Depois da entrevista de António Costa à SIC, a bastonária dos enfermeiros respondeu que “o que incomoda o primeiro-ministro, tal como outras partes da sociedade, é que se habituou a olhar para os enfermeiros como os que tudo suportavam”. Em entrevista à SIC Notícias, Ana Rita Cavaco diz que esses tempos acabaram: “Não desejamos uma escalada de tensão. Mas se pensássemos em cancelar a greve e arranjar outras formas de resolver os problemas, isso não iria resultar. Tem a ver com este sentimento de cansaço”.
Ana Rita Cavaco respondia às declarações de António Costa, que no mesmo canal de televisão acusou a bastonária de ter violado a lei das ordens profissionais, que proíbe a promoção da atividade sindical: “No meu modesto entendimento a bastonária tem violado esta disposição”, disse o primeiro-ministro, que também admitiu fazer “comunicar às autoridades judiciárias os factos apurados”. Segundo Costa, a greve dos enfermeiros tem um “efeito cruel sobre os doentes”
A bastonária respondeu que a Ordem dos Enfermeiros está “de consciência tranquila”: “De há três anos para cá temos cumprido escrupulosamente aquilo que é a lei que nos criou. Nos primeiros artigos diz que os desígnios fundamentais da Ordem dos Enfermeiros não são só a proteção dos cuidados prestados às pessoas, mas também a defesa da profissão e da dignidade profissional. Não ultrapassámos as nossas competências de regulador profissional”, garante.
Questionada sobre se não está a incitar à greve ao anunciar, através do Facebook, que fez uma contribuição para o crowdfunding ligado ao protesto, Ana Rita Cavaco nega: “O dinheiro é meu. Estou a apoiar a greve. É minha obrigação enquanto bastonária estar ao lado da minha classe profissional naquilo que é justo”. De resto, a bastonária sublinhou que “não pode haver dois pesos e duas medidas”: também António Costa usou um crowdfunding para obter dinheiro para a campanha para a Câmara Municipal de Lisboa em 2013, recordou.
Em declarações à SIC Notícias, António Costa admitiu a hipótese de recorrer à requisição civil caso os serviços mínimos não sejam garantidos nos hospitais: “Nós não queremos uma escalada de tensão”, afirmou, mas estão em cima da mesa “os meios legais que forem possíveis e necessários” para colmatar os efeitos da greve. Ana Rita Cavaco diz que não é preciso chegar a tanto. Depois de recordar que uma requisição civil não acontece desde 1976, a bastonária garante que “não chegou à Ordem nenhuma denúncia” de que os serviços mínimos tinham sido violados em algum hospital do país. Se foram “tem de ser apurado”, diz.
Estas declarações chegam no mesmo dia em que o Ministério da Saúde reiterou que os sete centros hospitalares afetados pela greve cirúrgica estão a cumprir os procedimentos estabelecidos pelo Acórdão do Tribunal Arbitral, relativos aos serviços mínimos. O comunicado do governo é uma resposta ao anúncio da Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE), um dos sindicatos que convocou a greve, de que ia pedir à Procuradoria-geral da República (PGR) uma averiguação às suspeitas de tentativa de boicote à greve por parte do Ministério da Saúde.