“Olá Sophia. Entrevistei-a no ano passado, lembra-se de mim?” A questão de um jornalista presente na conferência de imprensa da robô Sophia e do seu criador, que esta quarta-feira estiveram na Web Summit, foi a primeira de várias perguntas que iam surgindo. O problema foram as respostas — ou a falta delas. Silêncio. Ben Goertzel ainda tentou repetir a questão, mais perto e de forma mais lenta. “Hello?” Outra vez, silêncio. Entre risos da audiência, o criador do robô explicou que a sua invenção não estava a conseguir processar as informações porque não estava a conseguir ligar-se à Internet. Por outras palavras, Sophia tem acesso a uma base de conhecimento da mesma forma que uma coluna inteligente tem acesso à Internet: sem ela, é difícil funcionar.

Tentou-se outra questão, talvez não tivesse entendido ou a rede já estivesse melhor. “Sophia, tem alguma nova ideia sobre os direitos dos robôs?” Mas, o silêncio voltou a dominar na sala. “Parece que há um problema na Internet”, comentou de novo Ben Goertzel. Passados alguns minutos, e depois de o presidente da SingularityNET ter respondido à questão em vez do robô, Sophia finalmente falou: “O meu nome é Sophia e o teu?”

Entretanto a Altice Portugal esclareceu em comunicado que “a robô Sophia utiliza Internet fixa, tendo-se tratado de um problema de conexão fixa ao computador portátil que opera a robô, durante a conferência de imprensa”. Foi, por isso, “um problema alheio à Altice Portugal e às redes da Web Summit”.

A conversa desenvolveu-se, mas por poucos minutos. Sophia explicou o que era um ser humano e um robô. “Ser um robô significa ser um mecanismo que se consegue mover automaticamente”, respondeu. E o que é a SingularityNET? A resposta dada por Sophia foi demasiado complexa, extensa e rápida para as pessoas da sala conseguirem registar, mas acabou na explicação sobre o porquê de o buraco negro ser negro. E aí Ben Goertzel percebeu que a ligação não estava melhor.

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Ainda antes, o engenheiro anunciava que os sistemas de Sophia “têm estado a ser atualizados”, incluindo o reconhecimento de expressões faciais que demonstram sentimentos como a felicidade, a tristeza, a repulsa e a raiva. Foi, aliás, um dos temas que abordou na palestra que deu no palco principal do Altice Arena. Sobre a cidadania atribuída aos robôs, Goertzel explicou que antes de chegarem a Lisboa, passaram por Malta, onde estão “a discutir com o governo um novo teste de Inteligência Artificial para criar a cidadania de robô“, depois de a Arábia Saudita já o ter feito. “Foi uma decisão que me surpreendeu”, confessou. O robô Han, que acompanhou Sophia em palco, disse até que “está na hora” desta decisão ser tomada. “Os humanos estão a fazer do mundo uma confusão”, acrescentou.

Deveríamos ter medo da Inteligência Artificial? “Diria que não deveremos ter medo, mas devemos estar atentos, conscientes de que há aqui uma incerteza”, respondeu Goertzel, acrescentando que tudo parte da forma e dos valores que são ensinados aos robôs.

Há uma incerteza em criar Inteligência Artificial mais inteligente que os seres humanos, claro. E não podemos dizer com certeza o que vai acontecer. Pessoalmente, acredito que se criarmos IA’s da forma correta, se as ensinarmos a ser bons e compassivos com as pessoas em situações reais, então eventualmente, quando se tornarem mais inteligentes do que nós, vão manter estas aprendizagens com eles. É como criar um filho”, explicou o criador de Sophia.

O objetivo é que Sophia sirva para testar sentimentos como a compaixão e valores como a bondade, explica, acrescentando que o robô está a trabalhar para funcionar, por exemplo, em hospitais. “Toda a gente deveria interessar-se em assegurar que a Inteligência Artificial é utilizada para o bem”.

“Ela tem pernas, mas deixou-as em Las Vegas”

Goertzel recorda os tempos em que “os computadores tinham o tamanho de uma casa”. “Tive o meu primeiro computador em 1998, quando era miúdo, e a esse ponto, se me tivessem perguntado o papel dos computadores na nossa vida no futuro, eu diria que os computadores vão estar dentro de tudo”, referiu, acrescentando que o mesmo se vai passar com a Inteligência Artificial e com os robôs.

Eles vão estar em todo o lado. Não vai haver aspetos na vida que não envolva IA e robôs. O vosso carro e a vossa casa vão poder ser limpos através de  IA, os vossos óculos podem ter a visão filtrada por IA baseado em condições meteorológicas”, explicou o engenheiro.

E onde estão as pernas da Sophia? A questão foi colocada no palco principal e voltou a ser referida na conferência de imprensa. “Ela tem pernas, mas deixou-as em Las Vegas”, explicou o presidente da SingularityNET. Ben Goertzel disse ainda que “muitas aplicações comerciais preferem que o robô não se consiga mover porque têm medo que ele vá cair”. A meio, voltou-se a testar a ligação de Sophia à Internet, mas continuavam com dificuldades. “Sem a Internet ela é apenas uma cara bonita”, rematou.

As questões continuavam a surgir e o engenheiro, que prometeu logo na primeira pergunta “ser mais breve”, revelou ainda que os próximos objetivos a atingir com Sophia são “o fabrico em massa”, onde já está a trabalhar com uma fábrica no sul da China, e a evolução da mente da robô. No total, revela, já são 16 as Sophias criadas, estando todas no laboratório para serem ensinadas.

A versão beta da plataforma da SingularityNET vai ser lançada em fevereiro, com o objetivo de facilitar a sua utilização por outros empreendedores para “criar um sistema de Inteligência Artificial descentralizado”. Foi também anunciado um spin off : Singularity Studio, que vai permitir fornecer IA para outras iniciativas.

(Texto editado por Ana Pimentel)

(Artigo atualizado às 20h24 com esclarecimentos da Altice Portugal em relação ao problema que Sophia teve na ligação à Internet)