Cláudia Azevedo será a nova CEO da Sonae, confirmou a empresa em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários: “Na sequência da vontade manifestada pelos Engs. Paulo Azevedo e Eng.º Ângelo Paupério de, após o termo do corrente mandato, passarem o testemunho das funções executivas até agora exercidas no Conselho de Administração da SONAE, este último, no âmbito da sua responsabilidade pela identificação de potenciais candidatos com perfil para o desempenho de funções de administrador, comunicou à EFANOR a sua intenção de fazer eleger para o cargo de Presidente da sua Comissão Executiva, com efeitos a partir do termo do corrente mandato, a Dr.ª Cláudia Azevedo”.
De acordo com o comunicado, Paulo Azevedo e Ângelo Paupério vão passar a ter funções não executivas: “A EFANOR congratula-se com a disponibilidade manifestada pelos Engs. Paulo Azevedo e Ângelo Paupério para se manterem em sua representação no Conselho de Administração da Sonae, em cargos não executivos no novo mandato, bem como para proporcionarem todo o apoio necessário ao processo de transição de poderes executivos pelo tempo que vier a revelar-se útil”.
Paulo Azevedo, que vinha da Sonaecom, substituiu Belmiro de Azevedo em 2007 para se tornar presidente executivo da Sonae SGPS. Fontes da empresa disseram ao Observador que esta substituição é vista como “uma reorganização previsível” e que a sucessão também é interpretada “com naturalidade”. Para assumir o cargo de CEO da empresa, Cláudia Azevedo sai da presidência da Sonae Capital, que fica a cargo de Miguel Gil Mata.
O documento acrescenta ainda um agradecimentos aos dois engenheiros pelos “cerca de 30 anos de exercício de cargos executivos no Grupo Sonae, 20 dos quais como membros da Comissão Executiva da Sonae, incluindo os 12 em que ocuparam a respetiva liderança”: “Os seus contributos individuais foram determinantes para o crescimento da importância social e económica do Grupo e permitiram-lhe passar incólume pelas crises económicas e éticas dos últimos anos”, acrescenta.
Em declarações enviadas às redações, Cláudia Azevedo disse ter “otimismo” para “os desafios que seguramente surgirão”: “Uma responsabilidade que aceito, com a convicção de quem olha para o futuro e tem a confiança de ter nos valores Sonae a determinação e otimismo necessários para enfrentar os desafios que seguramente surgirão”, disse ela. E acrescentou: “Agradeço o voto de confiança manifestado pelo Conselho de Administração da Sonae e pelo Conselho de Administração da Efanor na proposta da minha eleição para CEO da Sonae para o mandato a iniciar em 2019”.
Cláudia Azevedo tem 48 anos feitos no início do ano e foi a única entre os irmãos que estudou em Portugal: primeiro licenciou-se em Gestão pela Universidade Católica e depois tirou um Master of Business Administration (equivalente a uma pós-graduação) no Instituto Europeu de Administração de Empresas. Chegou a ser administradora no jornal Público. Bárbara Reis, que era a diretora do jornal na altura, disse que Cláudia “é exigente e flexível, sensível e tenaz”: “Projeta-nos sempre para o futuro e está em constante busca de soluções e ideias inovadoras”, disse ela à Visão.
Belmiro de Azevedo disse dela que “a Cláudia é talvez a mais parecida comigo, a que tem mais killer instinct“, pode ler-se no livro O Homem Sonae. E diz que a filha gosta de Monty Python e é fluente em inglês estudou num colégio interno no Reino Unido dos 15 aos 18 anos: “Quando os visitávamos era um choro desgraçado. A Cláudia foi quem mais sofreu e tem uma ligação muito forte com a mãe”, contou Belmiro no livro Fortunas & Negócios.
A testemunhar esse instinto está um episódio contado por Rui Paiva, presidente executivo da WeDo Technologies, à Sábado. Quando um empresário irlandês demorou demasiado tempo a concretizar a venda da sua empresa à WeDo Technologies, que pertence à Sonae, Cláudia Azevedo bateu pé: “Ela levantou-se e disse-lhe: ‘Nós somos pessoas honestas. Se quiser, fazemos o negócio; se não, vamos embora’”. E o negócio fez-se mesmo.
Cláudia Azevedo entrou na Sonae depois de ter terminado a licenciatura, em 1992, para integrar a área financeira com um projeto com cartões de crédito Visa Universo e, mais tarde, Banco Universo. Esse projeto, onde Cláudia era diretora de marketing, terminou cinco anos depois ao ser vendido ao banco BPI. Foi aí que a filha mais nova de Belmiro de Azevedo se mudou para a Optimus, onde continuou na área do marketing e onde lançou os telemóveis vendidos em supermercados pela primeira vez em Portugal.
Ainda a serviço da Optimus, Cláudia Azevedo chegou a viver em França. Entretanto teve dois filhos com o marido Miguel Barros, presidente da agência de publicidade Fuel e da Associação Portuguesa das Empresas de Publicidade, Comunicação e Marketing: Lucas de 15 anos e Margarida de 11. Mais recentemente, em 2012, tornou-se administradora da Zopt, nascida da Sonaecom e de Isabel dos Santos, para controlar a Zon-Optimus. Um ano mais tarde tornou-se presidente da Sonae Capital, cargo que largou esta terça-feira.