A doença de Parkinson, que já afeta quase 20 mil portugueses, vai aumentar com o envelhecimento da população, sendo a patologia neurodegenerativa mais prevalente a seguir ao Alzheimer, disse à agência Lusa a neurologista Cristina Januário.
“A incidência da doença é grande e temos dificuldade em ter estudos epidemiológicos em Portugal, mas fizemos um patrocinado pela Associação de Doentes de Parkinson e a prevalência estimada é de 180 por 100 mil habitantes”, adiantou a especialista do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).
Salientando que o Parkinson é “também uma doença do envelhecimento”, a médica Cristina Januário alerta que a população portuguesa está a envelhecer, o que aumenta a sua prevalência.
Apesar de a doença ser progressiva e de ainda não se poder travar o seu curso, alguns doentes conseguem reunir os requisitos para se submeterem a uma terapêutica disponível desde 2002, que consiste no implante de um dispositivo médico que estimula núcleos específicos no cérebro.
Nos últimos anos, cerca de 900 doentes em Portugal recuperaram autonomia e mobilidade através daquela cirurgia inovadora, que trouxe melhorias significativas na qualidade de vida dos pacientes ao baixar as dosagens de medicação e ao reduzir os sintomas motores.
“A eficácia desta intervenção depende muito da seleção dos doentes, porque nem todos podem ser sujeitos à cirurgia, nem todos têm eficácia com esse tratamento. E depois há um acompanhamento no pós-operatório que é fundamental”, considerou o neurologista Fradique Moreira, da consulta de estimulação cerebral profunda nos CHUC.
A cirurgia é normalmente feita a doentes com estádios avançados da doença, mas que tenham uma boa resposta à levodopa, fármaco que substitui o défice de dopamina, um neurotransmissor que deixa de ser fabricado em doentes de Parkinson.
De acordo com o especialista, existem três etapas fundamentais para o sucesso da cirurgia.
“A seleção criteriosa, saber o doente que temos à frente e gerir as suas expectativas, e o acompanhamento pós-operatório”.
Para Cristina Januário, o grande objetivo da intervenção passa por baixar a dose de medicamentos que o doente toma, porque tem efeitos secundários, e reduzir os sintomas motores.
“Conseguimos dar uma boa qualidade de vida e melhorar os sintomas que já não estavam a ser controlados pela medicação. O doente fica com uma boa capacidade motora, mas a doença continua a progredir, pois é degenerativa e ainda não conseguimos travar o seu curso”, observou.
Segundo Fradique Moreira, no acompanhamento pós-operatório é feita uma gestão entre a estimulação que é fornecida ao doente e a gestão também da medicação.
“Não se opera o doente e já está. O objetivo é estabelecer um circuito cerebral, de forma a estabelecer a aplicação de uma estimulação com determinada frequência”, explicou o neurologista, salientando que é necessário ajustar e regular o aumento da estimulação e o decréscimo da medicação.
No CHUC, que realizada esta intervenção desde final de 2012, já foram operadas 42 doentes, numa média de cerca de um por mês, mas o objetivo é continuar a crescer.
Anualmente, a especialidade de doenças do movimento naquela unidade hospitalar realiza cerca de 2.600 consultas, sendo maioritariamente referentes à doença de Parkinson.
O grande desafio da doença, que afeta quase 20 mil portugueses, é descobrir o mecanismo que leva um grupo de neurónios a deixar de produzir a substância dopamina, considerou a neurologista Cristina Januário.
“O grande desafio passa, sobretudo, por entender qual o mecanismo que leva a que aqueles neurónios deixem de produzir a substância que deviam produzir, aí é que será a forma mais interessante de atuar”, frisou a especialista do CHUC.
Na terça-feira, 11 de abril, assinala-se o Dia Mundial da doença, que atinge mais de uma em cada mil pessoas na Europa. É a data de nascimento do médico James Parkinson, o primeiro a descrever a doença faz precisamente 200 anos.