Colômbia-Inglaterra. 1-1 aos 90 minutos (vá, 93, para sermos mais rigorosos com o momento em que Yerry Mina paralisou até o inglês mais contido). 1-1 ao fim de 120 minutos. E o jogo segue para o desempate por grandes penalidades. A reação de qualquer pessoa que estivesse a acompanhar este Mundial poderia ser perfeitamente esta: “Eish, outra vez?”.

Pois é, outra vez. A Rússia tem um love affair com os penáltis — tanto aqueles que são assinalados ao longo do jogo (e este Colômbia-Inglaterra teve mais um, convertido pelo suspeito do costume Harry Kane, aos 57 minutos), como aqueles que desempatam jogos. Começando por esses, até agora o Rússia 2018 já bateu recordes. É o Mundial com mais jogos decididos na marca dos 11 metros nos oitavos de final (a primeira fase do mata-mata): três.

Tudo começou com o Espanha-Rússia, que persistiu com o empate a um até aos 120 minutos (houve também grande penalidade assinalada ao longo do jogo, mas já lá vamos). Decisão nos penáltis. Aí, Akinfeev vestiu a camisola de herói ao travar os remates de Koke e Aspas, mergulhando a Espanha numa crise existencial. Ainda os amantes do futebol se estavam a refazer das emoções de uma ‘lotaria’ (a expressão é colocada entre aspas porque há muito trabalho por detrás) e pumba… mais um jogo para ser decidido nas grandes penalidades e no mesmo dia (a propósito, desde 21 de junho de 1986 que não existia tal coisa, quando o Brasil-França e o Alemanha-México precisaram ambos do empurrãozinho dos 11 metros). Também o Croácia-Dinamarca haveria de teimar em não se resolver em 120 minutos (para isso muito contribuiu o penálti — lá está, mais um — defendido por Kasper Schmeichel ou falhado por Luca Modric, depende da perspetiva ainda no tempo regulamentar). Feitas as contas, a seleção nórdica ficou pelo caminho.

Medo, matemática e ilusão: a ciência dos penáltis

Antes de haver Rússia — não o país, mas o Mundial — o anterior recorde pertencia ao Brasil 2014, prova em que as grandes penalidades foram precisas para tirar as teimas em dois jogos dos oitavos, ambos empatados a um golo no tempo regulamentar: Brasil-Chile, que terminou com vitória canarinha e Costa Rica-Grécia, que deu triunfo dos ticos. De resto, no primeiro Mundial em que houve oitavos de final, o México 1986, apenas o União Soviética-Bélgica precisou de desempate; tal como o República da Irlanda-Roménia no Itália 1990, o México-Bulgária no Estados Unidos 1994, o Argentina-Inglaterra no França 1998, o Espanha-República da Irlanda no Coreia/Japão 2002, o Suíça-Ucrânia no Alemanha 2006 e o Paraguai-Japão, do África do Sul 2010.

Mas em termos absolutos, este é também o Campeonato do Mundo da história com mais grandes penalidades assinaladas. Até ao momento foram 28, quatro delas nestes oitavos de final: o que foi convertido por Griezmann no França-Argentina, por Dzyuba no Espanha-Rússia e por Kane no Colômbia-Inglaterra, assim como a falhada por Modric no Croácia-Dinamarca. Feitas as contas, este Mundial já tem mais dez penálties — e ainda a procissão vai no adro — do que o Itália 1990, o anterior recordista (18), mais 11 do que o França 1998 e o Alemanha 2006 (17) e mais 12 do que o México 1986 (16). E isto ainda não acabou, reforçamos. A prova provada de que cada vez mais tudo se pode decidir no cara-a-cara com o guarda-redes, ali na marca dos 11 metros.

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