O secretário de Estado da Defesa acusou esta manhã PSD e semanário Expresso de protagonizarem uma “ação concertada” no episódio que levou à publicação de uma notícia que cita um relatório produzido por “serviços de informações militares” em que são tecidas duras críticas ao ministro da Defesa. Na TSF, Marcos Perestrello sublinhou a “conjugação entre noticias mal explicadas” que são “imediatamente cavalgadas pelo principal partido da oposição com objetivo de desviar a atenção do essencial do debate político”. PSD considera a leitura “surreal” e sublinha que quer “acesso a toda a informação” sobre o assalto aos Paióis Nacionais de Tancos.
Esta segunda-feira à noite, em Loures, o primeiro-ministro já tinha feito uma colagem entre a última manchete do semanário Expresso – “Relatório das secretas sobre Tancos arrasa ministro e militares” – e o aproveitamento político dessa notícia. Agora, Marcos Perestrello concretiza a leitura do Governo sobre o episódio, lançando suspeitas sobre o principal partido da oposição e sobre o próprio semanário. “Este caso acaba por renascer de uma manchete do Expresso que vem falar de um relatório arrasador, feito pelos serviços de informações militares, mas que vai evoluindo e que, afinal, já não é um relatório dos serviços de informações militares, é apenas um documento que alguém, não se sabe quem, fez, que se diz que é secreto mas que, não tendo sido produzido por nenhum organismo oficial, não pode ter a classificação de secreto”, disse o secretário de Estado na TSF.
Numa participação no Fórum TSF, Marcos Perestrello sugeriu uma ação combinada entre PSD e semanário. ““Assistimos, nos últimos meses, na sequência de momentos difíceis que o país passou, primeiro com a tragédia de Pedrógão Grande, depois, com este incidente grave nos Paióis Nacionais de Tancos, assistimos a uma ação concertada do PSD (…), assistimos a uma conjugação de uma ação entre notícias mal explicadas, manchetes mal explicadas e imediatamente cavalgadas pelo principal partido da oposição com o objetivo de desviar as atenções do essencial do debate político, com o objetivo de atacar o Governo sem olhar a tudo aquilo que fica pelo caminho em termos de terra queimada”.
O Observador tinha tentado obter do secretário de Estado um esclarecimento sobre as suas declarações, mas Marcos Perestrello preferiu remeter para a sua intervenção naquela rádio. O porta-voz do ministério da Defesa alertou depois para uma outra passagem da intervenção de Perestrello, que serviria esse propósito. Nessa segunda intervenção, confrontado com as suas declarações anteriores, o secretário de Estado muda a formulação inicial.
“Há um relatório que é publicado no Expresso, cuja origem ainda não se conseguiu perceber qual é, sabemos que não é um relatório oficial e nem é um relatório, é um documento, um documento que alguém escreveu como outra pessoa qualquer podia ter escrito, um documento que, aparentemente, tem um valor muito reduzido, que se limita a expressar uma opinião como outra qualquer, um documento que, pelo que conhecemos, é mais opinativo que factual, e com base nesse documento que saiu publicado o PSD cavalgou uma onda com a qual tenta atacar o Governo sem olhar a tudo o que é destruído pelo meio”, disse o governante.
Perestrello desafia, por isso, o semanário a revelar o documento. “Era, se calhar, útil para desfazer a nebulosa que o PSD, com a ajuda do Expresso, veio criar, que o Expresso revelasse o documento que tem”. Essa revelação ajudaria a “perceber a sua origem”, disse o governante, sublinhando que “é preciso trabalhar com cautela e responsabilidade sobre assuntos sensíveis e que podem por em causa estruturas essenciais do Estado português”.
A ideia de que o Expresso possa revelar integralmente o documento recolhe apoio junto do deputado Carlos Costa Neves, membro da comissão de Defesa. Mas, ao Observador, Costa Neves rejeita qualquer responsabilidade na divulgação do relatório referido na notícia do Expresso. “É surreal, não foi o PSD que trouxe este assunto para a praça pública”, refere o deputado.
Ao mesmo tempo, Costa Neves refere que “o PSD tem um papel institucional que lhe dá o direito de perguntar e de obter respostas” sobre o desaparecimento de armamento militar de Tancos. “Queremos esclarecimentos, que mais uma vez o secretário de Estado não trouxe”, diz. “O que traz é uma manobra de diversão”, ao sugerir uma “ação concertada” entre PSD e Expresso. “A única coisa que queremos é ter acesso a toda a informação que existe, três meses depois daquilo que queremos acreditar que tenha sido um assalto”.
A notícia do semanário, sublinha o deputado, vem na sequência de uma série de episódios que, para os sociais-democratas, continuam a não servir de explicação para o que se passou em Tancos. “Foi o Chefe do Estado-Maior do Exército quem exonerou cinco chefias militares” que depois renomeou; convocado para ir ao Parlamento, o ministro dá uma entrevista à RTP que, “em vez de esclarecer a confusão ainda a aumenta”; António Costa “regressa de férias e convoca as chefias militares” para uma reunião “que todos viram como uma tentativa de desvalorizar o assunto”; dois generais “de topo” do Exército pediram a passagem à reserva; e, por fim, a notícia do Expresso. “Algo de muito grave se passa em tudo isto e o Governo não dá explicações e, quando se sente apertado, passa ao ataque”, acusa Costa Neves.
[Notícia atualizada às 18h10 para incluir mais declarações do secretário de Estado da Defesa]