Foi descoberta em São Pedro da Cova, concelho de Gondomar, uma nova espécie de planta já extinta que viveu há 300 milhões de anos, muito antes sequer de os dinossauros dominarem o planeta Terra. Annularia noronhai, assim batizada em homenagem ao geólogo português Fernando Noronha, professor recentemente reformado do departamento de Geociências da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, é um parente muito afastado da cavalinha. E foi encontrada num lote para construção no meio da cidade, na bacia do rio Douro.
Este fóssil foi encontrado numa escavação com apenas dois metros, mas de onde já foram retirados fósseis de cinco novas espécies nos últimos nove anos — duas espécies de insetos e três de plantas. Segundo Pedro Correia, o investigador da Universidade do Porto que liderou a equipa responsável pela descoberta, a riqueza da bacia do Douro em fósseis vem das condições climáticas em que essa região estava há 300 milhões de anos.
“A Península Ibérica era uma região tropical, estava muito próxima do Equador. No Douro, que era uma região intramontanhosa, havia um clima sazonal. No entanto, estávamos a atravessar uma severa alteração climática, semelhante à que hoje registamos”, começa por explicar Pedro Correia. Ora, na região onde estes fósseis foram encontrados, havia floresta muito densa e com muitas plantas — daí que haja tantos fósseis vegetais na bacia do Douro. “Nos anos setenta, 70% do carvão que utilizávamos era extraída aqui. Esse carvão resultou da acumulação da flora”, conclui Pedro Correia.
Foi exatamente à conta das alterações climáticas que Annularia noronhai se desenvolveu. Após comparar a espécie eternizada naquele fóssil com outras semelhantes, a equipa de Pedro Correia percebeu que as folhas desta nova espécie tinha evoluído para que a planta se conseguisse agarrar aos ramos das plantas vizinhas. Isso mesmo é o que está explicado no estudo assinado pelo investigador português e publicado na revista científica Historical Biology: “É distinta principalmente pelas suas folhas com forma de lança, caracterizadas por mucros [ponta que determina certos órgãos vegetais] muito alongados”.
Para determinar que estavam perante uma espécie nunca antes identificada, os cientistas tiveram de comparar este fóssil com outros já descritos na literatura em todo o mundo. “Se encontrarmos características que as espécies mais próximas não têm, então estamos perante uma nova espécie. Este processo é muito longo. Neste caso demorou nove anos a ser concluído e precisou da participação de cientistas internacionais, mais experientes”, explicou Pedro Correia.