A Câmara Municipal de Lisboa anunciou esta semana que vai “recuperar e devolver à cidade” um antigo armazém de alimentos, conhecido como Pavilhão Azul, transformando-o em novo centro de arte contemporânea, gerido pelo município. As obras devem demorar mais de ano e meio. “Se tudo correr bem, o espaço abre no primeiro trimestre de 2019”, adiantou ao Observador o futuro diretor, Sérgio Mah.

Situado na Avenida da Índia, junto ao Centro Cultural de Belém (CCB), o Pavilhão Azul vai acolher a coleção pessoal do artista lisboeta Julião Sarmento, de 69 anos. A coleção foi iniciada no fim da década de 60, quando Sarmento era ainda estudante, e é constituída por mais de 1200 obras de arte. Será este o acervo do novo centro. O artista e o presidente da Câmara, Fernando Medina, assinaram na segunda-feira, 29, um protocolo de cedência da coleção por um período de cinco anos.

O projeto, entende a Câmara, visa reforçar Belém como polo de arte contemporânea da capital, adensando uma zona que conta já vários museus – Mosteiro dos Jerónimos e Torre de Belém, Museu da Marinha e Planetário, CCB e Museu Coleção Berardo, Museu dos Coches e MAAT, e ainda o futuro Museu Berardo de Art Nouveau e Art Déco (com abertura prevista para depois de Setembro).

“Será importante perceber o Pavilhão Azul e a sua atividade no contexto de Belém e em contraponto ao trabalho que já aí se desenvolve no âmbito das artes plásticas”, informou o gabinete da vereadora da Cultura de Lisboa, Catarina Vaz Pinto.

O espaço precisa ainda de obras de reabilitação, cujo desenho está a cargo do arquiteto João Carrilho da Graça. “É cedo para saber quando estarão prontas as obras. Há uma série de formalidade e procedimentos a cumprir e o arquiteto ainda está a trabalhar no projeto”, explicou o diretor.

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Sérgio Mah é professor de artes visuais na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa, foi responsável pela bienal LisboaPhoto no início dos anos 2000 e comissário da PhotoEspaña.

O convite para dirigir o Pavilhão Azul foi-lhe dirigido pela Câmara depois de Julião Sarmento “ter dado opinião”, acrescentou. Questionado sobre se as artes visuais, nomeadamente a fotografia, terão especial destaque nas exposições temporárias do Pavilhão Azul – a partir de diversas leituras do acervo agora doado–, Sérgio Mah respondeu que não.

“A coleção de Julião Sarmento será a referência. É constituída por obras de pintura, escultura, vídeo, fotografia e instalação de artistas portugueses e estrangeiros. Não vou privilegiar a apresentação de um meio nem de um estilo, vamos procurar um diálogo com outras coleções e com obras de portugueses e estrangeiros”, adiantou o diretor, sem entrar em pormenores.

Nan Goldin, Andy Warhol, Cindy Sherman, Bruce Nauman, Marina Abramovic e Joseph Beuys são alguns dos nomes internacionais da coleção, divulgou a agência Lusa. Entre outros portugueses, estão representados Eduardo Batarda, Fernando Calhau, Pedro Cabrita Reis, Jorge Molder e António Palolo.

O diretor acrescentou que nos primeiros cinco anos de existência do Pavilhão Azul, entre 2019 e 2024, a coleção de Sarmento será o foco do espaço, o que deixa em aberto a renovação do protocolo de cedência ou a inclusão de outros acervos.

Originário do século XVIII, o Pavilhão Azul foi adquirido pela Câmara em 1942 à Companhia Industrial de Portugal e Colónias, informou o gabinete da vereadora da Cultura. Aquela companhia tinha sido constituída em 1919. Nas décadas de 30, 40 e 50 ganhou notoriedade, abrangendo 15 fábricas, todas relacionadas com a indústria alimentar – moagens, massas alimentares, bolachas e biscoitos, produtos congéneres, malte, rações e gelo. Nas últimas décadas, o espaço foi utilizado para diversos fins de armazenamento, incluindo ao serviço da associação ModaLisboa.