“Depois de ter jogado em Abu Dhabi, percebi que, apesar de estar pronta, ainda não atingi o nível que quero ter. Não quero apenas jogar, quero fazer melhor que isso e, para conseguir, preciso de mais tempo. Dito isto e apesar de dececionada, decidi não disputar o Open da Austrália”, revelou Serena Williams na semana passada.

Serena Williams regressa com derrota após quase um ano de ausência

No final do ano, a ex-número 1 do ranking mundial, que foi mãe no primeiro dia de setembro, realizou um encontro de exibição em Abu Dhabi frente a Jelena Ostapenko, da Letónia, mas o regresso não foi aquele que esperava, não tanto pelo resultado (derrota por 6-2, 3-6 e 10-5, com o terceiro set a ser disputado sob a forma de um tie break) mas pela forma como se sentiu “presa” e longe da forma que a conduziu a um invejável currículo na modalidade onde conta, por exemplo, com um total de 23 Grand Slams conquistados. Ainda assim, e pelo que revela na primeira grande entrevista após o regresso, esse particular foi um primeiro passo de gigante.

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Como explica à Vogue, “tudo correu mal” em termos de saúde após o nascimento de Olympia: começou a sentir-se doente no dia seguinte, a tosse constante acabou por abrir a cicatriz da cesariana e teve um início de embolia pulmonar porque, em virtude do parto, não podia tomar os habituais anticoagulantes que a acompanham desde o grave problema que teve em 2010 e que a afastou dos courts quase um ano. Assim, foi necessária uma nova intervenção, seguindo-se um período de seis semanas de repouso absoluto na cama.

“Às vezes sinto-me mesmo em baixo e penso ‘Não consigo fazer isto’. É a mesma atitude negativa que às vezes tenho nos courts, mas sou assim mesmo. Ninguém fala dos momentos baixos: a pressão que se sente, a deceção incrível que é quando a bebé chora… Quebrei e não sei quantas vezes, ou ficava irritada por chorar, depois triste por estar irritada, depois culpada. As emoções são uma loucura”, comenta, citada pela BBC.

“Quero ganhar títulos mas não preciso dos títulos e este é um sentimento diferente para mim. Não preciso do dinheiro, dos títulos ou do prestígio (…) Acho que o facto de ser mãe pode ter ajudado. Quando estou demasiado ansiosa, perco jogos e sinto que muita dessa ansiedade desapareceu desde o nascimento da Olympia. Tenho de dizer isto de uma forma poderosa: quero ganhar mais Grand Slams”, acrescenta Serena Williams.

Aos 36 anos, a atual número 23 do ranking aborda também os encontros que tem de fazer com a irmã Venus, num duelo que já se repetiu por 28 ocasiões (17 triunfos para Serena) no circuito: “Odeio jogar contra a Venus porque ela fica com aquele ar na cara de quem está a perder e isso parte-me o coração. Agora, quando nos defrontamos, não olho sequer para ela porque tem aquele ar, depois começo a sentir-me mal e a seguir já vou estar a perder. Acho que o ponto de viragem na nossa rivalidade foi esse, quando deixei de olhar para ela”.

Serena venceu Venus no último dos 23 Grand Slams conquistados: o Open da Austrália de 2017 (Scott Barbour/Getty Images)

“Não tem existido uma número 1 clara desde que saí. Será engraçado ver se conseguirei lá chegar outra vez, àquilo que chamo de meu lugar e onde sinto que pertenço (…) Às vezes penso que as mulheres acabam por limitar-se um pouco a elas próprias, não percebo bem porquê. Sei que algumas vezes somos ensinadas a não sonhar tão grande como os homens, ensinadas a não acreditar que podemos ser presidentes quando, na mesma casa, se diz a um miúdo que pode ser o que ele quiser. Estou tão feliz por ter uma rapariga e quero ensinar-lhe que não existem limites para ela”, completa.