O francês Jerôme Hamon é o primeiro homem a receber dois transplantes de rosto, depois de o seu corpo ter começado a rejeitar o primeiro. A imprensa francesa chama-lhe o “homem das três caras” por ter tido aquela com que nasceu, a que recebeu no primeiro transplante em 2010 e agora a terceira, depois do segundo transplante que fez em janeiro, conta o jornal El País.
A melhor parte de todo este processo foi, para Jerôme, ter “renascido 20 anos”, disse o francês de 41 anos durante a apresentação do seu novo rosto com os cirurgiões que levaram a cabo a operação e que revelaram na segunda-feira passada a sua história e a sua nova identidade.
A cirurgia inédita demorou cerca de 16 horas e teve lugar no hospital Georges Pompidou, em Paris, pelas mãos do mesmo especialista que já tinha operado Jerôme em 2010, Laurent Lantieri, quando o homem se submeteu à primeira mudança facial. Tratou-se da primeira operação feita em que foram reconstruidos músculos, canais lacrimais e pálpebras, acrescenta o El Espanhol.
Esta operação, segundo salienta o El País, abre caminho a novas possibilidades neste campo, porque pela “primeira vez no mundo demonstra que o campo dos transplantes vascularizados (à cara e às mãos) é possível um retransplante em caso de rejeição total”, como aconteceu neste caso, revelou em comunicado o hospital.
A deformação no rosto de Jerôme Hamon teve como causa a neurofibromatose, também conhecida como Doença de Von Recklinghausen, é uma doença hereditária que se manifesta por volta dos 15 anos e que provoca o crescimento anormal de tecido nervoso pelo corpo, através de tumores externos, os neurofibromas, de que o francês sofre. A cara do francês ficou de tal forma deformada que em 2010 foi submetido ao primeiro transplante.
A primeira operação — à semelhança desta segunda — também correu bem, e foi contada em livro pelo paciente, publicado em 2015. O livro chamava-se “T’as vu le Monsieur” (em português, “Viu este senhor?”) e Jerôme relatava o quanto havia sofrido na sua vida e como estava a tentar adaptar-se à sua nova cara.
Mas, pouco depois, descobriu-se que o medicamento tomado por Hamon para curar uma constipação se revelou incompatível com o tratamento que havia feito ao resto. Um ano depois, o francês começou a manifestar sintomas de rejeição do rosto e a cara começou a degradar-se.
Jerôme permaneceu dois meses sem rosto nos cuidados intensivos no hospital onde foi operado em janeiro, altura em que surgiu um dador de rosto, de 22 anos, que tinha falecido nos arredores de Paris. Depois de um segundo transplante, o paciente não teve uma recuperação fácil: três meses depois o francês tem a cara praticamente paralisada e está em tratamentos para evitar uma nova rejeição do rosto, adianta o El País.
Embora ainda em recuperação, Jerôme foi autorizado a sair do hospital, uma visita rápida numa ambulância até sua casa, na semana passada, adianta ao mesmo jornal espanhol, que cita o anestesista do segundo transplante de rosto, que diz que “é impressionante ver a vontade de Jerôme, a força do seu caráter numa situação trágica”.