O diretor artístico designado para o Teatro do Bairro Alto, em Lisboa, Francisco Frazão, aposta na especialização no campo experimental de artistas emergentes e internacionais, como forma de distinguir a nova sala de espetáculos, na cidade.
Ex-programador de teatro na Culturgest, Francisco Frazão, que completou 40 anos há duas semanas, disse à agência Lusa que “a força do Teatro do Bairro Alto [TBA] pode ser focar-se nesta vertente exclusiva dos artistas emergentes e da experimentação”.
Frazão afirmou que vai ter a acompanhá-lo uma equipa escolhida por si, e espera poder reunir no TBA um conjunto de pessoas com quem quer trabalhar, além da equipa do Teatro Municipal Maria Matos que vai transitar para o novo espaço, e que qualificou “como das mais competentes na cena artística lisboeta”.
Sem saber quando colocará em cartaz o primeiro espetáculo, porque a sala vai ser alvo de obras de renovação – nomeadamente passar a ter acesso para pessoas com mobilidade reduzida e escritórios para acolher a equipa -, Francisco Frazão vai gerir um caderno de encargos de 650 mil euros, que inclui programação, assessorias e comunicação. “É possível trabalhar com este valor, que não me aprece impraticável, sendo que é possível fazer crescer esse orçamento se o TBA for bem-sucedido em candidaturas que venha a fazer a financiamentos europeus, por exemplo”, afirmou.
O indigitado diretor artístico aposta ainda “numa abertura à cidade, com parceiros na zona e parceiros institucionais, mas também aberto às vozes dos espetadores, dos artistas e dos outros trabalhadores do espetáculo, que tenham uma palavra a dizer no funcionamento do teatro”.
Francisco Frazão, em declarações à agência Lusa, disse que a proposta que apresentou “tem a ver com uma série de aberturas e fechamentos”, alguns que diagnostica e outros que propõe.
“A começar pela ideia que é um teatro novo que aparece na cidade, mas que resulta do fecho de outros dois teatros – o Cornucópia e do novo destino dado ao Maria Matos -, e como é que se recolhe a memória desses dois espaços muito diferentes. Essa é uma das inquietações da minha proposta. E depois tentei também ver a vontade que a câmara [de Lisboa] tem de dar ao novo teatro, que tem a ver com dois vetores: a ideia do experimental dos artistas emergentes e os artistas internacionais, áreas em que me sinto particularmente à vontade”, disse o designado diretor artístico, que citou a sua experiência na Culturgest com o então administrador e programador cultural, Miguel Lobo Antunes.
Questões relacionadas com a criação contemporânea, que “interessam particularmente” a Francisco Frazão, levaram-no a candidatar-se ao TBA, coincidindo com o facto de que já sabia que não ia continuar na Culturgest, depois da saída de Miguel Lobo Antunes. Outra questão que o levou a candidatar-se foi “toda a memória que transporta o TBA”, que qualificou como “lugar fundamental” da sua biografia, nomeadamente por ter sido o espaço do Teatro da Cornucópia, reconhecendo ser “uma responsabilidade tremenda”.
Relativamente à captação de público, afirmou que este terá “diversas proveniências”, desde o público que seguiu o seu trabalho na Culturgest, o do Maria Matos, durante a gestão do Mark Deputter, ao público da Cornucópia, curioso pela nova programação daquele espaço”, e o de outros palcos da cidade, como os do S. Luiz e do Nacional D. Maria II, realçando a centralidade do TBA, na zona do Príncipe Real, a poucas centenas de metros do Largo do Rato.
Francisco Frazão foi o escolhido entre os 27 candidatos, tendo o júri apreciado “uma posição curatorial permanentemente aberta, garantindo autonomia aos objetos e processos arti´sticos programados, bem como a apresentac¸a~o de uma programac¸a~o a dois tempos, que responde tanto a` necessidade premente de visibilidade e sustentac¸a~o dos criadores emergentes e experimentais, quanto a` de contrariar a velocidade atual de programac¸a~o na cidade”, segundo comunicado da Empresa de Equipamentos e Gestão Artística (EGEAC), da Câmara de Lisboa.
Frazão foi programador de teatro da Culturgest, de 2004 a 2017, e é licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde estudou Literatura Comparada, tendo pertencido à direção de Os Fazedores de Letras, jornal da Associação de Estudantes.
Entre 2000 e 2004 fez parte da comissão de leitura da companhia Artistas Unidos. Frazão traduziu autores como Samuel Beckett (“Primeiro Amor”), Harold Pinter (“O Encarregado”), Stephen Greenhorn, Howard Barker, Tim Crouch, Abi Morgan, Katori Hall, Chris Thorpe e Tim Etchells. Colaborou com a Associação Cultural Abril em Maio e foi colaborador do jornal Público, nomeadamente do suplemento cultural Mil Folhas.
Segundo o site da Culturgest, o novo diretor do Teatro do Bairro Alto, antiga sede do grupo Teatro da Cornucópia, tem publicado artigos e dado aulas sobre teatro, cinema e literatura. Francisco Frazão entra em funções em julho, afirmou à Lusa a assessoria de imprensa da EGEAC, que, relativamente ao início das obras no TBA, referiu apenas que se verificaria “em breve”.