A Comissão de Fiscalização do Sporting, nomeada por Jaime Marta Soares e coordenada por Henrique Monteiro, que conta ainda com João Duque, António Paulo Santos, Luís de Sousa e Rita Garcia Pereira, fez um parecer muito crítico a propósito das contas que tinham sido orçamentadas para votação dos associados em relação ao exercício de 2018/19 no clube. “A sua aprovação é um cheque em branco à Direção para o aumento do passivo, agravada pelo facto de ser principalmente agravado por despesas correntes”, conclui o documento que defende a sua reprovação em Assembleia Geral Ordinária pelos associados.

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No documento a que o Observador tem acesso, e que escalpeliza a proposta em 14 pontos, a Comissão de Fiscalização, que tem de forma transitória as mesmas funções que seriam cumpridas pelo Conselho Fiscal e Disciplinar (órgão que perdeu o quórum após a demissão de seis dos sete elementos efetivos em funções), começa por deixar reparos à forma como o orçamento e o plano de atividades foram apresentados e a falta de abertura para explicações adicionais. “Apesar de instada, a Direção suspensa recusou-se a receber-nos para apresentar e discutir o orçamento e plano de atividades como seria seu dever à luz da alínea d) do número 2 do artigo 56 dos estatutos. Esta inusitada obstaculização à nossa atividade acarretou que não tivesse sido permitido a esta Comissão de Fiscalização reunir com o auditor, não conhecendo pois a sua posição face à razoabilidade dos pressupostos apresentados para o orçamento e à informação disponibilizada”, destaca.

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De referir que, como o Observador já tinha explicado, o orçamento em causa, que deveria ter sido sufragado em Assembleia Geral Ordinária no dia 17 caso não existisse qualquer decisão proibitiva por parte dos tribunais, fala num crescimento das receitas a nível de quotização (sócios), bilhética (gamebox e entradas individuais no Pavilhão) e patrocínios no Sporting para o exercício de 2018/19 num contexto de grave crise institucional que está a assolar não só o clube mas também, ou sobretudo, SAD. “Este orçamento prevê para o clube um resultado operacional positivo de 1.165.591€, com um resultado líquido igualmente positivo de 38.213€. Em termos de cash flow operacional é estimado um saldo anual negativo de 839.521€ e um cash flow líquido também negativo de 2.828.279€. Este cash flow negativo é fruto do investimento previsto nas modalidades e do reforço do património do Sporting Clube de Portugal coberto pelos valores disponíveis em caixa”, resume.

Inicialmente, a Comissão de Fiscalização destaca, de forma mais genérica, que o orçamento apresentado é demasiado otimista tendo em conta o contexto de crise que o Sporting atravessa, aproveitando inclusive ideias expressas publicamente por Bruno de Carvalho para defender esta perspetiva. “Os pressupostos subjacentes ao orçamento não parecem repercutir qualquer efeito do conturbado momento que o clube passa. Se por um lado a Direção suspensa acusa constantemente terceiros de terem uma significativa e negativa influência nas contas do clube, por outro não faz qualquer referência não mostra que essa influência tenha qualquer impacto nas projeções avançadas (…) Acresce que as taxas de crescimento das receitas parecem exageradas, apesar de mascaradas por uma errada forma de cálculo e apresentação da variação das rúbricas orçamentais quando comparadas com o orçamento do exercício anterior”, explica, antes dar exemplos sobre as incorreções na sua formulação.

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“Vejamos como o cálculo aritmético da variação do valor orçamentado para o exercício de 2018/19 face ao orçamento para o exercício 2017/18 é apurado de modo erróneo, levando a concluir por variações diversas das que se deveriam apresentar aos sócios. Vejamos a forma como são calculadas as variações de quotizações. Enquanto que na realidade a variação proposta para as receitas orçamentadas nessa rubrica (€1.200.000) representa uma variação de +13,3% face ao orçamento do ano anterior, o valor apresentado aos sócios mostra um valor de +11,8%. Esta forma de apresentar é desadequada pois compara variações futuras sobre uma base de valores futuros ao invés do que é standard e apropriado (…) A forma habilidosamente escolhida para apresentar as variações orçamentais face ao orçamento do exercício anterior permite, no caso de grandes variações, diferenças absurdas de variações percentuais, encobrindo pressupostos” ainda mais otimistas mas disfarçados de razoabilidade”, diz.

Mais à frente, a Comissão de Fiscalização defende ainda que “o orçamento é opaco, não comparável e impossível de encontrar respaldo em aceitáveis pressupostos, sendo sonegada informação fundamental aos sócios” e que “não é apresentado um balanço previsional de modo a prever os impactos na situação patrimonial do clube ou a detalhar os seus consequentes níveis de endividamento”. “Nesta proposta de orçamento o total dos gastos e perdas quase atinge os €25 milhões. Uma sobrestimação irresponsável dos rendimentos e ganhos pode, na sua provável incompletude, conduzir a um défice materialmente relevante com impacto imediato e significativo no passivo do clube”, conclui.