O deputado socialista Eurico Brilhante Dias, responsável pela redação do relatório com as conclusões da Comissão de Inquérito ao Banif, afirma, em entrevista ao jornal i, que o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, “quis dar tanta confiança ao mercado” que acabou por dar garantias arriscadas e que hoje não daria.
“[Carlos Costa] Foi temerário. Quis dar tanta confiança ao mercado que arriscou uma frase que eu acho que hoje não proferiria”, respondeu o deputado, quando questionado sobre declarações que o governador fez a propósito da injeção de capital público no Banif, ocorrida em 2012. Eurico Brilhante Dias disse ainda que Carlos Costa tinha elementos, já na altura, para perceber que era arriscado dizer o que disse e que “hoje se arrepende dessa frase”.
É preciso recuar a 2013 para perceber de que frase se está aqui a falar. Em fevereiro desse ano, semanas depois da injeção de capital público — num total de 1.100 milhões de euros — Carlos Costa foi à Comissão de Orçamento e Finanças precisamente para falar sobre essa operação e, na altura, declarou, perante os deputados que “o Estado terá o resultado da valorização da sua posição e do facto de ter entrado a um preço de desconto”. Disse ainda que “o que está previsto no plano de negócios é que o Banif estará em condições de assegurar, no final do período [de cinco anos], uma rentabilidade estimada para a participação do Estado de 10%”.
O que acabou por não se confirmar e o Estado não só não teve lucro, como não recuperou o montante injetado, como ainda teve de colocar mais dinheiro no Banif.
Apesar disso, na mesma entrevista, Eurico Brilhante Dias volta a dizer aquilo que já tinha dito na apresentação do relatório: Carlos Costa “não teve nenhuma falha grave” neste processo.
Os culpados pela fatura de mais de três mil milhões em nome do Estado são, segundo as conclusões deste relatório, que já vai com 483 páginas, os acionistas, o Banco de Portugal e o Governo de Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque, cada um com o seu “grau” de responsabilização. “Os primeiros responsáveis pela situação do Banif são aqueles que geriram o banco até 2012”, acrescenta o deputado, não esquecendo de referir que também a “troika tem responsabilidades, até no caso particular do Banif, porque impôs ou sugeriu, pelo menos, requisitos para o processo de recapitalização pública e acompanhava não só o Banif como as outras instituições numa base trimestral”.
Por isso, segundo o deputado, “tudo aquilo que nós hoje vivemos no setor bancário e financeiro, sem dúvida que era claramente previsível nos anos da troika”.
Aliás, remata Eurico Brilhante Dias, ” a partir de meados de 2014 começa a ser evidente que o banco não tem grande alternativa” e que, “entre esses meados de 2014 e o fim de 2015, este processo teria de ter tido uma solução e a antecipação da solução podia ter permitido uma resolução menos onerosa”.
O deputado socialista afirma que a crise do sistema bancário existe mas que é “difícil antever se será como a do Lehman Brothers”.