Qualquer fã da Nintendo que se preze deixa um pedido anual específico ao Pai Natal: “Portei-me muito bem este ano, traz-me por favor um novo Metroid em 2D”. Para qualquer nintendista, a exploradora espacial Samus Aran é a Encoberta, aquela que virá das brumas para elevar o nome da Nintendo. Depois de 13 anos de espera este pedido acabou por ser acedido com o lançamento de Metroid: Samus Returns.

Este novo jogo é o remake de Metroid II: Return of Samus (1991) do Game Boy, o segundo da série e o primeiro disponível numa plataforma portátil. Samus Aran, a primeira protagonista feminina dos videojogos, sem qualquer representação sexualizada ao longo de três décadas e, possivelmente, uma das mais intrépidas personagens da história do meio está de regresso. Depois dos acontecimentos do primeiro jogo (que curiosamente foi soberbamente refeito em 2004 com o título Zero Mission) e do encontro com os Space Pirates que tentavam fazer dos parasitas Metroid autênticas armas biológicas, a Federação envia-a ao planeta SR388, de onde as criaturas são originárias. A missão no planeta é simples: os genocídio “preventivo” dos Metroid.

Depois de termos passado alguns meses aqui a falar desta vaga de remakes e remasters, a maioria deles a limitarem-se a fazer um update visual, é interessante perceber que Samus Returns é muito mais do que isso. Não fosse o facto de o jogo original ter sido construído no monocromatismo possível do ecrã do Game Boy, mas também porque a aclamada série (que acabou por fundar um género) evoluiu muito desde a sua criação em 1986 até hoje, e isso percebe-se na re-imaginação que deu origem a este jogo.

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Os metroidvanias (neologismo de cruzamento entre Metroid e Castlevania) são jogos de exploração originalmente em 2D, onde vamos adquirindo ao longo do jogo as ferramentas que nos permitem aceder a novas áreas do mapa. Seja uma plataforma demasiado alta à qual ainda não conseguimos aceder, ou uma parede que para ser destruída necessita de uma arma que não temos, é neste clima de descoberta, revisita e redescoberta que o género foi criado, sob as fundações de Metroid (e mais tarde de Castlevania: Symphony of the Night de 1997).

O que o estúdio espanhol MercurySteam fez neste remake do segundo Metroid foi uma grande dose de reconhecimento por todo o trajeto que as muitas iterações da série fizeram nestas três décadas. As habilidades do fato da destemida Samus Aran não se resumem àqueles que possuía no jogo original, e ao qual foram adicionados muitos outros conhecidos dos fãs, para além de novos poderes que ajustam o jogo à atualidade.

Nem a série era conhecida por ser fácil, nem este jogo o é, ainda que possua algumas novas características que o tornam desafiante mas igualmente acessível a todos. Sendo um jogo de exploração e descoberta, grande parte da progressão e do encontro de segredos e salas escondidas estavam a cargo da sorte e da mestria do jogador. A inclusão de uma espécie de sonar que revela por instantes algumas paredes destruíveis que nos conduzam a salas secretas vem minimizar esse clima de tentativa-erro presente nos jogos originais.

Também num clima perfeitamente contemporâneo, Samus possui agora a capacidade de desferir um ataque físico, e contra-atacar (se o botão for acionado no momento certo) qualquer investida de qualquer inimigo, criando aqui uma nova mecânica que é uma verdadeira inovação para toda a série.

Os controlos foram também atualizados para as possibilidades técnicas da Nintendo 3DS. Ao contrário dos antigos Metroid bidimensionais no qual só conseguíamos disparar em oito direções, aqui conseguimos disparar em 360º. Este facto permitiu que os developers tornassem os adversários mais agressivos e imprevisíveis, já que existe uma forma justa de os defrontarmos.

A construção de todo o ambiente é exímia, e sente-se o quanto este jogo está a puxar até ao limite as capacidades técnicas da consola. A mistura entre a reinterpretação artística daquilo que eram pormenores simples no jogo de há 26 anos, transportado para as capacidades gráficas atuais e a reinvenção do planeta, é um dos melhores pontos de todo este Samus Returns. Fazendo deste jogo um dos que mais ganha com a ativação do 3D na consola, uma potencialidade que parece esquecida por muitos, tanto developers quanto utilizadores. Somando a isto do facto da consola possuir dois ecrãs, a exploração tornou-se mais “imediata” com o ecrã inferior a mostrar o mapa dos níveis em constante atualização.

O mundo deste Metroid: Samus Returns é longo e existe muito conteúdo para explorar e muitos segredos para descobrir pelos túneis labirínticos do planeta. Com um desafio elevado para o habitual do mainstream contemporâneo, o que este jogo consegue fazer é muito mais do que se esperaria. Não se limita a fazer um upgrade do jogo original, mas lê-lo, compreende-o e reinventa algo (quase) completamente novo, agradando a público já conhecedor da série e a novos jogadores.

O que queremos é que Metroid: Samus Returns seja acima de tudo um passo na possibilidade de vermos um Metroid totalmente novo, bidimensional, a chegar à Switch. Bem sabemos que no futuro próximo chegará um na primeira pessoa à nova consola da Nintendo, mas depois de vermos a indiscutível qualidade deste jogo da 3DS arrogamo-nos o direito de pedir sempre mais. E um Metroid 2D é algo que nunca é demais.

Metroid: Samus Returns está à venda em retalho e em formato digital em exclusivo para a Nintendo 3DS com um preço indicado de 44,99€

Ricardo Correia, Rubber Chicken