Os números são preocupantes e já nem sequer estão atualizados: segundo o Ministério da Defesa, em 2018 havia em todos os ramos das Forças Armadas um total de 11. 369 praças, 8.738 sargentos e 6.905 oficiais — representando os militares das categorias superiores, em conjunto, 15.643. Já na Força Aérea, também em 2018, nem era preciso somar as patentes superiores: havia 1.944 oficiais e 2.620 sargentos para apenas 1.390 praças. Entretanto, nos primeiros três meses de 2019, mil militares abandonaram o Exército — 750 deles eram praças. As associações de militares dizem que situação é tão grave que deixou de fazer sentido falar em pirâmide hierárquica: a base é inferior ao topo.
Os números e as reações são revelados esta quinta-feira na edição do Jornal de Notícias: os salários baixos (auferem o rendimento mínimo) estão a afastar os soldados das Forças Armadas e a obrigar os militares qualificados e com parentes superiores a assegurarem as tarefas básicas que lhes cabiam, o que naturalmente resulta num “desequilíbrio da estrutura hierárquica”, explica António Mota, tenente-coronel da Força Aérea e presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas. “Há sargentos a fazer trabalho de praças e oficiais a fazer trabalho de sargentos, e as pessoas sentem-se desmotivadas. É muito mau”, acrescenta.
Já Luís Reis, cabo-mor da Marinha e presidente da Associação de Praças, vai ainda mais longe e avisa que, com o aumento do número de missões e o decréscimos de efetivos disponíveis, o regresso do Serviço Militar Obrigatório, é uma possibilidade cada vez mais real: “Quando as missões estiverem em causa, corremos o risco de ter de recorrer ao Serviço Militar Obrigatório. É o que está consagrado na lei e é uma consequência que já não está tão longe como isso”.
“Qualquer dia, um oficial não tem homens para comandar, toda a cadeia hierárquica está desfeita. Já não é uma pirâmide mas quase um retângulo, toda a gente está em disfunção e desmotivada”, resume António Mota.