Ricardo Araújo Pereira (RAP) é um dos visados na queixa do juiz desembargador Joaquim Neto de Moura, que pretende processar jornalistas, humoristas e políticos que, diz, atentaram contra a sua honra. Em resposta, RAP disse ao jornal Público — apesar de o Observador ter tentado contactá-lo sem êxito — que iria continuar a falar sobre Neto de Moura, uma vez que esse é o seu trabalho: “Ele tem o direito de se sentir ofendido, eu tenho o direito de dizer coisas que potencialmente o ofendem. Há pessoas que acham que têm o direito a não ser ofendidas”.
Este sábado à noite, na sequência do programa “Governo Sombra”, onde participaram também Carlos Vaz Marques, Luís Aguiar-Conraria e João Miguel Tavares, o humorista cumpriu a promessa:
Eu gostava de estar cinco minutos numa sala escura com o juiz, só para termos uma conversa sobre o que constitui violência a sério. (…) Eu não sei se este juiz não precisava de cinco minutos comigo, acho que eram pedagógicos e até medicinais. Mas depois, se calhar, [precisava de] um internamento numa sala toda ela almofadada”.
Ricardo Araújo Pereira referia-se às polémicas decisões do juiz desembargador tendo em conta os casos de violência doméstica que lhe passaram pelas mãos.
Em causa estão dois acórdãos do magistrado do Tribunal da Relação do Porto, ambos em casos de violência doméstica. No primeiro, o juiz desvalorizou um episódio grave de violência dos dois homens, dando como exemplo o apedrejamento de mulheres adúlteras, que, diz, é ordenado na Bíblia. No segundo, retirou a pulseira eletrónica a um homem que rebentou o tímpano da mulher ao soco por entender que os colegas da primeira instância não fundamentaram bem a decisão — e acrescentando um parágrafo no qual alertava para o facto de, agora, uma normal discussão já ser tratada como violência doméstica, deixando o homem invariavelmente numa situação de fragilidade.