Uma sala da morte high-tech, abusos sexuais a menores de idade, pagamentos milionários a políticos, inimigos enterrados vivos e muitos homicídios. O julgamento de El Chapo, um dos maiores narcotraficantes do México, que está a ser julgado em Nova Iorque por uma dezena de crimes e que esta terça-feira foi considerado culpado pelo júri, está a trazer a lume as práticas de Joaquín Guzmán nos últimos anos — que o poderão condenar a uma pena de prisão perpétua.

De acordo com a BBC, uma das testemunhas ouvidas em tribunal revelou como o narcotraficante, hoje com 61 anos, mantinha uma sala numa mansão no México com equipamento de ponta, destinada a assassinar os seus inimigos de forma limpa e eficaz. A sala, forrada a azulejos brancos, tinha isolamento acústico para impedir a saída de sons.

El Chapo considerado culpado de todos os crimes de que está acusado

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Outra testemunha revelou que El Chapo violava crianças de 13 anos com frequência, depois de as escolher por um catálogo de fotografias enviado por uma mulher. O traficante pagava cerca de 4,5 mil euros por cada menina, que era enviada pela mulher, conhecida como “Comadre Maria”, para as montanhas onde El Chapo se escondia. O traficante drogava-as e violava-as, e dizia que as menores eram as suas “vitaminas”, essenciais para lhe “dar vida”.

A BBC revela também que uma das testemunhas ouvidas em tribunal contou que El Chapo pagou uma quantia de 100 milhões de dólares (88,5 milhões de euros) ao presidente do México, Enrique Peña Nieto, para que as autoridades mexicanas deixassem de o procurar. De acordo com a testemunha, o pagamento foi feito depois de o presidente mexicano ter pedido 250 milhões de dólares ao traficante. Peña Nieto tem negado este pagamento.

Aliás, El Chapo manteria mesmo um fundo de 50 milhões de dólares (44,3 milhões de euros) para comprar o silêncio de líderes policiais.

Outro episódio relatado em tribunal foi o de que vários ex-integrantes do cartel de Sinaloa, que El Chapo liderava, que se juntaram a um cartel rival, foram espancados e enterrados vivos pelo próprio Guzmán, depois de terem sido atirados ao fogo.

As testemunhas deram conta ainda da riqueza do narcotraficante, que ostentaria armas de fogo ornamentadas com diamantes, teria um iate privado, um jardim zoológico na sua mansão e várias casas em diferentes lugares do país.

No julgamento foram ouvidas mais de 50 testemunhas, incluindo 14 ex-elementos do cartel de tráfico de droga liderado por El Chapo. O mexicano ia acusado de dez crimes, nomeadamente tráfico de drogas para os Estados Unidos, posse ilegal de armas e lavagem de dinheiro, e foi considerado culpado de todos esses crimes.

El Chapo já esteve preso em prisões de alta segurança no México, mas conseguiu fugir — a sua fuga da prisão é, aliás, um dos momentos mais conhecidos da sua vida. Foi extraditado em 2017 para os Estados Unidos. Se for condenado, deverá passar o resto da vida numa prisão de alta segurança norte-americana.