Esta não foi a primeira vez que Luca Zidane jogou pela equipa principal do Real Madrid. Esta não foi sequer a primeira vez que Luca Zidane jogou pela equipa principal do Real Madrid com o pai, Zinedine, sentado no banco. Mas esta foi a primeira vez que Luca Zidane jogou pela equipa principal do Real Madrid no Santiago Bernabéu, o sítio onde tantas vezes viu o pai jogar com a camisola merengue, onde assistiu a tantas conquistas a partir da bancada e onde o apelido que carrega nas costas é bem mais do que um nome estrangeiro.

A verdade é que Luca nem sequer foi o primeiro dos filhos de Zidane a estrear-se com a camisola do Real Madrid. Enzo, o filho mais velho do treinador merengue, realizou um jogo a contar para a Taça do Rei em novembro de 2016, ainda no primeiro ano de Zidane ao leme do Real, e até marcou um golo ao modesto Cultural Leonesa na goleada por 6-1. Enzo, porém, não foi além dessa partida, saiu para o Alavés, representou os suíços do Lausanne-Sport e agora, aos 24 anos, está emprestado ao Rayo Majadahonda da Segunda Liga espanhola. Luca, por seu lado, estreou-se pela equipa principal no último jogo da temporada 2017/18, um empate em casa do Villarreal, permaneceu indiscutível na equipa B merengue e agora voltou a ser opção. Mas esta está longe de ser a única diferença entre Luca e o irmão mais velho.

Em fevereiro de 2007, com apenas nove anos, a assistir a um combate de boxe com o pai, que na altura já tinha terminado a carreira

Luca, que este domingo foi o dono da baliza do Real Madrid na vitória caseira dos merengues frente ao Huesca, é o segundo dos quatro filhos de Zidane. Com 20 anos, subiu pela formação do clube espanhol desde os seis anos, altura em que ingressou na academia blanca porque o pai era jogador do Real. Integrou-se, fez amigos e até descobriu um quarto “irmão”, o marroquino Achraf Hakimi, atualmente emprestado ao Borussia Dortmund, que é quase parte da família. Até aqui, nada de anormal: Enzo, Luca, Theo e Elyaz, os quatro filhos de Zidane e da mulher Véronique, começaram as respetivas carreiras no futebol nas camadas jovens do Real Madrid. Mas Enzo e os dois irmãos mais novos são médios, assim como o pai — Luca, desde muito novo, decidiu que o seu futuro passava pelas balizas, pelas luvas e pelas redes e não pelos passes a rasgar ou pela organização do jogo. Nunca foi outra coisa que não guarda-redes e nunca se mostrou muito preocupado com o legado que carrega no documento de identificação, até porque optou por carregá-lo também nas costas.

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Os costumes espanhóis, ao contrário dos portugueses, indicam que o apelido da mãe é o último do nome completo de uma criança. O último nome de Enzo, Luca, Theo e Elyaz é, por isso mesmo, Fernández, o apelido da mulher do antigo internacional francês. Mas enquanto Enzo decidiu fugir à pressão de ser o filho mais velho de um campeão do mundo e da Europa e de um dos melhores jogadores do final do século XX e início do século XXI e apresentar-se apenas com o nome próprio, Luca optou por encarar a realidade tal como ela é e nunca quis ser conhecido por qualquer outro apelido que não Zidane.

No final do encontro deste domingo, em que Luca sofreu um golo mas surpreendeu com um passe longo à procura de Brahim Díaz que já não é usual ver no futebol atual, Zidane justificou sem justificar a opção pelo próprio filho para defender a baliza do Real Madrid contra o Huesca. “É o terceiro guarda-redes, o Courtois não estava disponível e o Keylor veio da seleção, precisava de um pouco de descanso. Dei minutos a outro guarda-redes. O Luca não jogou por ser meu filho. Lancei um jogador do Real Madrid. Em casa vamos falar, mas achei que era uma boa oportunidade. Penso que esteve bem, tem caráter e personalidade. Está na formação do Real há 16 anos e isso quer dizer muito. Não vou falar como pai, interessa-me falar como treinador. Não tem medo e isso agrada-me. Quando é assim, merecem jogar”, garantiu o técnico francês, que somou a segunda vitória em dois jogos desde que regressou ao leme dos merengues para substituir Solari.

Luca já tinha sido lançado pelo pai n final da temporada 2017/18 mas nunca tinha jogado no Santiago Bernabéu

O guarda-redes de apenas 20 anos, que é internacional pelas camadas jovens da seleção francesa, esteve perto de deixar Madrid quando o pai se demitiu de forma surpreendente do comando técnico da equipa principal, no final de maio do ano passado, mas acabou por permanecer ao serviço da equipa B dos merengues. O futuro de Luca, agora que voltou a jogar entre os crescidos, deve passar por uma de três hipóteses: a integração na equipa principal enquanto terceiro guarda-redes, atrás de Courtois e Keylor Navas; a continuidade na equipa B em cenário de subida à Segunda Liga, para ganhar experiência num escalão mais competitivo; ou a saída a título de empréstimo ou de forma definitiva. Mais longe estão as opções de ficar na equipa B sem a subida ou ser promovido a segundo guarda-redes da equipa principal, tendo em conta o peso de Courtois e Navas no plantel (e o eventual regresso de Lunin, emprestado ao Leganés). Depois de uma formação inteira vestido dessa cor, Luca Zidane tem agora um futuro em branco.

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