Muitos provavelmente nunca ouviram falar dela, mas conhecerão a música “Grow” de um anúncio com generosa rodagem. O nome da intérprete e compositora é Frances, 23 anos, a britânica que tem sido comparada a Adele e Ellie Goulding pela crítica. Não tem nenhum álbum lançado, apenas um conjunto de singles como “Don’t Worry About Me”, “Borrowed Time” — feito com Howard Lawrence dos Disclosure — e o mais recente, “Say It Again”, escrito com Greg Kurstin, um dos responsáveis do êxito “Hello” de Adele. Frances fez as primeiras partes dos concertos de James Bay nos Estados Unidos e de Sam Smith no Reino Unido. Esteve nomeada este ano para os Brit’s Critics Choice e para o BBC Sound of 2016. Esta quarta-feira à noite atua no EDP Cool Jazz em Oeiras. Antes, falou com o Observador e começou por esclarecer o que já sabia sobre Portugal e os portugueses:
Olá Frances, bem-vinda a Portugal…
Obrigada. Estou muito contente por estar aqui e estou ansiosa para saber se tudo se confirma.
Como assim?
Ah, ouvi dizer que os portugueses são muito expressivos nos concertos, que fazem questão de manifestar quando estão ou não a gostar do que está a acontecer palco. E quero ver como é que fazem isso. Até porque é para isso que faço canções.
Já agora, como é que começou o seu percurso na música?
Comecei com o violino e depois, a partir dos dez anos, comecei a tocar piano. Ao longo dos anos fui cantando e cheguei até aqui. É bastante simples, na verdade, e não tem nada fora do comum.
É verdade que aprendeu a tocar piano com os Radiohead?
Sim… bom, mais ou menos… tive aulas clássicas de piano e o meu pai comprava-me livros com canções de Radiohead e da Carole King. Acho que podemos concluir que sim, aprendi com eles.
Começou a escrever as suas próprias músicas com 12/13 anos…
Sim, com 12 anos. Sim, é uma idade meio estranha. Sobre o que escreve uma rapariga de 12 anos, não é?
É uma boa pergunta…
Nessa altura, lembro-me que escrevia sobre um amigo que sofria de bullying. Acabou por correr tudo bem com ele. Naquela idade não se escrevem letras muito profundas, provavelmente focava-me mais nas melodias. Não pensava demasiado nas letras, escrevia porque gostava. Bom, é claro que agora nada daquilo parece coisa profunda mas a verdade é que são as coisas mais importantes, nada mais interessa. Depois aos 16, 17 anos, entra a parte mais romântica da coisa.
Ainda assim, não escrevia sobre amor como faz hoje…
Provavelmente nem sabia bem do que estava a falar, mas escrevia sobre o que quer que fossem as minhas experiências. A essência mantém-se a mesma. Se eu não acreditar no que escrevo, não vale a pena. Também não posso esperar que alguém acredite. As pessoas identificam-se com as letras quando são escritas e cantadas com honestidade e aí o amor ganha sempre porque ninguém lhe consegue escapar. E os artistas arranjam sempre uma forma de escrevê-lo de maneira diferente. Mesmo que não seja uma relação amorosa, pode ser uma amizade. As pessoas não vivem isoladas, há sempre algum tipo de ligação.
Conquistar este tipo de reconhecimento público e ter uma vida normal, aos 23 anos, é possível?
Claro que é. Talvez para algumas pessoas seja difícil, mas não para mim. Faço bom uso de tudo o que esta vida me traz, claro que sim, mas também me tento rir de algumas coisas. As pessoas levam tudo muito a sério. O mundo da música é serio, mas eu faço dela a minha vida. Tenho de aproveitar.
Algumas pessoas comparam-na com gente como Adele e Ellie Goulding. O que pensa sobre isso?
É fantástico! E sobretudo um pouco estranho porque elas já têm uma carreira consolidada, com canções incríveis, são muito bem-sucedidas e eu estou apenas a começar. Ser comparada com elas, neste momento, é fantástico. Ninguém sabe se terei um quarto do sucesso delas. Teremos de esperar para ver.
Mas acredita que tem alguma coisa que a permite distinguir de outros artistas e alcançar tal nível de sucesso?
Acho que sim. Quando comecei, tentei cantar afastada do piano, mas tornou-se muito estranho. E depois pensei: ‘se escrevo as minhas canções ao piano, porque não hei de cantá-las também?’. Percebi que podia ser uma artista a cantar ao piano e distanciar-me, por exemplo, do R&B da Alicia Keys. Podia modernizar e tornar-me uma espécie de Carole King. Não exatamente uma Carole King, porque ela é fantástica, mas apenas ser a Frances a cantar ao piano. Ou então com banda. Já agora, uma das novidades deste concerto é que vou trabalhar com uma banda. Eles estão a viajar para Portugal, são apenas três pessoas e vão cantar. Vai ser divertido, escutar e trabalhar com diferentes harmonias. Continuarei a ter momentos em que serei apenas eu e o piano. Vão ser apenas algumas canções, para não me perder e para acrescentar um pouco de dança e ritmo.
E não decidiu ter uma banda consigo porque estar sozinha em palco pode ser assustador?
Isso era mais no início, agora nem por isso. Acho até que as pessoas vão a muitos concertos cheios de luzes e com muita coisa a acontecer. Isso é fantástico e um dia também gostaria de ter um concerto assim. Mas neste momento, de forma a destacar-me, parece-me que é bom ter um bocadinho de calma. Deixar as pessoas entrar e ter um ambiente mais íntimo, que faz com que as pessoas ouçam as minhas músicas e letras com mais atenção.
O que ouvia quando estudava na Saint Gabriel’s School e na universidade?
Ouvia muito dos discos que o meu pai tinha em casa: Radiohead, Coldplay e algumas bandas de indie rock. Já com a minha mãe, ela adorava tudo o que era Motown e eu ouvia todas as músicas de que ela gostava. Muitas letras de gente da Motown foram escritas pela Carole King. Quando ouvi as versões cantadas por ela tive uma espécie de epifania. Depois, também ouvia as Spice Girls e muitos artistas pop, claro, era impossível não ouvir isso.
Deu uma entrevista a um site de notícias que utilizou este título: “Da vida do campo para as luzes brilhantes”. A vida nas grandes cidades já a conquistou?
Mudei-me para Londres. Antes, já tinha vivido numa cidade quando fui para a universidade. Não era uma cidade grande, era intermédia, não tão movimentada como Londres. Quando me mudei para a capital, vivi num apartamento muito pequeno: apenas o suficiente para ter espaço para o piano, o computador e a cama. Ainda assim, tive sorte nestas mudanças e nunca senti que vivi afastada dos centros urbanos. Quando era pequena fazia pequenas viagens até Londres. Obviamente, viver lá é completamente diferente.
Concerto a partir das 21h30 nos Jardins do Palácio do Marquês de Pombal, em Oeiras. Bilhetes a 25 euros.