A visita no final do passado mês de abril, publicitada pelo próprio Paddy Cosgrave, fez levantar algumas sobrancelhas. O fundador da Web Summit veio mais uma vez a Portugal e revelou, a 29 de abril, que o intuito da visita passava por visitar “espaços ao ar livre” que pudessem acolher grandes eventos e feiras “fora da semana da Web Summit”, pedindo às pessoas para imaginarem que Lisboa teria “um centro de conferências inteiramente novo”.
Afinal, a procura por terrenos terá tido outra motivação, revela o semanário Expresso: o impasse nas negociações entre Câmara Municipal de Lisboa e a dona da FIL – Feira Internacional de Lisboa (Fundação AIP) sobre o plano de ampliação do espaço nos próximos anos. Este impasse pode colocar em risco a realização da conferência na FIL, não neste ano mas no futuro, aponta ainda aquele semanário.
Para garantir a continuidade em Portugal da Web Summit, uma das maiores conferências anuais de empreendedorismo e tecnologia do mundo, as autoridades públicas portuguesas — nomeadamente o Governo e a Câmara Municipal de Lisboa — comprometeram-se com a ampliação da FIL, onde o evento decorre desde 2016. Essas obras fariam com que o recinto passasse dos atuais 41 mil metros quadrados para 90 mil metros quadrados de exposição permanente até 2021. Este compromisso foi feito com a concordância da Fundação AIP, que é proprietária do espaço de conferências lisboeta, garante a CML. No entanto, essa ideia pode estar em risco.
Em causa está um alegado “braço de ferro” entre o presidente da autarquia, o socialista Fernando Medina, e Jorge Rocha de Matos, presidente da Fundação AIP. Embora as negociações continuem a decorrer, fala-se nos bastidores em “ambiente a ferro e fogo”, diz o Expresso.
As divergências passam pelo plano de ampliação da FIL. A CML até estava disposta a pagar as obras, mas queria — além de definir os prazos e o grau do alargamento — que o seu investimento fosse “convertido em capital social da Fundação AIP”, ficando a “mandar” na FIL (segundo o semanário). O valor não é revelado oficialmente, até porque dependeria “do acordo quanto à dimensão do projeto, da participação da Fundação AIP ou de outra entidade”, mas uma “fonte conhecedora” apontou um valor ao Expresso: 30 milhões de euros.
https://observador.pt/videos/atualidade/um-cafezinho-e-um-pitch-ou-como-vender-uma-ideia-em-30-segundos/
As pretensões da autarquia estarão a esbarrar nas pretensões da Fundação AIP, dona da FIL, que quer um plano de ampliação mais longo, mais caro e em moldes distintos. Jorge Rocha de Matos, que preside à AIP, prefere que a câmara lisboeta funcione como “garante de um empréstimo” a contrair pela Fundação junto da banca, em vez de pagar diretamente as obras. A preferência dever-se-á, desde logo, à vontade de que a CML não fique a mandar na FIL. Mas não só: a AIP quer que a dimensão FIL aumente não para 90 mil metros quadrados de exposição permanente, mas para 111 mil metros quadrados. Os custos estimados são também muito maiores — 150 milhões de euros — e as obras deveriam ficar concluídas em “dez anos”.
A visita de Paddy Cosgrave a Portugal terá, por isso, funcionado também como “ponderação de locais alternativos” para a realização na Web Summit, caso a CML e a dona da FIL não cheguem a acordo. Já se terá discutido a possibilidade da realização da Web Summit na Foz do Trancão, localizada entre os concelhos de Lisboa e Loures — por reabilitar a curto prazo, já que serão ali realizadas as Jornadas Mundiais da Juventude daqui a dois anos —, e num “espaço junto à Feira Popular, em Carnide”. Num ou noutro espaço, teria de ser instalado um novo centro de exposições, que poderia receber a Web Summit e “outros certames”. Também se terá discutido a possibilidade Pedrouços, entre Lisboa e Oeiras, mas a opção foi entretanto descartada. Fonte da CML confirmou ao Expresso que “alguns dos locais [visitados por Paddy Cosgrave] foram esses”.
Este ano e no próximo ano, está previsto que a FIL aumente a sua dimensão de 41 mil metros quadrados de exposição permanente para 53 mil metros quadrados, a que se deverão somar 18 mil metros quadrados de “área de exposição temporária”.
Além de garantir a existência de um espaço com as dimensões exigidas pela organização da Web Summit, o governo e a autarquia lisboeta comprometeram-se a investir 111 milhões de euros (11 milhões de euros por ano) para manter a feira de empreendedorismo e tecnologia em Portugal. O financiamento público virá do Turismo de Portugal, IAPMEI – Agência para a Competitividade e Inovação, I.P. e Fundo de Desenvolvimento Turístico de Lisboa (alimentado pelas receitas geradas pela taxa turística paga por quem visita a capital portuguesa).