O banco Santander Totta aumentou em 10% os lucros líquidos em 2017, para 436,3 milhões de euros. A instituição, que com a aquisição do Banco Popular se tornou o maior banco privado em concessão de crédito, apresentou esta quinta-feira os resultados anuais. O aumento das comissões e a redução dos custos ajudou a compensar a queda da margem financeira, que o banco justifica com os ajustamentos na carteira de dívida pública. À margem da conferência, António Vieira Monteiro comentou a medida anunciada pelo Banco de Portugal, para colocar limites no crédito, é “positiva”.
“Os alertas fazem sentido e vão ao encontro do que já é praticado no mercado, mas é uma mensagem que serve para evitar excessos”, afirmou António Vieira Monteiro, no final da conferência de imprensa. O presidente-executivo acrescentou que estas são medidas que não são específicas de Portugal, sendo enquadradas nas regras europeias, mas mostrou-se confiante de que os bancos não terão de fazer grandes ajustamentos — o Santander Totta está em conformidade, garantiu, não sendo necessários ajustamentos de maior.
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A margem financeira do banco desceu 4,8% (para 697 milhões) devido a “reajustamentos que temos vindo a fazer, de ano para ano, na carteira de dívida pública e pelas vendas de carteiras de crédito — quase 500 milhões, que têm impacto na margem financeira”, explicou António Vieira Monteiro, presidente da comissão executiva do Banco Santander numa conferência de imprensa em Lisboa. O banco obteve menores rentabilidades com a carteira de dívida pública, o que penalizou a margem financeira — os resultados com operações financeiras caíram 17%, para cerca de 120 milhões de euros.
“Na atividade recorrente do banco, ela está a aumentar, mas dir-lhe-ei que os números que já temos de janeiro são relativamente positivos”, afirmou António Vieira Monteiro, questionado sobre a descida da margem financeira (que o banco justifica principalmente com o reajustamento das carteiras de dívida pública, que hoje ronda os 3.500 milhões de euros).
Em termos brutos, o banco aumentou em 45,3% o crédito concedido a empresas e 12,7% a particulares, isto já incluindo as carteiras de crédito “herdadas” do Banco Popular. Sem ter em conta a integração do Banco Popular, o Santander Totta aumentou a quota de mercado na produção de novo crédito às empresas — 17,03% para 17,07% (até novembro). Nas empresas a quota do Santander Totta no mercado é de 17,1% e na habitação é de 21,1%, também dados de novembro.
“Respondendo pelo Santander Totta, o crescimento do crédito a particulares no Santander Totta foi menor do que nas empresas”, pelo que “estamos cada vez mais equilibrados no balanço”, afirmou António Vieira Monteiro. “A nossa aposta nas empresas é sempre acompanhada de uma política rigorosa de qualidade na concessão de crédito, e penso que também é assim nas outras instituições”, acrescentou o presidente-executivo do Santander Totta.
A ajudar aos lucros esteve o aumento de 8% nas comissões, para 331 milhões de euros. Por outro lado, o banco aumentou os recursos de clientes — em parte graças à integração do Banco Popular — em 15,2%, incluindo um aumento de 13,7% em depósitos.
Outra contribuição para o resultado líquido foi a da redução dos custos operacionais em 7,6%, para 528 milhões de euros, o que ajudou o banco a melhorar em 1,7 pontos percentuais o rácio de eficiência do banco: 46%. “É evidente que numa integração de dois bancos e num contexto em que as pessoas vão cada vez menos às sucursais, temos uma gestão cuidadosa”, afirmou António Vieira Monteiro, sem querer adiantar planos para eventuais saídas após a integração do Banco Popular.
O Banco Santander foi notícia em janeiro por alguns problemas que clientes sentiram em transações com criptomoedas, como a bitcoin. Os problemas foram desvalorizados pelo presidente do banco, mas numa apreciação geral sobre o fenómeno das bitcoin, Vieira Monteiro diz que estas “são, sobretudo, formas de pagamento. Mas eu não sei, em Portugal, qual foi o montante de pagamentos feitos com criptomoedas”. “O que sabemos que houve foi subscrições…”, afirmou o presidente-executivo, adiantando que “as criptomoedas têm vantagens mas têm a questão do sigilo, pelo que as autoridades estão atentas”.
Questionado pelo Observador sobre o possível negócio da entrada da Santa Casa no Montepio, António Vieira Monteiro atirou que sabe “menos do Montepio e do problema que se passa do que o senhor”. “Vamos acompanhando, acompanhamos o Montepio como qualquer outro banco concorrente, mas prefiro não comentar sobre os quais não tenho informação”, rematou.