A morte inesperada de Horácio Roque, o fundador do Banif, em 2010, “foi uma fatalidade terrível” para o banco, admitiu esta terça-feira o antigo presidente e administrador financeiro.

Carlos Duarte de Almeida, que esteve no Banif mais de 20 anos, testemunhou que o desaparecimento de Horácio Roque foi um problema adicional para o banco, a somar a todos os problemas que afetavam já a banca nacional. “Perdemos o nosso líder e o maior acionista de forma brutal e durante vários meses faltou orientação estratégica”, afirmou na comissão de inquérito ao Banif.

“Com ele ao nosso lado, outras soluções teriam sido analisadas e não estaríamos provavelmente aqui”, num inquérito parlamentar onde se discute a resolução do Banif.

Apesar de destacar o papel decisivo de Horácio Roque na criação do grupo Banif, que nasceu de uma caixa económica falida, admitiu também que terá havido um excesso de ambição no crescimento. “Havia a ambição de crescer sempre. O grupo tornou-se demasiado grande e demasiado complexo e tinha de parar dois anos para consolidar esse crescimento”.

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Olhando agora para trás admite que essa paragem deveria ter sido feita ente 2008 e 2010.

Mas o antigo gestor do Banif que Horácio Roque queria tornar o grupo num grande banco nacional, “era difícil convencê-lo a fazer um Stop and Go”. Roque queria que o Banif deixasse de ser o maior dos pequenos bancos, para passar a ser o mais pequeno dos grandes bancos.

Carlos Duarte de Almeida, que foi administrador financeiro durante vários anos e presidente executivo após a morte de Horácio Roque reconheceu também fragilidades na estratégia do Banif.

O elevado valor do crédito em risco, a exposição ao setor imobiliário e as dificuldades de consolidação de centenas de participações, foram fatores referidos, mas o antigo gestor assinala que o banco cresceu do nada, ao contrário de outras instituições que cresceram por aquisições. E para crescer teve de apostar nas margens do sistema bancário onde o risco é maior.

Duarte de Almeida foi questionado sobre as falhas e irregularidades detetadas na auditoria forense desenvolvida pela Deloitte a pedido do Banco de Portugal. O relatório que incide sobre 36 operações de decididas entre 2007 e 2012 identificou várias falhas na concessão de crédito, designadamente ao nível da atribuição de créditos e negociação de condições e juros, contra a recomendação do analista de risco. Outra das falhas identificada teve que ver com o incumprimento do limite da concessão de crédito a partes relacionadas, acionistas e empresas do grupo.

Joaquim Paulo, responsável por esta auditoria, ouvido também está terça-feira, revelou que estes empréstimos foram aprovados pela comissão executiva do Banif. Duarte de Almeida, que foi administrador financeiro sem o pelouro do crédito, desconhece as irregularidades que terão sido apontadas por esta auditoria que ficou concluída em 2014. E lembra que há outros fatores que pesam na concessão e renegociação de crédito.

Nega ainda que o Banif tivesse alçapões e esqueletos no armário. Destaca contudo que o banco tinha uma elevada exposição ao imobiliário. Ainda que essa carteira tivesse um grau significativo de colaterais, a crise no imobiliário desvalorizou os imóveis dados como garantia e obrigou a reconhecer um nível crescente de imparidades (perdas).

Sobre as irregularidades detetadas no Brasil e que levaram a uma inspeção do Banco de Brasil, o gestor diz que foram uma surpresa. Mas apesar de reconhecer a sua gravidade, perdeu-se cerca de 30% da carteira de crédito, desvaloriza o impacto dos problemas do Banif Brasil no grupo Banif. E realça que 50% das provisões que o Banco do Brasil obrigou a fazer foram já anuladas.

Carlos Duarte de Almeida saiu da presidência executiva do Banif em 2012, tendo sido substituído por Jorge Tomé. Justifica a sua saída com a convicção de que o “Grupo Banif para mim era o comendador Horácio Roque”. Por outro lado, a herança manifestou a vontade expressa de cortar com o passado e relançar o banco com outras perspetivas.

Reconheceu igualmente que deixou uma herança difícil à nova gestão que teve de recorrer a uma capitalização pública em 2013.