Com o crescimento do número de passageiros na casa dos dois dígitos em Portugal, e em particular em Lisboa, o diretor comercial da Easyjet Portugal defende a necessidade de reorganizar o espaço aéreo à volta da capital para reforçar a capacidade aeroportuária o quanto antes. E isso passa por fechar a pista transversal da Portela e usar a base aérea do Montijo como aeroporto secundário, refere José Lopes em conversa com o Observador.

Para o responsável da companhia, esta solução “permite aumentar a capacidade aeroportuária de Lisboa e permite também à Easyjet crescer na Portela”. Não está contudo nos planos da low-cost britânica, que é já a terceira maior companhia em Lisboa por número de passageiros, passar a voar para o Montijo.

“O ADN da Easyjet é operar em aeroportos principais e não secundários, independentemente das taxas aeroportuárias. Os slots (intervalos temporais para aterrar e descolar) são das companhias. Ninguém pode ser empurrado. E os passageiros de pequeno e médio curso são os mais sensíveis em termos de tempo, sem falar no custo extra para o passageiro. Não faz sentido ir para o Montijo quando estou a concorrer com companhias tradicionais que estão na Portela”.

O reforço da capacidade aeroportuária em Lisboa não passa apenas pela solução Portela mais um, o responsável da Easyjet refere também a importância da atualização de software por parte da NAV (empresa de navegação aérea) que tornaria mais eficiente a gestão do espaço aéreo.

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Para José Lopes, quanto mais rapidamente a Portela puder começar a crescer, melhor. No entanto, em declarações ao Observador, realça: “Não acredito que nos próximos dois anos tenhamos um impacto real ao nível do aumento da capacidade“. A solução de recorrer ao Montijo como aeroporto secundário da Portela tem encontrado resistências do lado da Força Aérea e mesmo o atual Governo não parece estar já totalmente convencido. O projeto chegou a estar quase decidido pelo anterior Executivo, mas o ministro do Equipamento e Infraestruturas, Pedro Marques, tem remetido a decisão para 2017, aguardando o resultado de mais estudos.

Apesar de uma forte subida da procura em Lisboa, o diretor da Easyjet não considera que a capacidade da Portela esteja esgotada. Lisboa, assinala, está congestionada nas horas de pico, mas tem capacidade para crescer fora desses horas. E a Easyjet aposta num novo reforço da oferta em 200 mil lugares no ano que agora começou, o que representará um crescimento de 9%, face ao registado este ano civil. A companhia britânica que opera a partir do terminal 2 terminou no ano fiscal de 2015/16 com um aumento de 11% no tráfego em Lisboa, ultrapassando a fasquia dos dois milhões de passageiros.

Taxas subiram 24% desde venda da ANA. “Podíamos estar a crescer mais”

Apesar de considerar que a capital portuguesa continua a ter condições para crescer, na atração de turistas e passageiros aéreos, José Lopes deixa um alerta que tem sido recorrente por parte das companhias aéreas desde a privatização da ANA em 2013.

“Temos vindo a perder competitividade” por causa dos sucessivos aumentos das taxas aeroportuárias. O modelo de regulação económica definido para a concessão do aeroporto de Lisboa prevê um aumento das taxas aeroportuárias quando o tráfego de passageiros sobe e para janeiro de 2017 está anunciada mais uma subida, de 2,6%.

Desde a privatização da empresa gestora dos aeroportos e até 2016, o aumento acumulado das taxas vai em 24%. E Portugal, lembra o diretor comercial da Easyjet, “não é um mercado emissor”. Se é certo que o crescimento do tráfego na Portela não parece ressentir-se, José Lopes diz que as companhias, em particular a Easyjet, têm evitado transferir esse custo para os passageiros, e adianta: “Deveríamos estar a crescer mais”.

“Temos vindo a alertar a ANA e a Vinci para o perigo. Temos de ter capacidade de reter os passageiros que estão agora a trocar outros destinos por Portugal. Podemos a estar a pôr em causa crescimentos futuros.”

2016 “foi um ano muito bom” para a Easyjet Portugal

A Easyjet, que apresentou esta terça-feira os resultados do ano fiscal 2015/16, teve um ano “muito bom em Portugal”. A nível internacional, a transportadora inglesa anunciou uma queda de 28% nos resultados para 570 milhões de euros e um recuo de 0,4% na receita, não obstante o crescimento de 6% no número de passageiros transportados. Os resultados foram penalizados por fatores externos ao negócio como os atentados terroristas no centro da Europa e o Brexit que desvalorizou a libra.

O outro lado da moeda de alguns fatores negativos que atingiram a indústria passou por uma mudança no perfil dos passageiros da Europa Central, que trocaram destinos no Norte de África pela Península Ibérica e, em particular, por Portugal. Um fenómeno que a Easyjet, sublinha José Lopes, conseguiu capitalizar com um crescimento de 19% face ao ano passado no número de passageiros.

A companhia ultrapassou a meta estabelecida para 2016 e atingiu os 5,4 milhões de passageiros, reforçando a sua quota no mercado nacional para 12,8%. Este crescimento, acrescenta o responsável comercial, registou-se em todos os aeroportos onde a Easyjet opera em Portugal, com destaque ainda para o Porto onde a subida foi de 40%, fazendo da companhia a segunda maior operadora em número de passageiros, a seguir à Ryanair.

Para este ano, o objetivo é chegar aos seis milhões de passageiros, dos quais 1,5 milhões no Porto. Na Madeira, onde será lançada uma rota direta Funchal/Basileia, a meta é superar o meio milhão de passageiros.

José Lopes afirma ainda que o objetivo da Easyjet, que atualmente é a terceira principal companhia aérea a nível nacional, é ser a transportadora favorita dos portugueses e justifica a condenação recente no tribunal da concorrência por cerca de 90 violações dos direitos dos passageiros. Em causa estava um mega-processo instaurado pelo regulador, a ANAC (Autoridade Nacional da Aviação Civil) relativo a queixas antigas, anteriores a 2009 e 2010. José Lopes salienta a redução da coima aplicada pela ANAC de meio milhão de euros para 50 mil euros, valor que corresponde à compensação a pagar aos antigos passageiros. O responsável assegura que todos estão a ser contactados, mesmo aqueles que já terão sido ressarcidos, embora reconheça que alguns registos já não existem. “Não nos importa fechar este processo e limpar o histórico”.

Realçando a mudança na política comercial operada com a chegada de Carolyn McCall ao cargo de presidente executiva da Easyjet, com um maior foco no passageiro, José Lopes diz que a empresa não olha para esta questão como um custo. “Para nós é um investimento e procuramos ir um pouco além do que é obrigatório”.