Duas reuniões tensas entre o presidente e os jogadores são descritas com profusão de detalhes nas 34 páginas da rescisão e Rui Patrício. A primeira reunião foi a que se realizou após a crise aberta pelo post de Bruno de Carvalho em que criticou os jogadores pela derrota em Madrid. O presidente é descrito como tendo surgido “exaltado com ‘ar de ditador’, alucinado e visivelmente tresloucado”.
“Entretanto, para esse dia, à tarde, foi marcada uma reunião no estádio, na qual esteve o plantel, o treinador, o Team Manager André Geraldes e o Presidente da Sporting Clube de Portugal — Futebol SAD, que estava visivelmente exaltado com “ar de ditador”, alucinado e visivelmente tresloucado, tendo-me acusado e ao William de sermos os organizadores do protesto, por querermos sair do clube há muito tempo.
Aliás, a postura física do Presidente, principalmente em relação a mim foi sempre de enorme agressividade reiterando, várias vezes, que eu e o William Carvalho e que organizávamos a revolta dos outros, para podermos sair do clube.
Inúmeras vezes, dirigindo-se a mim aos berros afirmou: “Pensas que estás a falar com quem?”
E sempre que eu tentava referir que o que se devia discutir era o ataque do Presidente ao grupo de trabalho, este reafirmava que os seus posts não tinham nada de mal.
Chegando mesmo a afirmar: “Vocês são uns meninos mimados, eu sou o Presidente, eu faço o que quiser e escrevo o que quiser, onde quiser”
E, depois de uma troca de palavras com William de Carvalho, em que discutiram o facto de o Presidente estar a incentivar reações agressivas contra os jogadores, este afirmou que se lhe quisesse bater nao precisava de chamar ninguém!
Ou seja, toda a reunião decorreu num ambiente ameaçador!
Entretanto, com a saída do Presidente da reunião, o treinador ficou sozinho com a equipa e tomou a decisão de que até a notificação formal da nota de culpa, iam cumprir o seu papel, por isso iam à Academia treinar e preparar o jogo e só saíam se a polícia os tirasse do campo.
Muitos jogadores neste momento já não queriam jogar, nem treinar, sentiam-se ameaçados, desprotegidos, a temer piores consequências… mas, ainda assim, o grupo seguiu todo para a Academia de Alcochete.
Depois do treino, os jogadores receberam uma mensagem do Secretário Técnico, Vasco Fernandes, convocando-os para irem ao auditório, as 19h45.
Chegaram ao auditório, e encontraram o Presidente mais calmo. No entanto, enquanto que o plantel esperava um pedido de desculpas do Presidente pela forma como tinha decorrido a reunião anterior e em especial pelos posts que o Presidente tinha feito, este apenas queria saber porque é que os jogadores tinham colocado o post deles. E quando o William Carvalho tentou, em nome do grupo, transmitir ao Presidente que não podia publicamente colocar em causa o profissionalismo da equipa e que era por esse motivo que os jogadores estavam magoados, este . recusou-se a aceitar que os jogadores tivessem qualquer razão.
E mesmo quando o treinador, Jorge Jesus, lhe disse: “Você disse que vinha aqui para pedir desculpas. … ”, o Presidente o que respondeu foi que: “Pedir desculpas. Eu não fiz nada de mal”, … vitimizando-se, dizendo que “no final da época eu vou-me embora, vou para junto da minha família nada mais importa, está aqui o REI — referindo-se a jorge Jesus – e eu vou-me embora, para junto da minha família que é o mais importante, que gosta de mim”…
E antes de se ir embora terminou dizendo: “Vou tirar a suspensão, o mister pode convocar quem quiser, é o Rei do Clube, mas os processos vão continuar”.
Ou seja, em todos estes episódios se manteve a humilhação e o desrespeito pela dignidade profissional e pessoal dos jogadores, a par de uma conduta de condicionamento da sua atuação e da sua liberdade, através da manutenção de procedimentos disciplinares sem qualquer fundamento.”
O “problema tremendo” de Bruno de Carvalho com “o chefe da claque”
A segunda reunião registou-se a seguir à derrota na Madeira e na véspera do ataque à Academia de Alcochete. São feitas revelações sobre o diálogo com Acuña a propósito do conflito com um chefe da Juve Leo: “Acuña, porque fizeste aquilo ao chefe da claque?”
“Já em Lisboa, após a viagem da Madeira, os jogadores tinham adeptos à espera no aeroporto, que gritavam palavras de apoio a Bruno de Carvalho (o Bruno é que é, o Bruno é o maior.,.!). Seguiu-se, já na garagem do estádio reservada aos jogadores, a perseguição de adeptos e vários insultos, especialmente dirigidos aos capitães, e aos jogadores Battaglia e Acuña com quem se tinham pegado no aeroporto na Madeira.
