A Polícia Judiciária deteve esta quarta-feira Rui Pinto, o hacker do caso dos e-mails do Benfica, apurou o Observador. O comunicado da Procuradoria-geral da República fala na detenção de um homem de 30 anos sobre o qual tinha sido emitido um mandado de detenção europeu. A PJ recusa, para já, ligar Rui Pinto ao ataque à sociedade de advogados PLMJ e estima que dentro de “três semanas a um mês” o hacker estará em Portugal. O Benfica oferece “todo o seu contributo” à investigação e defende que sejam apuradas as “motivações” do hacker português.
A Judiciária avançou mais pormenores sobre a detenção no âmbito da Operação “Cyberduna”, em conferência de imprensa em que Carlos Cabreiro, diretor da Unidade de Combate ao Cibercrime, recusou atribuir a autoria de qualquer caso a Rui Pinto. “É prematuro estar a ligar a qualquer alvo em concreto”, disse o responsável da PJ.
Cabreiro confirmou que a detenção aconteceu na Hungria — o nome da operação, Ciberduna, já deixava pistas, porque significa “lar”, mas também Danúbio, na língua húngara. E disse que os inspetores da PJ já seguiam “há algum tempo” as pisadas do hacker. Estavam, aliás, presentes no momento da detenção.
O hacker poderá agora ser extraditado para Portugal, mas esse passo dependerá da sua vontade. “Ele pode opor-se à extradição e, se o fizer, o tribunal na Hungria terá de analisar o que ele pede”, disse ao jornal Público o advogado de Rui Pinto, Aníbal Pinto.
A julgar pelas palavras do diretor da unidade de cibercrime da PJ, Rui Pinto estará disponível para ser transferido para Portugal. “Estamos a falar de trâmites normais e de prazos que têm de decorrer”, mas a PJ aponta para “um prazo razoável” para que Rui Pinto esteja em Lisboa. “Calculamos que possa ser entre três semanas a um mês”, disse Carlos Cabreiro.
Benfica quer descobrir “motivações”
Algumas horas depois de a PJ e a Procuradoria-geral da República darem conta da Operação Ciberduna, o Benfica reagiu à detenção de Rui Pinto. Oferece “todo o seu contributo” à investigação e espera que sejam apuradas as “motivações” do ataque informático.
Em comunicado, o clube da Luz diz que “dará todo o seu contributo – na medida em que este lhe for solicitado – para que se descubra a verdade”. O clube sublinha que “este é o tempo da Justiça e da investigação” mas não esconde o seu interesse no caso.
O Sport Lisboa e Benfica – Futebol SAD estará, como sempre esteve, à disposição das autoridades e espera que este seja um passo importante para que se chegue à verdade e às motivações que possam ter estado por trás de um crime que tantos danos causou e continua a causar ao Sport Lisboa e Benfica”, refere o documento.
Para já, apenas Rui Pinto foi detido. Mas nada garante que tivesse atuado sozinho nos ataques informáticos que fez ao longo dos anos. “Há uma constância na prática de crimes, há uma continuação da atividade criminosa e que tem vindo a revelar-se perniciosa para instituições, e até do próprio Estado”, limitou-se a dizer Carlos Cabreiras, sem admitir eventuais co-autores desses crimes.
O comunicado partilhado esta tarde pela PJ já referia apenas que os inspetores estão “a acompanhar presencialmente a execução da detenção e das diligências subsequentes, no âmbito de uma Decisão Europeia de Investigação”.
Há vários meses que a PJ estava atrás de Rui Pinto. Em setembro, a revista Sábado dava detalhes da operação da Judiciária em que referia que o hacker era, para a investigação, o único suspeito da investigação de ter desviado os emails do Benfica.
O nome surgiu pela primeira vez no site Football Leaks Revealed e nesse site ficaram ainda conhecidos outros detalhes sobre o hacker: é natural de Gaia, estudou História na faculdade e fez Erasmus em Budapeste. Essa era a morada onde se suspeitava que Rui Pinto continuava a viver — e a detenção aconteceria mesmo na capital húngara.
Até ser detido, Rui Pinto foi divulgando várias informações sensíveis sobre o Benfica, através do blogue Mercado de Benfica. E, nessa guerra cibernética, os encarnados apontaram o dedo aos principais adversários no campo desportivo: Porto e Sporting seriam, segundo o vice-presidente do Benfica Varanda Fernandes, os mandantes dos ataques informáticos. “Alguém acredita que um hacker ia oferecer essa informação a troco de nada? Ninguém acredita nisso”, chegou a dizer o dirigente da Luz.
Caso dos e-mails. Benfica aponta dedo a FC Porto e Sporting e quer saber quem pagou a hacker
Vários elementos ligados ao Porto — com o presidente, Pinto da Costa, à cabeça — foram constituídos arguidos por processos ligados à investigação dos procuradores do Departamento Central de Investigação e Ação Penal.