para gravação, webcasting e live streaming de áudio e/ou vídeo. Isto significa que câmaras municipais, salas de tribunal, parlamentos ou qualquer organização que precise de gravação áudio e vídeo ou live streaming dos seus eventos encontra nesta empresa as soluções para os seus problemas. É uma verdadeira relação win-win.
A sede da empresa fica em Doetinchem, na Holanda, mas a startup Arbor Media – Tecnologias de Informação está situada em Lisboa, onde uma equipa de developers e designers trabalha em soluções OTT, com enfoque no desenvolvimento para smartphones e tablets. Resultado desse trabalho é, por exemplo, a solução cloud-based ConnectedViews que fornece conteúdos de rádio e televisão ao vivo e acesso video-on-demand em tables, smartphones e settop boxes.
Estas seis startups perceberam que a geração Y (Anytime, Anywhere, Any Device) tem necessidades específicas deste mundo digital e souberam desenhar soluções para o marketing, publicidade e comércio à medida das suas expetativas. Temos a certeza de que Philip Kotler lhes agradece.