Não deixa, aliás, de ser curiosa a entrada de adeptos na garagem dos jogadores, uma vez que se trata de um espaço fechado ao público e protegido!
Certo é que, nunca, em momento algum, a Direção do Sporting Clube de Portugal condenou a atuação das claques e adeptos, quer publicamente, quer em privado, junto dos jogadores, que foram vítimas desses atos.
Vivia-se, pois, nesta altura, um ambiente de grande crispação em relação à equipa, com incidentes graves de agressividade ocorridos em Alvalade (petardos atirados para a baliza onde me encontrava), na Madeira (insultos aos jogadores e ameaças de visita à equipa na semana seguinte por elementos da claque Juve Leo) e em Lisboa (insultos no aeroporto e no estacionamento privado dos jogadores).
Entretanto, na chegada a Lisboa foi marcada uma reunião para segunda-feira, 14 de maio, as 18h00.
Antes da reunião com os jogadores o Presidente da Sporting clube de Portugal — Futebol SAD reuniu com a equipa técnica e informou-os que o Sporting não contaria mais com eles.
Ou seja, a 6 dias de o Sporting Clube de Portugal disputar a final da Taça de Portugal, o Presidente da Sporting clube de Portugal – Futebol SAD entendeu que a melhor maneira de dar estabilidade ao grupo de trabalho para poder disputar esse jogo, de enorme importância para o Sporting clube de Portugal, até porque a vitória nesse troféu seria a única maneira de garantir o acesso direto a fase de Grupos da Liga Europa, foi despedir a equipa técnica!
Pelas 18 horas, realizou-se, então, a reunião do plantel com o Presidente da Sporting clube de Portugal — Futebol SAD, que se encontrava acompanhado por 3 membros da Direção e pelo Team Manager, André Geraldes, tendo comparecido, igualmente, todos os jogadores.
O Presidente da Sporting clube de Portugal — Futebol SAD não informou os jogadores da conversa que tinha tido com a equipa técnica e teve com os jogadores uma conversa, toda ela, de teor estranho.
O Presidente da Sporting clube de Portugal – Futebol SAD começou por perguntar se estavam todos bem, acrescentando: “Aconteça o que acontecer estão preparados para jogar no fim de semana?” (final da Taça)
Depois, virou-se para o jogador Acuña e disse-lhe: “- Acuña, porque fizeste aquilo ao chefe da claque? Logo a ele, tenho um problema tremendo, estiveram a ligar-me a noite toda, os gajos da claque, a dizer-me que te queriam apanhar, que queriam a tua morada …”
Acuña respondeu dizendo que se podiam resolver as coisas falando, mas o Presidente da Sporting clube de Portugal — Futebol SAD respondeu-lhe em tom evasivo: “- Tenho um problema tremendo, vou tentar resolver a situação…”.
De seguida perguntou de novo aos jogadores: – “Esta semana, aconteça o que acontecer; vocês estão preparados para ir a jogo?” E acrescentou: “- Se houver algum problema liguem-me, para mim ou para o Geraldes, se houver algum problema estou aqui para resolver; eu estou aqui sempre para vocês”.
Os jogadores consideraram o teor da conversa e a calma do Presidente da Sporting Clube de Portugal – Futebol SAD, contrastando com o habitual nos últimos meses, muito estranha!
Acresce que, nessa reunião, os jogadores foram surpreendidos com a antecipação do treino de quarta-feira para terça-feira.
O Presidente da Sporting Clube de Portugal — Futebol SAD terminou a reunião dizendo que estava tudo tranquilo: “Amanhã vão treinar à Academia e preparar bem o jogo para ganhar a Taça”. E disse ainda que nessa semana iria à Academia, mas ainda não sabia quando.
Na terça-feira, 15 de Maio de 2018, Jorge Jesus informou alguns jogadores que tinha sido suspenso na reunião do dia anterior e que ia dizer isso a todos jogadores no treino, mas como não havia nota de culpa, manter-se-ia no exercício das suas funções.
Quando chegaram a Academia, os jogadores ainda acharam anormal que o Team Manager André Geraldes, que estava sempre na Academia em dias de treino, não estivesse presente.
Estando o treino de campo marcado para as 18 horas, enquanto o técnico se encontrava no campo a preparar “as coisas” para o treino, pelas 17h00 os jogadores foram ao ginásio. Quando acabaram o trabalho de ginásio, foram para o balneário para se equiparem e foi nessa altura que, de repente, começaram a entrar homens encapuçados para dentro do balneário, agredindo os jogadores, elementos da equipa técnica, médica, funcionários e gritando expressões atemorizantes.”