Sapatos e chinelos, sacos, milhares de garrafas de plástico e escovas de dentes. No total, são 414 milhões os pedaços de plástico que cientistas estimam estar a devastar as remotas ilhas Cocos (Keeling), no Oceano Índico. O peso total do lixo encontrado ascenderá a 238 toneladas, de acordo com um estudo publicado na revista Nature.

O arquipélago, localizado a 2.100 quilómetros a noroeste da Austrália, é composto por 26 pequenas ilhas, das quais apenas duas são habitadas por cerca de 600 pessoas. Cientistas trabalharam em sete das ilhas do “último paraíso por explorar da Austrália” e estudaram as suas 25 praias. O estudo conclui que 95% do lixo encontrado é plástico. Os cientistas, liderados por Jennifer Lavers, do Instituto de Estudos Marinhos da Universidade da Tasmânia, alertam para a poluição nos oceanos e para a cada vez mais crescente tendência para o uso de materiais descartáveis.

“A poluição de plástico nos oceanos é uma constante, e ilhas remotas como estas são o local ideal para obter uma visão do volume de lixo que circula no mundo”, diz Lavers. “Ilhas como estas são como canários em ilhas de carvão e é urgente que tomemos medidas com base no que isto nos diz”, acrescenta a investigadora.

A investidora, Jennifer Lavers, entre os detritos encontrados nas ilhas

O lixo encontrado nas ilhas inclui 977.000 sapatos, 373.000 escovas de dentes e ainda milhares de palhinhas e sacos. Os investigadores dizem que seriam precisos 4.000 anos para a comunidade local das ilhas produzir a mesma quantidade de lixo.

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Os cientistas mostram-se particularmente preocupados com a quantidade de lixo encontrada enterrada na areia, até 10cm de profundidade. A equipa estima que 93% do lixo presente nas ilhas está atualmente enterrado no solo, sendo esta quantidade 26 vezes superior ao lixo visível nas praias das Cocos. Acresce que os valores apresentados pelos cientistas são conservadores. A equipa estima que haja ainda mais lixo por encontrar nas ilhas, em locais aos quais não foi possível aceder.

Nas Cocos, os habitantes locais, cerca de 600, têm tido dificuldades em encontrar um aterro adequado para o lixo, ou formas de se livrarem deste. Ao mesmo tempo, a poluição na zona está a afetar o turismo, a principal fonte de rendimento da comunidade.

A equipa refere que, hoje, o plástico “enche” mares e oceanos devido a falhas no sistema de controlo de lixo. Um estudo publicado em 2014 no jornal Plos One indica que há de facto mais plástico no oceano que estrelas na via láctea. Jennifer Lavers afirma ainda que o mundo “subestimou drasticamente” a escala do problema da poluição do plástico.

O lixo estende-se ao interior das ilhas

Com os dados divulgados pelo estudo, a investigadora da Universidade da Tasmânia espera alertar as pessoas para a necessidade de abordar imediatamente o problema da poluição do plástico.

“A minha esperança é que o caso das Cocos faça as pessoas verem-se a si próprias no lixo que encontram nas praias”, disse a responsável pelo estudo.

“Infelizmente, a situção das ilhas Cocos não é única”, aponta o relatório do estudo. “Há registo de quantidades significativas de lixo em ilhas e zonas costeiras do Ártico e na Antártica. Estas ilhas refletem sintomas de um perigo ambiental que está a crescer”, continua o documento. Jennifer Lavers já tinha levado a cabo um estudo que recuperou 38 milhões de plásticos na ilha deserta de Henderson, no Pacífico. Na altura, o lixo encontrado estava relacionado com pesca.

Annett Finger, que também participou no estudo, lembra que a produção de plástico está em constante crescimento. O plástico produzido desde 2006 corresponde a quase metade da quantidade produzida nos últimos 60 anos, de acordo com o The Guardian.

“Só em 2010, entraram nos oceanos 12.7 milhões de toneladas de plástico”, alertou Finger, da Universidade de Victoria.  “A escala do problema não nos permite limpar os oceanos. E limpar as praias leva tempo e é dispendioso, quando milhares de novos detritos dão à costa todos os dias”, diz Finger.

Hoje, estima-se que haja 5.25 triliões de plásticos a flutuar nos oceanos.

Um mergulhador chegou ao local mais profundo da Terra. E encontrou plástico