A explicação de Miguel Morgado pode parecer demasiado genérica, mas o deputado garante que esta plataforma não vai além disto: “O movimento nasceu para ser um espaço de reflexão ideológica sobre aquilo que deve ser a direita em Portugal“. Não tem objetivos políticos nem pretende ser um espaço de auto-promoção. “Reconheço que por ter mostrado disponibilidade para liderar o PSD haja pessoas que possam fazer essas leituras. Mas estão erradas”, assegura ao Observador. Funcionará como um think-tank que se reunirá para discutir a “política pela política” juntando “pessoas e forças da área não-socialista”. Um formato a que Portugal não está habituado, mas que pretende afirmar-se como um dos centros ideológicos da direita e não, garante, como a ante-câmara de qualquer candidatura.

Além de figuras sociais-democratas e independentes, o Movimento 5.7 junta pessoas de diferentes partidos da direita portuguesa. Do CDS ao Aliança passando pelo Iniciativa Liberal, Miguel Morgado pretende juntar as várias correntes para dar músculo e credibilidade a esta plataforma. “As pessoas participam em nome pessoal e não para representar qualquer partido”, diz Morgado. Uma afirmação que Cecília Meireles, vice-presidente do CDS e integrante do movimento, corrobora. “Era o que faltava não poder pensar na política fora do meu partido”, diz de forma taxativa.

O CDS entra neste movimento em força. Além de alguns militantes menos mediáticos, os centristas estão representados por três dirigentes: Cecília Meireles, João Almeida, porta-voz do partido, e Ana Rita Bessa, que faz parte da Comissão Executiva e vai dirigir a campanha de Cristas às Legislativas. “Este é um movimento de pessoas que não se reveem nesta governação, algo que naturalmente atrai várias pessoas do CDS”, explica a vice-presidente dos centristas.

Questionada sobre se houve algum tipo de concertação na participação do CDS no movimento (que é encabeçado por um putativo desafiador da atual liderança do PSD), Cecília Meireles assegura que todos os membros do partido presentes na plataforma o fizeram “exclusivamente em nome pessoal“. “É importante que fique claro que se trata de um espaço de pensamento ideológico e não de um espaço de ação política”, esclarece.

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Esta é precisamente a mesma versão que Ana Rita Bessa apresenta ao Observador. “Os convites para participar foram pessoais e fomos descobrindo em conversas casuais que havia mais gente do CDS também envolvida“, revela. Segundo a deputada, “nunca houve uma estratégia definida” para determinar de que forma é que o partido iria integrar o movimento. “Naturalmente, falei com Assunção Cristas, mas apenas para lhe dar nota do convite” e não para “pedir autorização ou concertar uma tática”, adianta.

Ana Rita Bessa é uma figura em quem Assunção Cristas confia e que puxou para o seu núcleo duro. Por isso, a deputada sentiu necessidade de esclarecer os moldes em que que o convite foi feito e com que intenções o aceitou: “Nunca a Assunção [Cristas] iria interferir numa decisão pessoal, mas havia necessidade de clarificar que este é um espaço ideológico e não político“, entende.

Recusa ainda a possibilidade de o CDS, com a participação de figuras de relevo da sua estrutura, poder estar a dar o seu patrocínio a uma plataforma que funcione para colocar Miguel Morgado numa posição privilegiada para suceder a Rui Rio na liderança do PSD. “Creio que o objetivo não é esse, mas sim juntar pessoas que se reveem numa ideologia de direita e que esteja disposta a marcar a sua contra-posição a esta governação”, afirma Ana Rita Bessa. “No dia em que este pressuposto se alterar retirarei as minhas conclusões“.

Um discurso que volta a alinhar-se com Cecília Meireles, que defende que o CDS não pode ser associado a movimentações que dizem respeito à vida interna do PSD. “No dia em que achar isso saio”, afiança.

Também João Almeida considera que as intenções deste movimento são as de “refundar a direita e atingir um certo equilíbrio no pensamento político e social à direita”, diz ao Observador. Ver nesta plataforma uma pré-candidatura à presidência do PSD ou uma forma de apoio da estrutura do CDS é, para o porta-voz centrista, “um erro”. “As relações de partidos não têm de ser afetadas por participações pessoais e individuais em plataformas deste género”, considera.

À semelhança de Ana Rita Bessa e de Cecilia Meireles, João Almeida assegura que “não houve nenhuma coordenação partidária na participação neste movimento. Participo apenas em nome individual”, explica.

Versão não convence todos os centristas… nem a esquerda

Miguel Morgado espera que se olhe para esta espécie de clube de pensadores de direita sem as bitolas partidárias e sem procurar segundas intenções. “Têm tentado encaixar isto numa ótica partidária. Mas isto é um movimento de discussão ideológica e não político-partidária. Fazer isso ou ver aqui taticismos pessoais não podia estar mais longe da realidade”, reforça.

Uma garantia que entronca no espírito de participação dos dirigentes do CDS neste movimento, mas que não convence todos os centristas. Um dirigente do partido, que não se quis identificar, explica ao Observador que “este tipo de decisões são tipicamente tomadas numa lógica mais global, numa estratégia com objetivos”. Quais? “Isso já não consigo dizer. Mas duvido de que não tenha havido uma coordenação“.

A suspeita vem de uma figura que conhece bem o modus operandi da direção. “Desde quando é que, no CDS, três dirigentes tão destacados participavam sem coordenação da líder?”. Se não fosse assim, “seria um erro de autoridade da própria Assunção Cristas”, remata.

Mas o promotor do Movimento 5.7 espera que não haja leituras abusivas até para não deturpar o ambiente em que este think-tank foi criado. “Não pretendo que este movimento interfira na vida de nenhum partido”. Independentemente de futuros planos quanto à liderança do PSD, Miguel Morgado garante que não trouxe o 5.7 para a ribalta com o objetivo de procurar apoios que possam vir a ser úteis no futuro.

As movimentações à direita são acompanhadas com interesse moderado pelo campo político oposto. À esquerda, olha-se para este movimento como uma tentativa de afirmação de uma corrente mais liberal e em concreto de uma espécie de promoção de um proto-candidato a líder do PSD no pós-Rio. “A única preocupação pode ser o facto de a extrema-direita começar a ser normalizada junto dos grandes partidos da direita”, diz uma fonte do Bloco de Esquerda. Algo que Miguel Morgado assegura que não vai acontecer. “As forças extremistas são excluídas logo à partida pelos princípios que defendemos”, conclui.