O presidente da Associação Portuguesa de Bancos, Faria de Oliveira, criticou esta quinta-feira os acordos governativos “de conveniência” que “comportam sérios riscos para o futuro” porque “o adiam”, apesar de resolverem “questões de curto prazo”, como acontece em Portugal.
“Neste ambiente político, de difícil criação de maiorias, quando não existe uma cultura de compromisso, é muito difícil gerar soluções políticas estáveis e proporcionar o enquadramento necessário ao crescimento económico sustentado e ao progresso social. E isso é ainda mais complexo quando, em acordos governativos com vista à obtenção de uma maioria parlamentar, estão partidos que não acreditam ou rejeitam a economia de mercado”, afirmou o responsável, que intervinha num almoço-debate promovido pelo International Club of Portugal, em Lisboa.
Para Faria de Oliveira, “soluções governativas que não são projetos políticos, mas acordos de conveniência não têm consistência e comportam sérios riscos para o futuro [uma vez que] adiam o futuro”. “Podem até resolver questões de curto prazo, atender à necessidade de obter resultados, mas em geral protelam a resolução de questões de fundo, raramente incluem reformas estruturais – quando não acabam mesmo por reverter algumas – e assim, não asseguram a sustentabilidade do crescimento económico”, reforçou o também antigo gestor e governante.
E precisou: “Os atuais governos de Espanha e Itália e, de certo modo, de Portugal, são uma consequência da dispersão do voto dos eleitores”, estando-se “perante soluções temporárias e precárias”.
Na ocasião, Faria de Oliveira abordou também a saída do Reino Unido da União Europeia, afirmando que este processo é um “exemplo claro do desconforto em relação ao projeto europeu e comporta riscos que têm de ter respostas que os minimizem”. “A Europa tem de encontrar um novo impulso”, vincou, defendendo a criação de uma União Financeira, “compreendendo a União Monetária, a União Bancária, ainda por completar, e a União dos Mercados de Capitais, por realizar”.
O Reino Unido vai deixar a União Europeia em 29 de março de 2019, dois anos após o lançamento oficial do processo de saída, e quase três anos após o referendo de 23 de junho de 2016 que viu 52% dos britânicos votarem a favor do ‘Brexit’. Depois de, em dezembro do ano passado, ter sido aprovado um documento de entendimento sobre os termos da saída, em março foram aprovadas as linhas para um período de transição que vai prolongar-se até ao final de 2020. Bruxelas e Londres têm até ao final deste ano para traduzirem estes acordos em textos jurídicos e assimilá-los nas respetivas legislações, ao mesmo tempo que negoceiam um futuro acordo comercial.