O espetáculo chama-se “Ofertório”, junta o mestre da Música Popular Brasileira (MPB) Caetano Veloso aos seus filhos Moreno, Zeca e Tom Veloso e, depois de passar por várias cidades do Brasil, chega à Europa este verão. Portugal entrou na rota da digressão europeia e a 30 de julho e 1 de agosto o cantor de “”Não Enche”, “O Leãozinho” e “Alegria, Alegria” atua com os filhos respetivamente nos Coliseus de Porto e Lisboa.

Numa longa nota informativa sobre o espetáculo, Caetano Veloso explica que há muito tem vontade “de fazer música junto a meus filhos publicamente” e que Moreno,  Zeca e Tom Veloso, “indo por caminhos diferentes”, aproximaram-se todos da música a dado ponto das suas vidas. “Quero cantar com eles pelo que isso representa de celebração e alegria, sem dar importância ao sentido social da herança”, refere o músico.

No show apresentaremos algumas dessas coisas que cresceram em nós, de nós [canções nas quais têm trabalhado e gravado em parceria]. E canções minhas escolhidas por eles. “O Leãozinho”, que os filhos de tanta gente pedem, os meus não deixaram de pedir. E coisas como “Reconvexo” [canção que Caetano escreveu para a irmã Maria Bethânia e que também gravou] têm de estar ali confirmando a linhagem. Haverá clássicos de Moreno e canções novas de todos (inclusive minhas).

Caetano conta ainda que, quando os quatro começaram a discutir a possibilidade de fazerem uma digressão familiar, pensaram “chamar um pequeno grupo de músicos para enriquecerem os arranjos. Mas, ensaiando, decidimos ficar só os quatro no palco. O som será mais para o acústico e muito singelo. Eu sou o único que toca violão. Os outros podem-se revezar em alguns instrumentos. É um show familiar, nascido da minha vontade de ser feliz”.

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Ter filhos foi a coisa mais importante da minha vida adulta. O que aprendi com o nascimento de Moreno — e se confirmou com as chegadas de Zeca e Tom — não tem nome e não tem preço. Mas nosso show também tem a responsabilidade de apresentar números com qualidade profissional. Os shows são dedicados às mães deles, a Cézar Mendes [músico, parceiro de Caetano e de quem o filho Tom é “discípulo”, nas palavras do pai] e à memória de minha mãe”, conclui Caetano Veloso.

As canções deste espetáculo, que estreou em outubro no Brasil e ficou com o título da canção (“Ofertório”) que Caetano Veloso compôs em 1997, a pedido da irmã Mabel, para a missa que homenageou os 90 anos de sua mãe, D. Canô (que chegaria aos 105 anos, morrendo em 2012), serão incluídas num CD e DVD com concertos da digressão.

Quem são os filhos de Caetano Veloso?

O mais velho é também o que tem uma carreira mais sólida na música. Moreno Veloso, 45 anos, já deu múltiplos concertos a solo em Portugal e tem uma carreira longa como produtor e compositor. Começou por cantar com o pai com apenas 10 anos, na canção “Um canto de Afoxé para o Bloco do Ilê” (uma das canções “impossíveis de serem descartadas” neste espetáculo familiar, refere Caetano). O seu primeiro disco, lançou-o há 18 anos, com o projeto +2 (que o unia aos músicos Domenico Lancellotti e Kassin).

De então para cá, têm-se sucedido as composições para outros (de Roberta Sá a Adriana Calcanhotto), a produção de discos de alheios (de “Recanto”, de Gal Costa, que produziu com o pai a “Gilbertos Samba”, de Gilberto Gil e “Abraçaço”, de Caetano, que produziu com o seu habitual colaborador Pedro Sá) e os álbuns próprios. Um dos últimos a recolher elogios da crítica e público foi Coisa Boa, de 2o14.

Tom Veloso é bem mais novo, tem apenas 21 anos mas o seu futuro na música parece auspicioso. Tendo-se chamado assim “porque nasceu no dia do aniversário de Jobim” — revelou o pai Caetano, quando Tom atingiu os 18 anos –, “é o mais sintonizado com o que o Grande Maestro fez com a harmonia da canção brasileira”, de entre os seus três filhos, explicou Caetano, dizendo ainda que se Moreno lhe apresentou Buika e Zeca (mais próximo da composição eletrónica) lhe mostrou James Blake, Tom fê-lo “reouvir os Mutantes da fase progressiva, os Yes, o Clube da Esquina e o Amoroso do João”.

Durante anos distante da música — era “louco por futebol”, só se interessava pelo desporto de Garrincha, Ronaldo e Ronaldinho, disse certo dia o pai –, Tom Veloso tem vindo a evidenciar-se como compositor e intérprete nos últimos anos, em especial com o jovem quinteto Dônica, que explora esse rock progressivo/psicadélico de que Caetano falava e que, depois de um EP de estreia em 2014, lançou no ano seguinte um bem recebido primeiro álbum, Continuidade dos Parques. Este contou com a participação de Milton Nascimento em uma das faixas, “Pintor”.

Já Zeca Veloso era o único que não tinha uma carreira musical aquando do início da digressão que levará a família Veloso a Portugal este verão. A sua entrada em cena, apesar de recente, fez-se com pompa e circunstância — uma das canções inéditas que surgiram neste espetáculo, “Ofertório”, chama-se “Todo Homem”, é composta por Zeca Veloso e rapidamente cotou-se entre as canções mais ouvidas do Brasil, em plataformas como o Spotify e Youtube. Pode ouvi-la abaixo: