Após duas semanas de pausa, o julgamento de Joaquin “El Chapo” Guzmán foi retomado esta quinta-feira em Brooklyn, Nova Iorque, e trouxe mais revelações, desta vez vindas de uma das pessoas que melhor conhecia o funcionamento do cartel de Sinaloa. Vicente Zambada Garcia, filho de Ismael Zambada Garcia, atual líder do cartel que foi comandado por “El Chapo”, testemunhou em tribunal contra o seu próprio pai durante mais de cinco horas. E revelou explicações sobre as rotas de contrabando, planos de lavagem de dinheiro, guerras sangrentas, vinganças pessoais e os milhões em subornos, revelou o The New York Times.

Passava pouco das 10 horas locais quando Zambada entrou na sala do Tribunal Distrital Federal para o julgamento. E de imediato começou a contar as várias histórias sobre o que tinha visto, ouvido e presenciado sobre “El Chapo”, o cartel e o seu pai. O papel deste último, revelou, era assegurar o envio de toneladas de droga em carros, comboios, aviões e até submarinos. 

Do transporte da droga aos milhões: como vivia “El Chapo” nos seus tempos de glória, contado em tribunal

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“Comecei a perceber como tudo era feito”, disse Vicente Zambada, acrescentando que, “pouco a pouco”, ele próprio começou a envolver-se, ainda na adolescência, nos negócios do pai, que continua na lista dos mais procurados pela Administração do Controlo de Drogas dos Estados Unidos. A primeira questão que foi colocada a Zambada foi simples e direta: “Como é que o seu pai ganha a vida?”. E a resposta também: “O meu pai é o líder do cartel de Sinaloa”.

Durante a audição, Zambada explicou que os subornos que o seu pai estava encarregado de fazer superavam, muitas vezes, o valor de um milhão de dólares por mês. Deu também o exemplo de um general do exército que era oficial do departamento de defesa do México e que recebia uma quantia mensal de 50 mil dólares vindas do cartel. Em troca, fornecia ajuda e o silêncio perante as restantes autoridades. Na lista dos subornos está também, segundo Zambada, um oficial militar que foi segurança pessoal do ex-presidente do México, Vicent Fox.

Com o passar dos anos, Zambada foi subindo na hierarquia do cartel e tornou-se no principal “tenente” do seu pai, reunindo-se com membros das autoridades que ajudavam a facilitar as operações e asseguravam que mantinham oficiais “amigos” nas regiões chave. Ajudou também a supervisionar as encomendas que iam desde a Colômbia até Los Angeles e exerceu outros papeis como embaixador, gerente de operações e mensageiro. Zambada revelou ainda que conhece Guzmán desde os 15 anos e que o narcotraficante é o padrinho do seu filho mais novo.

Vicente Zambada Garcia foi preso em 2009 durante uma operação do Exército na Cidade do México, tendo sido depois extraditado para Chicago. Só que os seus advogados de defesa tinham uma carta na manga: durante anos, Zambada terá trabalhado para a Administração anti-drogas dos Estados Unidos (D.E.A, na sigla em inglês) e trocava informações sobre os seus rivais em troca da permissão para administrar os seus negócios de forma livre. Entretanto, em 2013, Zambada declarou-se culpado das acusações de tráfico de droga e, durante os últimos cinco anos, ficou a aguardar para comparecer em tribunal e contar a sua história.

“El Chapo”, considerado o traficante de droga mais poderoso do mundo desde a morte de Pablo Escobar em 1993, é suspeito de ter traficado para os EUA cerca de 200 toneladas de cocaína e outras drogas ao longo de três décadas. O julgamento decorre no Tribunal de Brooklyn, em Nova Iorque, depois de, em 2016, o governo mexicano ter conseguido a extradição do barão da droga para os EUA.

Tinha uma casa da morte e gostava de cortar pessoas. Os homicídios de “El Chapo”, o barão da droga que nem a família poupou